(AO) Alguns erros na avaliação de desempenho docente

Uma reflexão sobre os factos

Apesar de se vislumbrarem análises, aparentemente válidas e sábias, onde podemos prever que o modelo em discussão de avaliação de desempenho docente (Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro) não contribui para o desenvolvimento da carreira ou que não traz vantagens para a aprendizagem dos alunos (dito desta maneira, não passam de palavras sem qualquer fundamento), nunca, mas nunca mesmo, o poderíamos provar uma vez que qualquer resultado se poderia atribuir a outro qualquer factor dos milhentos existentes.
Para complementar os textos que escrevi anteriormente (ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2008/03/ao-avaliao-de-desempenho-docente.html e http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2008/02/ao-aulas-assistidas-est-aberta-poca-do.html ) apresento a seguir alguns pontos factuais que em nada abonam este modelo (tenho a certeza que os seus mentores também concordarão). De acrescentar que sou um professor dentro deste turbilhão e que “isto” não se trata de nenhuma investigação onde a proximidade ao objecto de estudo poderia alterar a lucidez necessária (o que se poderá considerar, quando muito, é rotularem-me de agente). Já agora confesso uma coisa: não consigo ouvir seja quem for a falar dos problemas do professor se não estiver envolvido neles (“atrevem-se” até a indicar as razões desta ou daquela medida e apresentar soluções com uma firmeza surpreendente como se andassem pelas escolas todos os dias - ver: http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/12/ao-onde-esto-as-respostas.html ).
Passo a expor então alguns pontos que deitam abaixo qualquer tentativa de implementação desta avaliação:
. O actual modelo foi elaborado por pessoas que não são professores. Facilmente se constatará que ninguém conhecerá as funções e os problemas dos professores tão bem como os próprios. Começa por aqui todo este imbróglio.
.Todos os professores têm um certificado de habilitações superior. Se duvidam que algum professor não está apto para exercer a profissão, será de todo necessário começar por avaliar quem lhe deu essa acreditação académica. Entenda-se: professores do superior e as respectivas instituições.
. Neste modelo imposto poderia acontecer que professores com menor grau académico pudessem avaliar outros com mais habilitações. Eu não teria essa ousadia a não ser que se baseasse somente na observação de procedimentos (se entregou este ou aquele papel, se chegou atrasado e/ou coisinhas assim).
. Os professores avaliadores concorreriam às mesmas cotas de progressão que os professores avaliados. Sem comentários.
. Por força das relações sociais e humanas dentro da comunidade, constatar-se-ia que o avaliador seria muitas vezes “afilhado, padrinho, vizinho,… ” do avaliado.
. Sabe-se que não existem comunidades iguais, escolas iguais, turmas iguais e alunos iguais. Mesmo assim, pretendia-se que as classificações dos alunos tivessem influência no resultado da avaliação do professor. Só quem nunca deu aulas quatro anos seguidos ou alguém que nunca reflectiu sobre as mudanças dos paradigmas socioculturais, económicos e educacionais é que poderá valorizar um item destes na avaliação dos professores.
. Pelas mesmas razões do ponto anterior os motivos dos abandonos também não poderão resultar numa classificação a ser atribuída ao professor.
Parece-me então que o modelo de avaliação docente, se se pretender justo e sério, não poderá ser baseado em opiniões nem pareceres dos confrades e muito menos na observação de aulas encenadas. Parece-me ainda que uma tabela numa folha A4 seria o suficiente para avaliar as funções gerais do professor (sublinho gerais porque, forçosamente, ficaria de fora todo o investimento emotivo e financeiro – e aqui cada um de nós julga-se campeão) onde se poderiam destacar os seguintes itens:
· 1 actividade desenvolvida no PAA, 1 ponto; 2 actividades, 2 pontos (e por aí adiante);
· leccionação de 1 nível, 1 ponto; 2 níveis, 2 pontos (e por aí adiante);
· leccionação a 1 turma, 1 ponto; 2 turmas, 2 pontos (e por aí adiante);
· 1 cargo, 1 ponto; 2 cargos, 2 pontos (e por aí adiante);
· 1 acção de formação, 1 ponto; 2 acções, 2 pontos (e por aí adiante);
· …
O que se poderia discutir seria apontar quais os itens quantificáveis e o balizamento destes pontos na atribuição das classificações para progressão.

Luís Filipe Firmino Ricardo (Dez-2008)

(AO) A avaliação

Uma critica às contradições de uns e de outros
O processo de avaliação dos professores encontra-se numa grande confusão, em que todos os protagonistas - ministério, sindicatos e professores - tentam, de algum modo, salvar a face. A ministra, que até aqui parecia um muro de betão armado, começa a dar sinais de evidente recuo, ao aligeirar, desarranjadamente, aquilo que apresentou como um projecto final. Acontece que as alterações propostas implicam, neste momento, uma confusão acrescida, em que o que era obrigatório antes, se tornou agora alternável, assim como varia - e de que maneira - o grau de importância de certos procedimentos. Ora, tudo isto nos faz reflectir sobre a efectiva capacidade da gente que gravita nos corredores do ministério da educação. A mim, pessoalmente, nunca me enganaram, ao contrário do que se passou com a maioria dos comentadores políticos da nossa praça, que sempre vislumbraram em Maria Lurdes Rodrigues uma espécie de D. Sebastião de saias. Alguns ainda resistem no panegírico. Mas estou em crer que esse (apesar de tudo) parco clima laudatório que ainda subsiste tem mais a ver com o desconhecimento do processo educativo. O regozijo com que a Ministra e Secretários de Estado se manifestaram relativamente à subida da média nacional de algumas disciplinas é exemplo da maneira como a educação é encarada. É que ninguém pode acreditar que, de um ano para o outro, a "reforma" (naturalmente entre aspas) começa a dar resultados palpáveis. Em educação, qualquer processo transformador tem que aguardar alguns anos (um ciclo de estudos?) para que os somatórios se possam espelhar num quadro comparativo. O PISA 2009 está aí à porta e, ou muito me engano, ou vamos ter uma grande decepção.Por outro lado, os sindicatos não estão, neste momento, numa situação melhorada. Vieram agora com a exigência (normal e aconselhável) de suspender o processo de avaliação, ao mesmo tempo que propõem uma espécie de documento de auto-avaliação, o qual será acompanhado pelo conselho pedagógico. Dizem eles que é "uma solução simples, não administrativa e focada na vertente pedagógica que permita aos docentes serem avaliados este ano". Pois está visto que sim. Simples até demais. Na verdade, mais simples do que o que existia até então. A mensagem desta proposta não pode ter vindo na pior altura. Bastava aos sindicatos afirmarem desavergonhadamente, o seguinte: nós propomos reconstrução da avaliação que existia. Ponto final. Seria, portanto, a base de trabalho de um novo processo de avaliação. O que agora os sindicatos alvitraram é pior do que existia. A situação a que se chegou é, pois, caricata: de um lado, o ministério a remendar o que, concludentemente, sugeriu; do outro, o sindicato a inventar, aligeirando ainda mais o modelo que existia. Dito de outra maneira, ambos estão presos às suas próprias irredutibilidades.

José Ricardo (Nov-2008)

(AO) Analfabeto? Eu!? (2)

Continuação da colagem à politica educativa no que respeita ao reconhecimento e validação de competências

Tenho recebido vários mail´s com “piadolas” relativamente à facilidade com que se obtém actualmente uma acreditação académica. Ora bem! Comecemos pelos cursos superiores. “Lá fora” também são de 3 anos. Porque razão chegará para “eles” e não chega para nós? Não nos esqueçamos que antes dos 3 anos existem 12 anos de escolaridade perfazendo um total de 15 anos de estudos para se obter uma acreditação superior. Sabemos que há 30 anos (e mais) não seria preciso tanto tempo para se ser “senhor doutor” com a pompa e ostentação que, felizmente, já não existe.
Prosseguindo: parece-me que qualquer cidadão que prove possuir as competências dum determinado currículo lhe deve ser passado, sem qualquer tipo de receio, a correspondente certificação académica mesmo sem frequência de aulas. Todos conhecemos pessoas com uma cultura invejável (sobretudo as mais velhas com uma grande experiência profissional) e que, por razões de vária ordem, não tiveram a frequência escolar correspondente. E todos conhecemos pessoas que tiveram uma regular frequência escolar e pouco demonstram saber (sobretudo os mais novos). Seria uma injustiça as primeiras serem obrigadas a percorrer todos os degraus da escola, com o actual ritmo de vida existente, para obter a certificação que justificam e merecem.
Este sistema de reconhecimento e validação de competência permite também melhorar as estatísticas que são apontadas, injustamente pelos críticos, como sendo a única razão da sua existência. Será de toda a justiça reconhecer que agora existem muitos mais meios de aprendizagem além da escola. A escola já não tem o monopólio do saber e tem também uma concorrência sem paralelo, a começar pela internet e pelo acesso facilitado às publicações científicas. E, sabemos ainda, que temos muitos professores (onde eu me incluo) que não acompanharam esta evolução tecnológica com a formação que seria desejável para poder fazer face a um novo paradigma tecnológico com a correspondente exigência dos alunos e da sua grande receptividade a este modelo. Assim, quando se diz que os “portugueses querem aprender mais”, não é de todo verdade, pois parece-me que não é este o motivo principal que os leva a inscrever-se nestes programas. Neste seguimento, também não concordo com a actual designação de alguns cursos como, por exemplo, Educação e Formação de Adultos (EFA), pois o candidato a uma certificação não vai ser formado (numa perspectiva profissional) nem, muito menos, receber educação (numa perspectiva de um melhor conhecimento das regras gerais de cidadania). Poderá, quando muito, receber alguma instrução escolar e desejar que lhe atribuam o “canudo”.
Como já referi num dos textos anteriores citando António Teodoro, que por sua vez cita Durkheim, a escola tem duas funções gerais: a socialização e a acreditação. Sendo assim um cidadão integrado com um normal sucesso na sociedade e no seu local de trabalho, não necessitará que o socializem. Só precisará que a escola lhe atribua um certificado que comprove os conhecimentos que adquiriu com a sua experiência profissional. E esta certificação tem vantagens a todos os níveis que vão muito para lá da melhoria das estatísticas: mais valorização cultural, mais confiança, mais receptividade à mudança, mais dignidade, mais segurança no que respeita à continuidade cultural dos descendentes, mais estatuto social, mais igualdade, mais destreza, mais desenvolvimento económico, …
Todos, sem excepção, adquirem ao logo de uma vida conhecimentos únicos que poderão e deverão ser validados. E não há mal nenhum em sermos todos “doutores”. Quem se incomodará?

Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)

NOTÍCIAS

Sempre que esbarrar com as mais curiosas, publico-as de imediato nesta separata. Procurarei condensá-las o mais possível e indicar a sua fonte. Assim, além dos textos publicados no início de cada mês, esta revista será actualizada mais frequentemente aqui neste espaço.

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No programa da RTP1 da jornalista Judite de Sousa a Ministra da Educação disse claramente que “O modelo [de avaliação de desempenho docente] continha erros técnicos (…) as escolas não estavam preparadas para os implementar (…) agora está simplificado”.
RTP1 (20-11-2008)
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“Manuela Ferreira Leite disse esta terça-feira que mais vale suspender por uns meses a democracia para se poder fazer todas as reformas necessárias e só depois, então, repô-la”.
JN on-line (19-11-2008)
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“Foi só para fotografia. Em dia de visita do primeiro-ministro para as inaugurações dos centros escolares de Freixo e Refoios, no concelho de Ponte de Lima, 260 alunos foram expostos nas salas de aula, sentados à frente daquele que seria o seu computador 'Magalhães'. Só que, logo após as cerimónias da passada quarta-feira, os pequenos portáteis foram recolhidos e encaixotados”.
CM on-line (18-11-2008)
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(AC) Analfabeto? Eu!? (1)

Uma colagem à politica educativa no que respeita ao reconhecimento e validação de competências
Este texto pretende provocar uma reflexão em torno da alfabetização no que concerne às suas transformações conceptuais e à sua relação com a necessidade, e importância, de se acreditarem os conhecimentos adquiridos na chamada educação informal. Centrar-me-ei numa visão global e nas vantagens que a sociedade obtém com um paradigma educacional aberto e promocional para todos. Abordarei, assim, os conceitos relacionados e a correspondente delimitação. Seguidamente tentarei falar das suas vantagens.
Considerando-se o conceito tradicional de analfabeto como aquele que não sabe ler nem escrever numa idade superior a 10 anos (é de todo necessário uma delimitação, caso contrário poderão acontecer resultados enviesados como no caso dos censos da Finlândia há dois séculos onde apresentaram, admiravelmente, 98% de alfabetizados) e considerando-se que, com toda a certeza, cada vez existem menos, pois, situam-se sobretudo numa idade avançada e actualmente poucos são os que não frequentam o 1º ciclo, importa então avançar com uns conceitos mais actuais: analfabetismo funcional ou iliteracia. Um iletrado poder-se-á considerar todo aquele que não é capaz de utilizar as habilidades necessárias no dia-a-dia. Podemos então dizer que o rótulo de iletrado depende da perspectiva de quem observa. Por exemplo, existe uma comunidade de agricultores na África (Sahel) onde poucos sabem ler e escrever (analfabetos tradicionais, portanto) mas revelam uma excelente comunicação oral e uma excelente capacidade de cálculo matemático respondendo muito bem às suas necessidades da vida quotidiana. Ou seja podem ser considerados analfabetos, segundo um conceito redutor, mas que tiveram as suas aprendizagens através de um ensino informal, paralelo ao ensino formal, que lhes garantiu todas as ferramentas necessárias para ter uma vida de sucesso naquela sociedade.
Assim, chegámos a uns paradoxos que convém esclarecer: podemos ter um analfabeto (não sabe ler nem escrever) mas não ser iletrado (domina as habilidades necessárias no dia a dia) e podemos ter um alfabetizado que é iletrado.

Referência bibliográfica
FONTES, Irene, e GRAÇA, Teresa (org.) – Alfabetização. Cadernos de Formação nº 2. Núcleo de Educação Recorrente e Extra-Escolar. Departamento de Educação Básica. Lisboa 1997

Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)

(AC) Um pouco de “eduquês”

Um glossário dos termos mais usados nas ciências da educação e na investigação educacional

Notei neste meu percurso pelos caminhos das ciências da educação que existem muitos termos que não são entendidos da mesma forma por todos. Assim, para de algum modo tentar ajudar a clarificar alguns, decidi elaborar a tabela seguinte. Convém no entanto ler primeiro o texto em http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/10/objecto-objectos-objectivos-metodologia.html .


Bibliografia referenciada
· CARMO, Hermano; FERREIRA, Manuela M. - Metodologia da Investigação - Guia para Auto-aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta, 1998
· CUNHA, Miguel P.; REGO, Arménio – Liderar. Lisboa: Dom Quixote, 2005
· NÓVOA, António (org.) – Profissão Professores. Porto: Porto Editora, 1991
· SECO, Graça M. S. Batista – A Satisfação dos Professores – Teorias, Modelos e Evidências. Porto: Edições Asa, 2002
· TEIXEIRA, Manuela – O Professor e a Escola – Perspectivas Organizacionais. Amadora: McGraw-Hill, 1995
· VIEIRA, Ricardo – Ser Igual, Ser Diferente – Encruzilhadas da Identidade. Porto: Profedições, 1998

Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)

NOTÍCIAS

Sempre que esbarrar com as mais curiosas, publico-as de imediato nesta separata. Procurarei condensá-las o mais possível e indicar a sua fonte. Assim, além dos textos publicados no início de cada mês, esta revista será actualizada mais frequentemente aqui neste espaço.
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“Cerca de três centenas de manifestantes, entre alunos e professores, obrigaram esta tarde a Ministra da Educação a abandonar a cidade de Fafe, sem cumprir o evento que tinha programado. Com palavras de ordem e ovos, os protestantes nem deixaram a ministra pôr o pé fora do carro. Maria de Lurdes Rodrigues tinha programada a presença na entrega de diplomas a mais formandos do Centro de Novas Oportunidades da Escola Profissional de Fafe. À chegada ao Estúdio Fénix, local marcado para a sessão, Maria de Lurdes Rodrigues deparou-se com a manifestação. Os alunos aproximaram-se rapidamente da viatura oficial, alguns atirando ovos, e a ministra nem chegou a sair do carro. Após uma curta conversa circunstancial com o presidente da Câmara Municipal o carro da governante arrancou a grande velocidade em direcção à auto-estrada. Na sua frente seguiu o carro que transportava Margarida Moreira, directora da Direcção Regional de Educação do Norte. Sujeito à ira dos alunos esteve a viatura oficial do município de Fafe. Após este incidente chegaram ao local mais reforços da GNR que controlaram a situação. No entanto, há a registar a identificação de alguns alunos e a apreensão de algumas caixas de ovos. A cerimónia de entrega de diplomas decorreu sem a presença da Ministra”.
JN on-line (12-11-2008)
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“Manifestação juntou 120 mil professores. Cerca de 120 mil professores manifestaram-se durante a tarde de sábado, em Lisboa, contra o actual modelo de avaliação de desempenho. A Plataforma Sindical dos Professores afirma ter reunido “a maior manifestação de sempre em Portugal””.
JN on-line (09-11-2008)
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Capa do jornal ocupando praticamente toda a página: “Ruptura total dos professores com o Governo (…) Mais de 100 mil manifestantes ontem em Lisboa com a promessa de guerra todo o ano”.
Público (09-11-2008)
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Títulos do CM: “O modelo de avaliação dos professores deverá ser suspenso pela sua excessiva burocracia, defende a presidente do PSD, Manuela Ferreira” (…) “Um professor da Escola Primária nº 2 do Monte da Caparica, Almada, foi agredido quarta-feira pelo pai de um aluno” (…) “Um desentendimento entre dois colegas de turma, anteontem à tarde, na Escola Básica 2/3 de Alcabideche, terminou à facada” (…) “Uma professora do Básico, de 38 anos, queixou-se à GNR de Samora Correia (Benavente) por ter sido agredida e injuriada pelos pais de um aluno”.
CM on-line (09-11-2008)
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Recebi um mail onde se dizia isto: “Especialistas em educação reunidos na cidade espanhola de Valência defenderam hoje [penso que 30-10-2008] que o aumento da violência escolar deve-se, em parte, a uma crise de autoridade familiar, pelo facto de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores (…) 'As crianças não encontram em casa a figura de autoridade', que é um elemento fundamental para o seu crescimento, disse o filósofo Fernando Savater (…) Como alternativa à palmada, o filósofo recomenda a supressão de privilégios e o alargamento dos deveres”.
Mail de 05-11-2008
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Capa do DN: "Avaliação de professores parada em 50% das Escolas".
DN (04-11-2008)
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Em letras gordas na capa do JN: “Trabalho a mais na Escola leva docentes a processar o estado”. Continuando: “carga burocrática faz com que muitos professores trabalhem mais de 40 horas semanais. A FNE está a fazer um levantamento e diz-se inundada de queixas. Cerca de 100 já poderão seguir para tribunal”.
JN (02-11-2008)
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“A despesa prevista com as viagens e estadas dos deputados dentro e fora do País, ao serviço da Assembleia da República, ascende em 2009 a 3,72 milhões de euros, num aumento de 7,6 por cento face à verba consagrada no orçamento de 2008. Só a rubrica Viagens conta com 2,44 milhões de euros, num acréscimo de 14,5 por cento destinado a fazer face à subida de custos com as tarifas aéreas”.
CM on-line (30-10-2008)
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“Foram mais de mil as escolas que este ano tiveram uma média no exame nacional de Matemática do 9.º ano igual ou superior a 2,5 valores (numa escala de 1 a 5). Em 2007, tinham sido apenas duas centenas. Esta é uma das principais conclusões das notas de exame por escola ontem divulgadas pelo Ministério da Educação”.
Público on-line (29-10-2008)
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“Se o ministério aceitar uma recomendação do Conselho Nacional de Educação (CNE), os alunos deixarão de reprovar na escola até que completem os 12 anos. A proposta, revelada hoje no “Diário Económico” baseia-se nas recomendações da OCDE e nos resultados obtidos com uma política idêntica na Finlândia, onde ninguém reprova durante a escolaridade obrigatória. A Finlândia tem o melhor desempenho escolar do mundo”.
Público on-line (29-10-2008)
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“O Conselho Científico para a Avaliação do Desempenho dos Professores, terá concluído, de acordo com o SPGL: (i) Que os avaliadores não possuem formação para avaliar os seus pares; (ii) Que este sistema de avaliação do desempenho não tem repercussão positiva na prática pedagógica dos docentes e no sucesso efectivo dos alunos; (iii) Que o modelo de avaliação em causa é, em si mesmo, promotor de conflitos pessoais e profissionais e gerador de um indesejável clima de instabilidade nas escolas”.
SPGL (Out-2008)
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“A violência em meio escolar fez cair o Conselho Executivo (CE) da Escola Básica 2, 3 de Santa Maria, em Beja. "A situação tornou-se insustentável", disse ao CM Domingas Velez, presidente demissionária do CE. A responsável acrescenta que os professores estão"cansados" dos constantes episódios vividos na escola. Preocupados com o clima de instabilidade e de segurança do estabelecimento estão também os auxiliares. "Alguns já chegaram mesmo a ser agredidos", contou Arlindo Palma representante do pessoal auxiliar da escola”.
CM on-line (28-10-2008)
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Isto está lindo! Estes são alguns cabeçalhos do CM: “A Escola está cada vez menos interessante”, “Filme sobre sexo em aula de Moral”, “Educadora pôs miúdo de 4 anos a sangrar”, “Professores querem suspensão de avaliação”, “Alunos contestam novo estatuto”, …
CM online (26-10-2008)
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“Plataforma Sindical de Professores exigiu hoje à tarde a «imediata suspensão» do processo de avaliação de desempenho, alegando a necessidade de recentrar a atenção dos professores naquela que é a sua «primeira e fundamental missão», ensinar. «Estamos preocupados com o número crescente de escolas que pedem a suspensão da avaliação porque esta está a perturbar o funcionamento dos estabelecimentos de ensino e o desempenho dos professores com prejuízos para os alunos», afirmou Mário Nogueira, porta-voz da Plataforma, em conferência de imprensa”.
TSF on-line (24-10-2008)
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“O secretário de Estado Adjunto e da Educação garantiu, esta sexta-feira, que o processo de avaliação de desempenho dos professores não será suspenso nem simplificado, alertando que os docentes que não forem avaliados não progridem na carreira”.
TSF on-line (24-10-2008)
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Capa do jornal em letras bem gordas: “Professores ridicularizados por causa do Magalhães (…) Acção de formação põe docentes a cantar e a dançar canções de propaganda ao computador”
24 Horas (16-Outubro-2008)
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(AO) As listas, os protestos, as coerências, as manifestações, as revoltas, as razões, as cedências, as adaptações, os ordenados, as carreiras, as

reformas, os medos, os poderes, as obrigações,… e os professores.
Uma critica à facilidade com que os professores esquecem as razões das suas lutas

Escolas com listas para o Conselho Geral tal com a ministra planeou. Talvez não tivesse previsto que existiriam tantas com mais do que uma.
Eram mais de 100.000 professores em Lisboa, ou seja, quase todos. Manifestavam-se contra quê? Quais seriam as suas motivações? Será que estavam a brincar às guerras? Será que gostam de se manifestar, de contestar, seja porque motivo for? A conclusão é notória: as listas estão cheias dos que andaram por lá com uma alegria inexplicável ao jeito de um carnaval, a protestar, a favor ou contra sei lá do quê. Vamos ver, ainda, se os avaliadores dos professores, os tais que andaram a abanar bandeirinhas, não se empolgarão e no deslumbramento desse estatuto não prejudicarão os seus colegas das lutas. Estes últimos, com toda a certeza, possuidores de cursos académicos vocacionados para a profissão com carradas de disciplinas pedagógicas que os primeiros não tiveram. Quem terá moral para dizer a um desses que não serve para a profissão atribuindo-lhe uma má classificação depois de ter sido acreditado por uma escola superior? Quem terá coragem para dizer a outro com 30 anos de serviço que andou todos estes anos a leccionar mal? Que coisa estranha colegas!
De notar que ninguém foi obrigado a apresentar listas. Sendo assim, será que só o fizeram por solidariedade? Será que gostam de poder? Será que não gostam de ficar abaixo dos outros? Será que se deixam arrastar por outros só para depois não terem represálias? Será que são pagos pelo “aparelho” para o fazer? Ou será que só apresentaram listas porque os outros são muito maus?
Respostas não tenho, mas tenho outras conclusões: os professores, sendo uma classe potencialmente forte com grande poder reivindicativo na sociedade, são divertidos prontos para uma boa brincadeira em jeito de “manif” ou através do reenvio de mails com “piadolas”, são naturais contestatários ou até rebeldes, mas, são também flexíveis, esquecidos, muito esquecidos, adaptáveis e medrosos. Baixamos as calcinhas na segunda ameaça e, se for preciso, preparamos o caldo para lixar os outros conforme as directrizes prepotentes dos que nitidamente estão de passagem e que aparentemente combatemos. Mas estamos sempre prontinhos para falar mal desses modelos impostos. Basta juntar-se um grupo fixe numa mesa recatada da sala dos professores.
Depois disto o melhor mesmo é fazer a minha vidinha: entregar os papeizinhos todos, assinar os abaixo-assinados, ir às sardinhadas, rir, rir muito, falar mal do governo, da ministra, dizer que ando cansado, que não sei para onde me virar, que isto cada vez está pior, apontar uma vírgula ou outra a um dos colegas contratados, andar de pasta, de pc, talvez usar óculos, murmurar, dizer que aquilo (uma coisa qualquer, não interessa) está mal feito, colar-me nos bancos em reuniões e se possível votar a favor para que elas se prolonguem mais do que 2 horas, fazer uma ou duas greves por ano,… Ah! E vou ver se não me esqueço de votar numa das duas listas da minha Escola, não vá alguém reparar que não apareci, ou que votei em branco ou mesmo nulo.

Luís Filipe Firmino Ricardo (Out-2008)

(AO) Ensinar e Aprender

Uma reflexão sobre os dois conceitos

Ensinar e aprender são duas actividades distintas. Pode-se ensinar sem que alguém aprenda o que quer que seja e pode-se aprender sem que haja alguém a ensinar.
Na sala de aula, temos o professor que, supostamente, deve ensinar os alunos e temos os alunos que, supostamente, devem aprender aquilo que o professor pretende ensinar. No entanto, a realidade tem mostrado que, em muitas turmas, mais de 50% dos alunos não aprendem os mínimos que supostamente deveriam aprender.
Evidentemente que as causas para este insucesso são diversificadas, como sabemos. O nosso objectivo, neste texto, não é o de dissecar as múltiplas causas do insucesso escolar do aluno, mas apenas o de pôr em confronto estes dois conceitos, estas duas actividades que são: ensinar e aprender.
Suponhamos então que os alunos da nossa turma são atentos, são disciplinados e gostam de aprender. Continuamos a dizer que, mesmo nestas circunstâncias, ensinar e aprender são duas realidades de tal maneira distintas que podem conduzir ao insucesso da turma.
Por que razão (ou razões), então, aquilo que se ensina não é aprendido?
Na verdade, há variadíssimas razões para o facto, as quais podem conduzir a um insucesso na turma, maior ou menor consoante a disparidade entre aquilo que se ensinou e aquilo que se aprendeu.
Assim, temos, entre outras, as seguintes razões:
1. O professor não sabe expressar convenientemente os seus pensamentos, as suas ideias.
2. O professor comete erros técnicos, com alguma frequência, que vêm a revelar-se nefastos (originando contradições, incoerências, etc.) para a correcta aprendizagem do aluno.
3. O professor parte do princípio que o aluno já sabe determinados conceitos (pré-requisitos), quando não é verdade.
4. O professor utiliza uma linguagem que os alunos têm dificuldade em compreender, ou compreendem-na erradamente.
5. O professor explica os assuntos com um ritmo demasiado elevado para a adequada assimilação por parte dos alunos em presença, ou ainda em função da complexidade da matéria.
6. O professor tem deficiências pedagógicas graves, não utilizando correctamente as regras da pedagogia e as técnicas da boa comunicação.
7. O professor encontra-se a um nível de conhecimentos demasiado elevado relativamente ao dos alunos e não consegue descer ao nível das suas dificuldades.
Estas são algumas das razões que podem explicar o abismo que muitas vezes existe entre aquilo que se ensina e o que se aprende!
Na verdade, todas as razões apontadas são válidas e cada professor, ao longo da sua carreira, já teve algumas delas em maior ou menor grau. Com a experiência entretanto adquirida, vai limando arestas e algumas das suas deficiências vão desaparecendo, ao longo do tempo. Não queremos dizer que o professor se torna um profissional perfeito, sem deficiências, mas apenas que se torna cada vez melhor. Há, no entanto, professores que evoluem mais do que outros – são professores mais competentes – tal como há alunos que evoluem mais do que outros – são melhores alunos.
O bom professor deve ser competente tecnicamente, competente pedagogicamente e competente emocionalmente. Nem sempre se encontram estes três requisitos no mesmo professor. Há professores que são bons tecnicamente e falham nas duas restantes competências. Assim como há bons professores no âmbito pedagógico e não o são tanto no campo técnico. Outros falham no campo emocional, não se auto-controlando convenientemente ou não sendo capazes de (ou não querem) assumir uma atitude de aproximação afectiva em relação aos alunos.
Sendo assim, não é para admirar que cada professor tenha as suas falhas e não consiga transmitir convenientemente ao aluno aquilo que pretende ensinar, isto é, a mensagem enviada não chega ao destinatário!
Assim, é importante que o professor:
1. Saiba utilizar uma linguagem adequada
2. Evite, o mais possível, cometer erros técnicos
3. Saiba utilizar as boas regras da pedagogia e técnicas da comunicação
4. Saiba descer ao nível dos conhecimentos do aluno
5. Faça a ligação adequada entre as matérias a leccionar e as matérias já leccionadas ou aos pré-requisitos
6. Tenha uma boa relação de proximidade e afectividade com os alunos
Estas são algumas das condições necessárias para que a diferença entre o que se ensina e o que se aprende seja reduzida ao mínimo possível. Reduzir totalmente essa diferença é impossível, pois que há outros factores em jogo, nomeadamente a atenção do aluno ou a motivação em relação a cada matéria.
Talvez que um dia seja possível a cada aluno ler o pensamento do professor, como se se tratasse de um computador a ler o conteúdo de um disco rígido, e talvez então seja possível que aquilo que se pretende ensinar seja totalmente aprendido, por transferência entre cérebros!

José Vagos Carreira Matias (Out-08)

NOTÍCIAS

Sempre que esbarrar com as mais curiosas, publico-as de imediato nesta separata. Procurarei condensá-las o mais possível e indicar a sua fonte. Assim, além dos textos publicados no início de cada mês, esta revista será actualizada mais frequentemente aqui neste espaço.
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“Demerval Saviani o mais conhecido pedagogo marxista brasileiro, defende em entrevista à Rubra, que o professor assuma como tarefa principal a de ensinar os alunos, deitando para o lixo as falsas teorias «da inclusão», que só servem para nivelar por baixo. Contra a pedagogia autoritária mas também contra as teorias dominantes na esquerda, que vêm dos anos 70, e que na verdade só servem para justificar a manutenção do statu quo. A escola não é um «lar», um prolongamento da família, mas sim um espaço onde os nossos filhos se preparam cientificamente, onde aprendem a conhecer o que de melhor no campo da ciência, da arte, da cultura a humanidade produziu. Há muito para aprender a sério. Ao professor deve ser devolvida a sua função: ensinar”.
Revista Rubra nº 3 (Outubro-2008)
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5000 docentes já pediram a reforma antecipada só este ano lectivo.
TSF (Notícias das 17h00m 13-Outubro-2008)
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“Um em cada três dos 500 inquiridos [professores] respondeu ter sido vítima de alguma agressão física ou verbal no ano lectivo de 2006/2007”. A notícia acrescenta que 23,9% consome psicofármacos, 27,2% procura ajuda psicológica e 42,4% apresenta sintomatologia depressiva.
Público (08-Outrubro-2008)
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“Uma sondagem sobre a evolução do ensino em Portugal, efectuado pelo jornal Correio da Manhã revela que 41,6 por cento dos portugueses considera que, actualmente, a educação está «pior» enquanto 43 por cento diz que está melhor”.
Correio da Educação nº332
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“Escolas querem notas dos alunos fora da avaliação”. No seguimento desta notícia, parece haver escolas que se preparam para suspender todo o processo de avaliação dos professores. O Conselho Científico para a Avaliação Docente (CCAP), órgão criado pela tutela do ministério, também aponta no sentido das classificações atribuídas aos alunos serem “usadas com muita cautela” e refere num relatório que a avaliação docente corre o risco de se tornar um acto irrelevante nos aspectos fundamentais, ou seja, não trará melhorias na aprendizagem do aluno nem no desenvolvimento da carreira docente.
JN (29-Setembro-2008)
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Ao que parece existe um rapaz que não sabe ler, não sabe escrever e não sabe “fazer contas” e está matriculado no 8ºano na Escola Silva Gaio em Coimbra. Os pais do aluno também estão estupefactos e referem que “o nosso filho precisa muito mais do que aquilo que lhe dão”. Concerteza que os objectivos de alguém estão a ser cumpridos.
Diário da Beiras (25-Setembro-2008)
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“As famílias portuguesas gastam em média 118 euros [por mês] em apoio extra-escolar para os filhos (…) A conclusão é de um estudo da Universidade de Aveiro”.
Metro (22-Setembro-2008)
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(AC) Abstenho-me! (2)

Continuação do contributo para o esclarecimento de alguns procedimentos administrativos a ter nas assembleias da escola

No seguimento do texto anterior com o mesmo tema (ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2008_08_01_archive.html ), apresento em baixo uma tabela resumo com alguns órgãos existentes nas escolas e a sua caracterização.
O conhecimento das regras de funcionamento dos órgãos colegiais é de extrema importância para que possamos participar de uma forma coerente e compreender toda a problemática da organização escolar. Estas, estão bem definidas no CPA e dizem respeito:
· à composição do órgão (CPA, art.º 14);
· às reuniões (CPA, art.º 16 e art.º 17);
· à marcação e convocação das reuniões (CPA, art.º 17 e art.º 21);
· à ordem do dia (CPA, art.º 18 e art.º 19);
· às formas de votação (CPA, art.º 24);
· ao quórum de reunião (CPA, art.º 22);
· à formação de maiorias (CPA, art.º 25);
· ao voto de qualidade (CPA, art.º 26).
Nestes pontos saliento o facto de qualquer membro poder apresentar uma alteração à ordem de trabalhos, de poder votar vencido desresponsabilizando-se dessa tomada de decisão e das consequências que possam daí advir e, ainda, do presidente não ter qualquer poder relevante sobre os outros membros exceptuando o voto de qualidade em caso de empate. O presidente tem o dever de orientar e animar a reunião. Constato em muitas reuniões de órgãos colegiais na escola, a importância excessiva atribuída ao presidente do órgão colegial, limitando, em muitos casos, a iniciativa de outros membros. Não por má fé (certamente), mas talvez pela adopção absorvida ao longo dos anos desse hábito, usando-se muitas vezes o termo de “chefe” (o que me parece completamente desadequado face à estrutura colegial e democrática das escolas). Ainda há pouco tempo apareceu, afixado no placard de uma sala de professores, uma informação vinda do CE com alusões expressas à “chefe” de uma determinada secção. As reuniões dos conselhos dos órgãos colegiais (grupos formais) são uma estrutura de participação e terá que ser a partir delas que se orientam todas as actividades da escola. Existe, no entanto, o sentimento generalizado legítimo que são uma perda de tempo e que têm pouca eficácia. Aqui sim, o papel do membro que exerce as funções de presidente é preponderante para que os intervenientes sintam a sua utilidade e não a considerem um desperdício, guiando a ordem de trabalhos de forma a não existirem “massacres de duração”, tantas vezes considerados como sendo o único factor de desmotivação levando, até, ao desinteresse de inclusão em outros grupos de trabalho.

Referências bibliográficas
· CAUPERS, João – Direito Administrativo. Lisboa: Editorial Notícias, 1996
· Decreto-Lei nº 444/91, de 15 de Janeiro (Código de Procedimento Administrativo)
· Decreto-Lei nº 6/96, de 31 de Janeiro (dá nova redacção a alguns artigos do CPA)


Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)

(AC) A evolução da administração escolar no Portugal democrático (2)

Uma comparação de competências e poderes no que respeita ao Conselho Directivo (CD), Director de Escola (DE), Conselho Executivo (CE) e Director (D)

Luis Filipe Firmino Ricardo (2008)

NOTÍCIAS

Sempre que esbarrar com as mais curiosas, publico-as de imediato nesta separata. Procurarei condensá-las o mais possível e indicar a sua fonte. Assim, além dos textos publicados no início de cada mês, esta revista será actualizada mais frequentemente aqui neste espaço.

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“Ente 100 a 150 mil alunos com NEE estão sem apoio” (Miranda Correia, Coordenador de Educação Especial da Universidade do Minho); “Desminto em absoluto que mais de 100 mil crianças estejam sem apoio” (Valter Lemos, Secretário de Estado da Educação); “O Ministério tem todos os alunos sinalizados (…) e quantificou-os em 55 mil” (Maria de Lurdes Rodrigues, Ministra da Educação). Pode deduzir-se destas três citações retiradas do Jornal Metro que, pelo menos, 55 mil alunos estão sem apoio.
Metro (11-Setembro-2008)
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“Portugal é o país da EU que menos tempo dedica à Matemática e à sua língua”. O último ano lectivo teve o número mais baixo de chumbos em dez anos”. “Percentagem de adultos com o ensino secundário é a mais baixa da OCDE”. “Quatro mil adultos já conseguiram o 12º ano” com o Programa Novas Oportunidades. Salários dos professores ao nível dos mais ricos da OCDE “sobretudo entre aqueles que estão no topo da carreira que ganham 2,5 vezes mais do que os que estão no início (…)”
Público (10-Setembro-2008)
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"É ali que os alunos vão ter aulas? Pensei que fossem os contentores das obras." Terá dito José Sócrates no arranque do ano no Liceu Pedro Nunes em Lisboa.
CM on-line (03-Setembro-2008)
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“Os funcionários públicos perderam nos últimos oito anos cerca de 11,2 por cento em poder de compra, ou seja, 112 euros por cada mil euros de salário”.
CM on-line (03-Setembro-2008)
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Mais de “47.000 professores ficaram sem lugar nas escolas” e “7.856 – os candidatos que encontraram uma vaga”.
DN (31-Agosto-2008)
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“Inteligência fulgurante e bom planeamento são as virtudes da mosca”. O que transcrevo a seguir foi retirado do JN sem qualquer ligação à rubrica das anedotas mas, pelo contrário, anunciado como uma grande descoberta: “Um estudo divulgado pela Current Biology explica como o cérebro da mosca (…) nos consegue derrotar na maioria das vezes (…) Inteligência fulgurante e bom planeamento são as virtudes da mosca (…) muito antes de voltear no seu voo, o insecto calcula a localização da ameaça e tece um plano”. Valha-me Deus Nosso Senhor Santo António.
JN (30-Agosto-2008)
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“125.000 professores colocados, 40.000 sem colocação”. O primeiro número é da responsabilidade do ME o segundo é anunciado pela Fenprof.
JN (30-Agosto-2008)
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A universidade portuguesa melhor classificada é a Universidade do Porto (UP) que está na 375º lugar na lista das 500 universidades mundiais que produzem ciência, segundo o Performance Ranking of Scientific Papers for World Universities.
JN (30-Agosto-2008)
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“Investigadores reunidos na convenção da Associação de Psicologia norte-americana, em Boston, revelaram estudos que sugerem que os jogos de vídeo podem ser importantes ferramentas de aprendizagem. Um dos estudos revela que um dos jogos mais jogados 'online'- "World of Warcraft" - pode melhorar o pensamento científico. (…) Outro estudo, de psicólogos da Universidade do Iowa, analisou cirurgiões que jogam jogos de vídeo e cirurgiões que não o fazem. Assim, e de acordo com as conclusões desse estudo, os cirurgiões que jogam jogos de vídeo foram 27 por cento mais rápidos nos procedimentos da cirurgia e fizeram 37 por cento menos erros. Contudo, outros estudos também já confirmaram que estudantes que jogam jogos violentos tendem a ser mais hostis, menos tolerantes e a considerar a violência normal. Além disso, os estudantes que passavam muito tempo a jogar jogos de entretenimento são mais fracos na escola e têm um risco maior de vir a ser obesos.”
Público on-line (24-Agosto-2008)
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À semelhança das conclusões em anteriores estudos, “Na hora de serem confrontados, os portugueses assumem que é nas profissões ligadas à defesa da integridade física e do ensino que depositam mais confiança. Um estudo sobre a confiança atribuída a 20 profissões, realizado este ano em 22 países, revela que 90% dos portugueses confiam nos bombeiros, carteiros e professores da escola primária e secundária. Desenvolvido pela GfK, em parceria com o Wall Street Journal, a análise mostra que políticos e publicitários são os "menos confiáveis", com pouco mais cerca de 14% de respostas abonatórias. O mesmo se passa na Europa, com só 15% dos inquiridos a confiar nos políticos e 23 % nos publicitários”.
DN on-line (22-Ago-2008)
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“O "Perfil do Docente 06/07", publicado pelo Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE), fornece informações sobre a distribuição, por níveis de ensino e por grupo de recrutamento, de educadores e professores, sobre as suas características individuais – idades, sexo e habilitações académicas – e acerca do exercício da profissão.
A informação disponibilizada no relatório refere-se exclusivamente ao continente, abrangendo os docentes em exercício de funções nos estabelecimentos, desde o nível pré-escolar ao nível secundário, nos sectores público e privado.
Os dados foram organizados de modo a possibilitar a comparação entre níveis de educação e de ensino, ao longo do tempo, desde 1997/1998 até 2006/2007, e entre grupos de docência.
No sector público, em 1997/1998, o número total de professores era 139 941, e em 2006/2007 o sistema contava com 140 647 professores. À excepção da educação pré-escolar, onde o número de educadores de infância continua a aumentar, nos outros níveis de ensino o número de docentes tem vindo a reduzir progressivamente, acompanhando a diminuição da taxa demográfica.
Relativamente aos níveis de educação e de ensino, em 2006/2007, existiam 9793 educadores de infância, 28 687 professores do 1.º ciclo, 27 864 professores do 2.º ciclo e 74 303 professores do 3.º ciclo e do ensino secundário.
No 2.º ciclo, o grupo de recrutamento que conta com mais docentes é o de Educação Visual e Tecnológica, com 6205 professores, seguido do de Matemática e Ciências da Natureza, com 6166. É de salientar o facto de os professores de Língua Portuguesa estarem englobados em grupos de recrutamento, que além dessa disciplina integram Língua Estrangeira ou Estudos Sociais/História.
No 3.º ciclo e no ensino secundário, o maior número de professores concentra-se nas disciplinas de Matemática e de Português, respectivamente com 8938 e 7575 docentes.
No que concerne à distribuição etária dos docentes, constata-se que a faixa etária onde se concentra um maior número de docentes é a dos 40-49 anos. A excepção regista-se no 2.º ciclo, onde esta situação se verifica na faixa dos 50 ou mais anos.
A taxa de feminidade diminui à medida que o grau de ensino aumenta, decrescendo desde os 97,1 por cento na educação pré-escolar até aos 70,5 por cento no 3.º ciclo e no ensino secundário.
Relativamente às habilitações académicas, é de salientar que a grande maioria dos docentes possui o grau de licenciado, registando-se uma maior incidência de mestrados e doutoramentos nos professores do 3.º ciclo e do ensino secundário.
Desde 1997/1998, verificou-se, de um modo geral, uma descida da relação do número de alunos por docente, tendo-se registado uma ligeira inversão desta situação a partir de 2005/2006.
Em 2006/2007, existiam 13 crianças por cada educador de infância, 14,7 alunos por cada professor do 1.º ciclo, 7,6 alunos para cada professor do 2.º ciclo, e 8,1 alunos por cada professor do 3.º ciclo e do secundário.
Este estudo demonstra que a relação do número de alunos por educador/professor é inferior no ensino público comparativamente com o ensino privado, onde este rácio é de 17,4 na educação pré-escolar, 18,4 no 1.º ciclo, 10,8 no 2.º ciclo e 9,4 no 3.º ciclo e no ensino secundário”.
Ministério da Educação on-line (Ago-08)
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(AC) Abstenho-me! (1)

Um contributo para o esclarecimento de alguns procedimentos administrativos a ter nas assembleias da escola

No final de uma RGP convocada pela PCE (2007/2008), e por iniciativa de alguns colegas, formou-se um ajuntamento de professores configurando aparentemente outra RGP. De seguida colocou-se à votação, dos que ali permanecerem, uma proposta para apresentar ao CE. Uma colega reparando que alguns se abstinham dizia-nos, muito catedraticamente (sem ofensa colega), que não são permitidas abstenções. Numa outra reunião de Departamento Curricular (no mesmo ano), quando outra colega se absteve numa votação onde se escolhia entre um “sim” ou um “não” para alteração de um documento interno, surgiram logo várias vozes a dizer que não eram permitidas abstenções: “aqui não são permitidas abstenções”, “nas votações de sim ou não, não são permitidas abstenções”, “já dou aulas há muito tempo e sempre foi assim”, “está no CPA”… Estes foram os argumentos apresentados quando eu disse que não entendia as razões da proibição desse direito. Só me restava uma coisa: ficar caladinho (eram muitos).
Ora bem! Esses momentos impeliram-me para apresentar este texto no sentido de contribuir para uma melhor clarificação de alguns procedimentos administrativos a ter nos órgãos da escola. Assim, adianto o seguinte: a RGP só tem sentido para auscultar tendências sem qualquer poder vinculativo e é considerado por todos como um momento privilegiado para fornecer informações. A RGP não é nenhum órgão da escola (muito menos o ajuntamento que se realizou a seguir conforme relato em cima), pois, não tem qualquer poder (Caupers, 1996) e, no que respeita a votações, são permitidas abstenções em todos os órgãos, excepto nos consultivos (CPA, Artº 23) quando tratam matérias que têm de ser ratificados por outros hierarquicamente acima (ou seja, quando têm de fornecer consultas). Então, desde que sejam decisões que não necessitam de ser validadas por outros órgãos superiores, as abstenções são permitidas. Por exemplo: se estivermos a votar num CT uma eventual alteração de uma classificação de um aluno não pode haver abstenções, pois essa classificação tem de ser ratificada pelo PCE (D). Mas se estivermos a votar (nesse mesmo órgão consultivo) se concordamos ou não com uma determinada visita de estudo, qualquer um se pode abster, pois não se trata de nenhuma consulta ao órgão inferior, logo, todos se podem abster (só depois de ser clarificada internamente é que seguirá para aprovação do CP).
Os órgãos podem classificar-se de várias maneiras de acordo com o número de titulares (o termo titular não deve ser confundido com professores titulares), tipo de funções, forma de designação e competências. Quanto ao número de titulares podem ser singulares ou colegiais, dependendo se tiverem um membro ou mais do que um membro. Quanto à sua função podem ser activos, consultivos ou de controlo. Os primeiros são decisórios ou executivos, os segundos esclarecem os activos antes das decisões e os terceiros fiscalizam outros. Relativamente à forma de designação podem ser representativos quando são eleitos, ou não-representativos quando são nomeados. Finalmente quanto à competência, podem ser simples se os titulares só puderem actuar em conselho ou complexos quando têm titulares que podem exercer competências próprias a título individual.
Quem me dera que refutassem esta minha interpretação com fundamentos sólidos. Seria óptimo aprender e ficaria contente por saber que estou enganado. Caso contrário continuarei disfuncional, pois tenho tentado dizer isto várias vezes e não tenho tido nem a compreensão dos outros nem a coerente explicação contraditória. Ficarei à espera, com toda a humildade e sem qualquer ironia, que me elucidem.

Referências bibliográficas
· CAUPERS, João – Direito Administrativo. Lisboa: Editorial Notícias, 1996
· Decreto-Lei nº 444/91, de 15 de Janeiro (Código de Procedimento Administrativo)
· Decreto-Lei nº 6/96, de 31 de Janeiro (dá nova redacção a alguns artigos do CPA)


Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)

(AO) Escolas eficazes (6)

Mais um contributo para a discussão

Como prometido, cá estou eu de novo. Continuemos, então:
(a) Um fim às reuniões com carácter obrigatório (ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/10/reunies-reunies-reunies.html e http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/10/participar-ou-fazer-parte.html ). Porquê castigar um professor com marcação de falta a uma qualquer reunião (não prevista) às 18h30 numa qualquer segunda-feira se esse professor vive a 50 km da sua Escola e se, depois, esse mesmo professor, dá seguimento às acções para as quais a reunião estava destinada? Será que se lembram que são os professores mais mal pagos que vivem mais longe da Escola? Será que se lembram que os professores que vivem mais longe da Escola são os que têm filhos mais pequenos? Será que se lembram que os professores têm de certeza compromissos com os seus filhos pequenos? Será que se lembram que já não existem aldeias? Então, também por estas, as reuniões só têm sentido se forem estritamente necessárias. Muitas vezes as informações podem ser passadas através de um simples mail. Mas, quando realizadas, o seu animador/presidente deve seguir a ordem de trabalhos e não ultrapassar o tempo previsto bem como promover a pontualidade. Parece-me que a pontualidade é muito mais importante do que a saída precoce e a operacionalização e o cumprimento das acções são mais importantes do que a simples presença nas reuniões.
(b) Clarificação das competências dos órgãos colegiais. Seria bom consciencializarmo-nos que não existem chefes nas escolas públicas (para já). Nenhum coordenador, director de curso, director de turma,… (excepto o PCE, esse sim pode uma vez que se trata de um órgão singular à semelhança do Director) pode decidir seja o que for se não for tratado na respectiva assembleia. Tenho é notado que alguns “cargozitos” têm feito mal ao ego de alguns professores dando ideia que lhe faltarão motivos de satisfação “lá fora”. Com essa prepotência cria-se um mal-estar desnecessário em colegas que pela sua natureza não se envolvem em “guerras” e acabam por aceitar as “ordens” dos outros. Como dizia um colega: “a secretaria seria um óptimo lugar para esses sabichões”. Estas situações fazem-me lembrar o episódio do futebol que aconteceu recentemente quando o presidente de um órgão colegial deu por encerrada a reunião, pensando ele que com esta sua atitude os restantes membros não poderiam decidir sem a sua presença. Ora bem: se não existir estatuto especial e se forem regidos pelas regras da administração pública, quando o presidente se retirar, havendo quórum, deve ser substituído pelo mais velho membro da assembleia e deve-se dar continuidade à ordem de trabalhos. Mais: se existir quórum e se for da concordância de 2/3 dos membros até a ordem de trabalhos pode ser alterada.
(c) Divisão clara da educação pré-escolar e ensino secundário formando os respectivos educadores e professores em áreas distintas (ver: http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/12/ao-onde-esto-as-respostas.html ). Não se compreende que os estágios pedagógicos, as licenciaturas, mestrados, e doutoramentos em ciências da educação sejam dirigidos na mesma especialidade a dois níveis de exigência tão discrepantes e a realidades tão diferentes. Parece-me pouco provável que um professor tenha vocação, apetência e formação, para leccionar a níveis tão díspares como o 7º ano e 12º ano. Os professores deveriam ser, então, seleccionados e formados de acordo com as suas preferências e aptidões.
(d) Vídeo vigilância em todos os locais de circulação na escola libertando, assim e também, a “estátua” do funcionário sentado no fundo do corredor. Ninguém que seja cumpridor (alunos e professores) terá qualquer receio desta medida.
(e) Criar, melhorar, actualizar modelos de registos, pedidos, requisições, propostas, actividades, relatórios,… de forma a que seja mais fácil a sua avaliação e a eventual resposta. Aqui sim, a criatividade do professor deverá ser limitada.
(f) Eliminar a burocracia na sua vertente irracional com o suporte na boa-fé das pessoas, que terá forçosamente de ser reconhecida, e baseados no único lema: “esta minha acção/atitude não prejudicará ninguém” (ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/10/burocracia-como-forma-de-racionalizao.html ).
(g) Acabar com os prémios de mérito aos alunos (e aos professores, obviamente). Não fazem mais do que cumprir com as suas obrigações. Muitas vezes são premiados por sucessos que nada têm a ver com as competências adquiridas na Escola (por exemplo: vitória numa corrida de 100 metros). A meritocracia pode também provocar competições desmedidas ao contrário de fomentar a entreajuda e o trabalho em grupo.
(h) Ouvir mais os professores, principalmente os mais novos, aqueles que têm de facto formação específica para exercer a profissão, aqueles que trabalham mais horas, aqueles que conhecem as outras escolas, aqueles… Nós, os mais velhos, estamos tão viciados que muitas vezes nem as “rachadelas na parede” vemos (valha-nos a experiência). Porquê não incentivar então todos os professores a apresentarem as suas propostas, em qualquer área, sem qualquer censura, mesmo que sejam anónimas?
(i) Aproveitar melhor a especialidade académica de cada um. Tenho reparado que muitos emitem pareceres sem qualquer fundamento (sobretudo aqueles que não conseguem estar calados um minuto). Por exemplo, se tem de existir um responsável pela segurança numa escola porquê não entregá-lo a um professor formado em engenharia com pós graduação nessa área?
(j) Reprogramar os programas curriculares. Não podemos continuar a exigir que, por exemplo, alunos de um CEF nível II, conhecendo-se bem a razão da existência destes cursos, aprendam matérias que só me ensinaram no 4º ano de engenharia. À semelhança das duas alíneas anteriores, seria de todo importante ouvir mais os professores especialistas, neste caso de cada nível de ensino.
(k) Outra coisa que me mete uma grande confusão: não se exagerará com tantos trabalhos manuais (por exemplo) elaborados nas disciplinas que nada têm a ver com essa vertente? Temos alunos com cartazes lindos que resultam numa boa classificação mas, que da matéria propriamente dita, ficamos sem saber a quanto correspondem.
Para já, não me lembro de mais nada além do que referi anteriormente sobre a importância de se valorizar e prestigiar o papel do professor na sociedade. Como?

Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)

NOTÍCIAS

Sempre que esbarrar com as mais curiosas, publico-as de imediato nesta separata. Procurarei condensá-las o mais possível e indicar a sua fonte. Assim, além dos textos publicados no início de cada mês, esta revista será actualizada mais frequentemente aqui neste espaço.
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Jaime Carvalho e Silva, secretário-geral da Comissão Internacional de Instrução Matemática (ICMI – instituição que se dedica ao melhoramento do ensino da disciplina), diz que as “críticas aos exames são primitivas”, acrescentando que os críticos têm de aprofundar as suas reflexões e, para serem mais precisos, têm de conhecer os dados que não são públicos.
JN (31-Julho-2008)
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O aluno de cada escola que obtiver melhor média receberá um prémio de 500 euros já a partir de 2008/2009.
JN (30-Julho-2008)
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Uma professora correctora foi assaltada. Roubaram-lhe as provas de exame que iria corrigir. Conclusão: 20 alunos da Maia vão ter de repetir o exame durante Agosto.
JN (29-Julho-2008)
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“Os alunos do 2º ciclo do ensino básico deverão ter menos professores por turma (…)”. O ME refere que estas directrizes já estavam previstas na LBSE (1986) e que nunca foram aplicadas. O objectivo é diminuir o “choque” que os alunos encontram na transição do 1º ciclo para o 2º ciclo.
JN (22-Julho-2008)
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Baseado no ME e no despacho de alteração às regras de alteração do ano lectivo 2008/2009 a confap no seu site informa o seguinte: “(…) a avaliação de desempenho de outros docentes é um dos cargos que se incluíram na componente não lectiva a nível de estabelecimento (…) Assim, para cada avaliador deve considerar-se o critério de uma hora semanal para a avaliação de quatro docentes. (…) Quando as horas de componente não lectiva de estabelecimento e as horas de redução de que o professor usufruiu não forem suficientes, procede-se à redução da componente lectiva do docente. (…) Na determinação do número de horas destinado a trabalho individual e à participação em reuniões deve ser tido em conta o número de alunos, de turmas e de níveis atribuídos ao professor, não podendo ser inferior a 8 horas para os docentes da educação pré-escolar e do 1.º ciclo, e para os outros ciclos do ensino básico e ensino secundário 10 horas para os professores com menos de 100 alunos e 11 horas para os docentes com 100 ou mais alunos”.
Confap on-line (18-07-2008)
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Na Faculdade de Direito de Lisboa, o júri para atribuição do grau de doutor ao Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Carlos Lobo integra dois advogados que são seus sócios. Por este motivo o fiscalista Saldanha Sanches recusou pertencer a esse órgão.
JN (16-07-2008)
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(AO) Minha querida escola pública

Uma critica às incompreensíveis taxas que se cobram nas escolas públicas

O professor Ricardo Vieira, meu estimado orientador na dissertação de mestrado, costumava citar Bourdieu. Numa dessas referências, aliás registada num dos seus livros, fixei esta: “falando de mim mesmo falo dos outros por procuração”. Começo por narrar, então, vários factos que me parecem não ser próprios de um serviço público que se diz e pretende gratuito. E o meu protesto sobe de tom quando me lembro dos impostos que o estado me obriga a pagar, com um rigor centesimal, dando ideia de uma seriedade intocável vinda de uns políticos onde a contenção de despesa dos próprios, notoriamente, nunca foram os seus pontos fortes. No entanto, e depois de ler a notícia referida em baixo (felizmente surgiu antes de publicar este meu texto), parece que essas directrizes não partem deles mas sim, imagine-se, dos professores que, por sua iniciativa, inventam receitas à custa da violação do princípio do acesso gratuito à educação.
Assim, apresentaram-me umas “taxas” na Escola pública da minha educanda (4º ano ensino básico, no 3º foi igual, no 2º idem e no 1º não me lembro) as quais fui “obrigado” a pagar. Enfim, para não ser rotulado como o EE problemático, o que não paga,… sei lá que mais (tenho a certeza que seriam acrescentados outros rótulos). Nesses impostos paralelos inclui-se uma lista imensa de material, preenchendo uma folha A4, onde constavam, entre outras coisas, duas resmas de papel para ficarem depositadas na Escola. Depois na reunião com os EE no início do ano pediram-me 15 euros (5 por período) para as fotocópias sem contra entrega de qualquer recibo apesar de eu, timidamente, o ter solicitado. Pediam-me dinheiro (pagavam-se bem) sempre que por qualquer motivo me telefonavam. Um dia, por exemplo, telefonaram-me às 14h perguntando-me quando é que ia buscar a minha educanda pois nesse dia (uma sexta-feira de tarde) a escola estaria fechada “como já tinha sido avisado” (provavelmente tinha). Cobraram-me ±3€ num telefonema de 1 minuto e pouco (também sem qualquer recibo). Neste ponto parece-me que existe uma falta de consideração pelo trabalho dos EE. Então não imaginarão que os EE também trabalham e também têm as sextas-feiras de tarde ocupadas? Não se lembrarão que, por exemplo, nas provas aferidas os alunos não têm ninguém para os receber em casa fora da rotina diária? Mas há mais: as visitas de estudo são pagas pelos alunos. Na última pediram-me 20€. Seria preferível chamarem-lhe excursão e aí eu estaria calado.
Ou seja, estamos a falar de um ensino obrigatório público que, para ser eficaz, necessita de donativos dos contribuintes através de uma pedinchice absurda e miserabilista. Será que estas receitas farão parte dos orçamentos das escolas? Se sim, quem terá a insensatez de os aprovar? É caso para nos admirarmos sobre a grande diversidade de posturas que existe na estranha classe dos professores.
A este respeito o Jornal Metro (18-06-2008) noticia a denúncia da Associação de Pais de Vila Franca de Xira relativas a alguns abusos por parte de escolas que cobram taxas ilegais no acto da matrícula. Cobram desde formulários até capas de plástico onde entregam as fichas. Nessa mesma notícia o ME aconselhava os EE a não pagar e obrigava as “escolas prevaricadoras” (citei) a reembolsar os que já pagaram. Curiosamente nesse mesmo dia a CONFAP, através do seu site, alertava também para esses valores indevidos que se cobram nas Escolas bem como para os pedidos repetidos de documentos já entregues em anos anteriores.

Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)

(AO) Escolas eficazes (5)

Continuação da minha visão

Na continuação do texto anterior (ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2008/06/ao-escolas-eficazes-4.html ) e contrariando o Professor António Teodoro (em “Professores, para quê? Mudanças e Desafios na Profissão Docente”. Porto: Profedições 2006, p. 45) quando afirma que os qualificados em ciências da educação não produzem “novos paradigmas de pensamento”, arrisco a dizer o seguinte para que uma Escola possa ser eficaz:
(a) O mesmo autor (idem), baseado em Durkheim, refere que a escola tem duas funções básicas: a acreditação e a socialização. Não podia estar mais de acordo. Deste modo seria de todo interessante que as avaliações resultassem em duas classificações distintas referentes a essas duas vertentes. Agora notamos que a classificação de um aluno reparte-se pelos itens cientifico e comportamental mas ficamos sem saber qual o mais preponderante ou qual o peso de cada um deles. Pode ser útil saber se o aluno é cientificamente capaz mesmo não tendo um relacionamento interpessoal satisfatório ou, ser igualmente importante, conhecer o contrário.
(b) Tolerância perto de zero para a indisciplina, sem as medidas correctivas/sancionatórias chamadas cívicas como por exemplo limpeza de bares dando azo a uma alegria geral de quem os observa e dos próprios castigados. Penso que essas medidas, esse tipo de castigos, são da área de intervenção dos EE, onde os professores não se deveriam meter. Sou da opinião que a indisciplina é o cerne da grande maioria dos males na escola. Os processos disciplinares deveriam ser resolvidos por um órgão próprio (três membros no máximo) criado exclusivamente para esse efeito, baseados nos relatórios dos DT’s e dos envolvidos, e onde se analisariam todos os precedentes de comportamento, de aproveitamento e de assiduidade. O resultado da decisão deveria ser conhecido no mesmo dia (ou no máximo no dia seguinte) e a medida correctiva/sancionatória ser aplicada de imediato.
(c) Aulas livres (alunos do secundário e CEF) sem qualquer obrigatoriedade (com informação da falta ao respectivo EE nesse mesmo dia – não é difícil com a tecnologia actual). Em cada aula deveria existir uma avaliação e a correspondente classificação (cada falta corresponderia à classificação “zero”). O aluno que não tivesse aproveitamento por frequência (por qualquer motivo) teria obrigatoriamente de se sujeitar a um exame para progredir. Provavelmente, a obrigatoriedade, só por si, reduz o abandono escolar. Mas parece-me que os professores e os alunos que estão motivados não podem ser prejudicados por este crescente aumento da indisciplina e de desinteresse por parte de outros. Deste modo a falta seria mais responsabilizante, a avaliação mais justa e seria mais fácil de se atribuir uma classificação (ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/12/ao-faltas-ou-responsabilizar.html ).
(d) Providenciar um atendimento condigno aos EE’s em qualquer hora do dia. Se o DT não estivesse dever-se-ia prever que qualquer outro membro do CT pudesse também fornecer as informações baseadas num dossiê devidamente organizado e actualizado. A ridícula hora de atendimento, nas actuais condições das escolas, não tem qualquer sentido. Parece-me ainda que as novas tecnologias (telemóvel, internet, …) deveriam também ser uma possibilidade de interacção entre a escola e os EE’s.
(e) As horas dos cargos deveriam ser assumidas pelos próprios em horário que entendessem sem qualquer marcação numa atitude de confiança e responsabilidade.
(f) Cursos CEF’s (muitos se necessário) com aulas reduzidas a metade sendo a outra metade ocupada na formação em contexto de trabalho. Prever também sessões de socialização entregues a profissionais habilitados (não a professores). Ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2008/05/ao-professores-para-qu.html .
(g) Estabelecer três caminhos para o objectivo do 12º ano obrigatório (ver http://www.revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/10/12-ano-sim-mas.html )
(h) Nas inúmeras reuniões (cada vez mais) que existem na escola e cada vez com maior número de membros há sempre alguém que tem necessidade de falar por razões que se prendem com os seus traços de personalidade. Mas, muitos exageram parecendo-me sintomático de falhas na avaliação dos traços de personalidade dos outros. Assim, nas reuniões, os tempos de intervenção deveriam ser limitados.
No próximo mês, prometo que continuarei com estas alíneas.

Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)

(AC) A evolução da administração escolar no Portugal democrático (1)

Uma comparação de competências e poderes no que respeita ao Conselho de Escola (CEsc.), Assembleia de Escola (AE) e Conselho Geral (CG)



Luis Filipe Firmino Ricardo (2008)

NOTÍCIAS

Sempre que esbarrar com as mais curiosas, publico-as de imediato nesta separata. Procurarei condensá-las o mais possível e indicar a sua fonte. Assim, além dos textos publicados no início de cada mês, esta revista será actualizada mais frequentemente aqui neste espaço.
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“Um estudo feito pelo Sindicato de Professores da Grande Lisboa (SPGL) concluiu que 93% dos monitores das actividades de Enriquecimento Curricular ganham por recibo verde, apesar de terem horário e programa pedagógico definido”.
JN (15-07-2008)
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“Na China, na África do Sul ou na Namíbia e, pasme-se, aqui mesmo ao lado, em Espanha, o português está em expansão. Em Espanha, em 20 anos, passou-se de 100 alunos para mais de 10 mil. Desses, 72% são espanhóis... “
www.alea.pt (15-07-2008)
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“Portugal é dos piores no abandono escolar. No ano lectivo de 2006/2007, 19,9% dos alunos inscritos no10º ano chumbaram ou saíram da escola. No 11º foram 15,9%”. O JN acrescenta que a taxa de retenção e de desistência no 12º ano é de 36,7%. Somos dos piores na Europa nos “chumbos” e no abandono escolar.
JN (10-07-08)
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A FENEI (Federação Nacional de Ensino e Investigação), o SINDEP (Sindicato Nacional Democrático dos Professores) e a ANMP (Associação Nacional dos Municípios Portugueses) reuniram ontem em Coimbra para tentar resolver o problema da falta de docentes nas áreas de Música, Inglês e Educação Física – disciplinas integradas no projecto de desenvolvimento curricular do 1º ciclo do ensino básico.
JN (09-07-08)
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“O Governo pretende fixar cada vez mais os professores às escolas e nesse sentido foi ontem anunciado que os Quadros de Zona Pedagógica (QZP) serão progressivamente extintos, ficando os docentes vinculados aos agrupamentos escolares”.
CM on-line (04-07-2008)
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“Todos os responsáveis pela Educação são hoje recordados no Ministério. O átrio do edifício, na 5 de Outubro, vai passar a ser uma galeria com fotos dos ministros. O ministério também publica hoje um livro sobre as “4 décadas da Educação””
JN (02-07-2008)
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“(…) a directora regional de Educação do Norte, Margarida Moreira, pediu aos conselhos executivos das escolas para terem atenção na escolha dos docentes que vão corrigir os exames, e disse que “talvez fosse útil excluir de correctores aqueles professores que têm repetidamente classificações muito distantes da média.” Os “alunos têm direito a ter sucesso” e o que “honra o trabalho do professor é o sucesso dos alunos” terá dito imediatamente antes e depois”.
Público on-line (28-06-2008)
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“Professores inflaccionam notas para alunos passarem de ano” – Título da capa do Jornal de Leiria. E o artigo prossegue: “Os docentes são os primeiros a reconhecer que se instalou uma cultura de facilitismo na avaliação dos alunos, com a cobertura do próprio Ministério da Educação”. Nesta notícia surge ainda Nuno Crato a defender que os exames deviam ser feitos em função dos objectivos do programa e não em função do que os alunos sabem. ”É um sinal para os alunos de que podem continuar assim”, acrescentou o presidente da SPM.
JL (26-06-2008)
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Mais uma sigla para as escolas: TEIP. A ministra Maria de Lurdes disse ontem que os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária abrangem já 36 escolas e 50000 alunos e vai continuar a reforçar as equipas deste projecto com mais psicólogos e assistentes sociais.
DN (25-06-2008)
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O nível de vida em Portugal é 25% abaixo da média da UE a 27. “Os portugueses não conquistam poder de compra desde 2004, de acordo com os dados ontem divulgados pela Comissão Europeia”.
DN (25-06-2008)
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O número de ricos em Portugal, entenda-se, aqueles com mais de 642.000 euros (1 milhão de dólares), tem vindo a crescer conforme se divulgou no relatório sobre a Riqueza Mundial de 2007.
DN (25-06-2008)
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“A agressão verbal e a indisciplina foram os maiores problemas relatados pelos docentes que recorreram à linha SOS-Professor (808962006) entre Setembro de 2006 e Março de 2008”.
Metro (25-06-2008)
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Um pai EE, de um qualquer país do 1º mundo (Canadá), aplicou um castigo à sua educanda (12 anos) que consistia em não a deixar participar numa excursão/visita por ter tido classificações baixas. A aluna meteu o seu EE em tribunal tendo conseguido que o castigo fosse retirado por ter sido considerado “demasiado pesado”.
?? (Junho – 2008) - confirmado pelo jornal "A Página" (Julho-08)
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“Quase dois terços dos alunos (64,7%) do 3º ciclo da Grande Lisboa estão envolvidos em fenómenos de bullying, de acordo com um estudo divulgado ontem [23-06-2008] na 4ª Conferência Internacional sobre Violência Escolar e Políticas Públicas” a decorrer em Lisboa.
CM on-line (24-06-2008)
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No âmbito do novo ECD, e sob o protesto da Fenprof, todos os candidatos a professor terão de realizar dois exames e obter uma classificação de pelo menos 14 valores para obter esse estatuto. O primeiro exame será comum avaliando-se a língua portuguesa e a capacidade de raciocínio. O segundo exame será da sua área específica do candidato. Pode ainda haver uma terceira prova oral ou outro exame na área dos domínios das línguas, ciências experimentais, TIC e expressões.
JN (19-06-2008)
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(AC) Avaliação institucional (1)

Formas básicas de avaliação

A aventura da espécie humana deve-se em grande parte, à sua extraordinária capacidade de avaliação das situações, fazendo uso não só dos seus primitivos instintos de sobrevivência, mas também de outros equipamentos neurais ligados ao sistema límbico e neocortex. É neste sentido que interpreto a afirmação de Barbier (1999) quando este refere o carácter omnipresente da avaliação no campo da acção humana. Embora não constitua objectivo deste trabalho, seria interessante equacionar a capacidade avaliativa que o ser humano tem a nível das emoções (Goleman, 1995; Damásio, 1999, 2003) e o papel que desempenha sua formação como sapiens sapiens.
Com efeito, o homem, na sua relação com o universo das pessoas, coisas, situações, procura situar–se, compreender, optar, porque esta não é uma relação de indiferença (Morin, 1995). E é dessa relação que surge o mundo, uma construção interactiva e em permanente mudança que o homem frequentemente equaciona e interpela com o objectivo de melhor compreender a informação que pauta a sua existência; procura assim organizar o mundo, transformar a informação em conhecimento, a quantidade em qualidade; a riqueza e coerência deste (s) mundo (s) depende do processo avaliativo que lhe subjaz e essa coerência permitir-lhe-á elaborar um mundo - narrativa que se constitui como suporte de toda a sua acção transformadora.
Procedendo agora a uma aproximação metafórica ao conceito de avaliação (Tozzi, 1992), podemos afirmar que este está sobretudo associado às seguintes metáforas,
§ Lupa, enquanto busca (em profundidade) de evidências;
§ Lanterna uma vez que a avaliação permite trazer à consciência (iluminar) aspectos até então eventualmente ignorados;
§ Bússola, enquanto 'ferramenta' de orientação para a tomada de decisões.
Segundo Barbier (1999) devemos considerar a existência de três tipos de avaliação: a) avaliações implícitas, presentes em qualquer acto de percepção do outro; b) avaliações espontâneas sempre que emitimos uma mera opinião acerca de uma pessoa, coisa ou situação; c) avaliações instituídas ou intencionais, sempre que essa avaliação decorra de um plano previamente traçado de forma racional e do qual decorra uma observação sistemática de uma realidade, para daí produzir um juízo valorativo. Destas três formas de avaliação, apenas a última obedece a metodologias rigorosas de recolha e análise da informação, pelo que assumimos desde já que apenas esta - a avaliação instituída, nos interessa, considerando naturalmente a natureza do nosso trabalho. A avaliação assim entendida, supõe não só uma descrição de um estado ou propriedade daquilo que queremos avaliar (Elola, 2001), mas também uma interpretação valorativa, por parte do(s) interveniente(s) da avaliação, ou dos agentes que contratualizaram a avaliação.
Procurando precisar um pouco mais as ideias apresentadas e tendo em vista uma mais profunda compreensão deste conceito, podemos afirmar que o conceito de avaliação, ora é utilizado de forma tão ampla que é sinónimo de juízo de valor, cobrindo assim um vasto leque de acções humana, ora é reservado para designar uma operação muito específica com recurso a técnicas igualmente específicas; neste sentido, o juízo de valor que a caracteriza poderia dar lugar a formas de explicação relativamente variadas, fundamentando outras tantas formas de manifestação da avaliação em formação (Barbier, 1999):
1. Avaliação implícita: quando o juízo de valor se explicita através dos seus efeitos. Acto social universal (sempre que um sujeito reflecte acerca do valor daquilo que está a fazer; a resposta modifica cada uma das suas decisões. De forma geral a avaliação está implícita em qualquer acto ou percepção do outro, assim como em qualquer processo de acção; sinais de nojo ou interesse, de afecto ou medo, são por exemplo, sinais da capacidade avaliadora humana. Neste sentido a avaliação é omnipresente no campo da acção humana.
2. Avaliação espontânea: Quando o juízo de valor apenas é explicitado através do seu enunciado, da sua formulação, como é o caso quando manifestamos a nossa opinião acerca de uma actividade ou pessoa. Trata-se de uma forma de avaliação frequente, direccionada para dizer coisas boas ou más em relação a critérios raramente explicitados. Normalmente, não estão socialmente organizadas e aqueles que as emitem não estão avalizados para o fazer. Não são informais, mas parecem manifestar-se sem intermediário metodológico: conjunto de elementos fragmentários, incoerentes, eventualmente contraditórios, feitas a partir de múltiplos agentes. São consideradas subjectivas, mas desempenham um papel importante na determinação das políticas de formação: as decisões são muitas vezes tomadas depois de ouvidas opiniões diversas.
3. Avaliação instituída: Quando o juízo de valor se explicita em relação ao tipo de processo implementado, ou como resultado de um processo social específico e cujas primeiras etapas são susceptíveis de observação. Pode assim definir-se a sua produção como um acto deliberado e socialmente organizado dirigido a gerar juízos de valor e cujas características são:
§ Utiliza diversos instrumentos e metodologias cujo desenvolvimento é variável, embora sempre presente
§ Quem as promove são indivíduos socialmente aptos para a levar cabo e o seu papel está explicitamente reconhecido
§ Os resultados aos quais se chega são claramente explicitados na maioria dos casos a fim de poderem ser eventualmente utilizados noutros contextos. Em alguns casos esta avaliação reivindica um status científico, sobretudo com base na tecnologia que utiliza e cujos objectivos são: Objectivar e tomar como neutra essa avaliação, embora tal seja discutível, por assentar em critérios e objectivos eleitos.
A avaliação, enquadrada neste contexto sistémico, desempenha um papel fundamental; no entanto, se parece clara a existência de avaliações, quer implícitas e espontâneas, quer institucionais, também é possível perceber como grande parte dessas construções carecem de solidez avaliativa a um nível mais exigente (porque planificado e intencional) de uma avaliação instituída; no mundo da escola ainda não passámos pelo teste da avaliação da sua cultura avaliativa e esse é, do meu ponto de vista o desafio das próximas gerações: formar cidadão passa pela institucionalização de uma cultura consciente e ponderada de avaliação, pois só desta forma o cidadão pode fundamentar estratégias de mudança qualitativamente melhores, exigir dos decisores políticos essas mudanças, participar nelas, num verdadeiro exercício de cidadania. Parece então que a avaliação está ao serviço de uma melhor adaptação a um espaço cada vez mais planificado e urbano.
Podemos então concluir que:
§ Na vida quotidiana, avaliamos e somos avaliados em permanência; avaliar supõe portanto um processo;
§ Ao longo da vida, ou melhor, na nossa interacção avaliativa, somos levados a ajuizar, a emitir pareceres, a ponderar prós e contras, a decidir;
§ A avaliação é então um processo em que, face a situações diversas do dia-a-dia, valoramos e tomamos decisões a partir de uma ponderação de razões;
§ Avaliar é também sinónimo de preferir; de facto, as nossas decisões têm por base preferências racionais;
§ Parece claro também que ao preferir racionalmente, estamos a inferir, isto é, a estabelecer uma relação entre juízos e a concluir racionalmente (formulando assim um raciocínio).
§ Assim, de um ponto de vista mais técnico, avaliar também significa também aferir, certificar;
§ Está ainda associada a uma busca de evidências que sustentem um argumento, num contexto dialógico e relacional;
§ De um ponto de vista antropológico, avaliar ou valorar significa apreciar de forma holística;


Bibliografia:

Barbier, J-C (1999). Inter-Governmental Evaluation: Balancing Stakeholders’ Expectations with Enlightenment Objectives. www.evi.sagepub.com
Damásio , A (1999). O Sentimento de Si. Publicações Europa –América. Lisboa
Damásio , A (2003) . Ao Encontro de Espinoza. Publicações Europa –América. Lisboa
Elola, N. ( 2001). Évaluación Educativa: uma aproximación conceptual. Material policopiado
Goleman, D. (1995). Inteligência Emocional. Temas e Debates. Lisboa
Morin, E (1995). Um Ano de Sísifo. Publicações Europa –América. Lisboa
Tozzi, M (1992). Apprendre à Philosopher dans les lycées d’aujourd’hui. Hachette Education. Paris

Isilda Silva (Maio-2008)

(AO) Escolas eficazes (4)

A minha visão

Os textos que se seguem neste âmbito (escolas eficazes) são o resultado das minhas observações na Escola durante ±20 anos de ensino. Todos observamos e todos temos ideias. Eu resolvi publicá-las.
Assim, nos textos anteriores com o mesmo tema assume-se a nossa incapacidade de se poder rotular uma escola de eficaz. Começaria no entanto, com toda a certeza e na minha perspectiva, para se poder fazer uma aproximação, por propor um fim para os projectos pró-forma nos moldes em que têm sido elaborados. Parecem-me ser treinos em inutilidade, massacrantes e masoquistas, tais como PEE, PCE e PCT (ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/11/ac-os-projectos-disto-e-projectos.html e http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/10/pee-um-treino-em-inutilidade.html).
O PCT (com outro nome, sem qualquer “P”) seria um documento simples onde se destacaria a caracterização da turma e os objectivos a atingir tendo como referência os definidos num ideário da Escola (não gosto do nome ideário, muito menos de PEE, mas, neste momento, não estou a lembrar-me de nada melhor).
Este ideário deveria ser publicitado na região (também não gosto do termo comunidade educativa tendo em conta a evolução da sociedade fazendo com que o seu significado não tenha nenhum sentido) a fim de todos os interessados o poderem ler e fazer a escolha da Escola o mais acertada possível sem qualquer limitação geográfica ou outra. Deveria ser anual, tendo em conta a actual velocidade da mudança dos paradigmas socioculturais e a consequente necessidade da adaptação aos paradigmas educacionais (e não o inverso, dado o peso que as economias têm nas sociedades), não ter mais do que 6 páginas A4 (mais capa, índice e introdução) e onde se destacaria:
1- Cursos existentes (oferta da Escola).
2- Características dos recursos materiais e serviços.
3- Características dos recursos humanos, sobretudo da classe docente.
4- Um excerto do RI com os aspectos mais importantes como por exemplo o horário de funcionamento da escola, como se resolvem os casos de indisciplina, um organigrama dos órgãos com as respectivas funções, e pouco mais (perguntem a um EE se sabe qual a função do CP). Os direitos e deveres dos alunos, professores e funcionários (bem como referências ao laicismo, por exemplo) são sobejamente conhecidos por todos, pois são baseados em leis gerais, em regras sociais básicas e em comportamentos e atitudes de civismo (informações do género: “é proibido deitar lixo para o chão”, são despropositadas). Não precisam de fazer parte nem encher qualquer documento interno.
5- Objectivos específicos (não os gerais da educação) expostos de uma forma clara, precisa e realista a que a Escola se propõem para o ano lectivo que se aproxima (por exemplo: taxas de sucesso esperadas em cada curso). Assim teriam de ser, quantificados, exequíveis sem grandes fundamentações teóricas, conhecidos e percebidos por todos de forma a serem dirigidos à comunidade e não somente a meia dúzia de eruditos. Qual o EE que leu o PEE da escola do seu educando? Mais estranho ainda: quantos professores leram o PEE da sua própria Escola?
6- Indicação dos objectivos a que se propôs atingir no ano anterior, quais as metas que foram atingidas e ainda as necessárias razões dos êxitos/inêxitos (chama-se a isto: prestação de contas).
Continua… para o próximo mês.

Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)

(AC) Escolas eficazes (3)

Uma outra visão teórica


Curiosamente, dentro das obras consultadas no domínio da eficácia escolar (nomeadamente em Nóvoa, 1992, com referencias a mais de uma dezena de estudos) e mesmo no relatório da OCDE (2006), não vislumbrei qualquer referência, de destaque, à necessidade das escolas seguirem ou orientarem-se por um PEE nem relacionam esse conceito com a animação de actividades extracurriculares. Enumeram-se uma série de características essenciais não existindo qualquer ênfase nas eventuais correlações positivas entre eficácia escolar e o PAA (o principal instrumento de operacionalização do PEE). Este facto pode levar-nos a concluir, numa primeira e breve análise, que para uma escola ser eficaz, no conceito geral depreendido dos autores estudados muito próximo de escola de qualidade, não necessita das orientações dum PEE, pelo menos do modo formal tal como é exigido às escolas através da diversa legislação. No entanto, deduz-se que esses instrumentos têm de estar presentes, ainda que de uma forma implícita. Em Crato (2006) a ideia transmitida parece ser também no sentido contrário dos “P”, ou seja, deve dar-se mais importância aos conteúdos programáticos em detrimento de excessivas actividades, pois, segundo o autor, o aluno não chega lá sozinho através de projectos. Outros dos factores que me parece importante, e pelos vistos não lhe é atribuído qualquer relevância, é a falta de reflexões sobre o paradoxo que existe na avaliação dos alunos. Durante a frequência das aulas valorizam-se itens como o socio-afectivo, bem como a participação em actividades extracurriculares do PAA promovidas pelo professor ou mesmo pela escola. Acontece, posteriormente, que o aluno é sujeito a um exame. E aqui essa vertente da avaliação não é contemplada, reflectindo-se na disparidade de classificações entre os resultados da frequência lectiva e dos exames.
Sabe-se através dos rankings anuais disponibilizados pelo ME, que as escolas não são estáveis no que se refere aos resultados escolares dos alunos, pondo em causa todas as variáveis referidas nos diversos estudos citados, ou seja, as “boas escolas” deste ano não são forçosamente as melhores do próximo. Pode-se concluir, então, que nessas listas onde as médias são o mais preponderante indicativo “ocultam importantes diferenças, constituindo uma base de apoio frágil para a aplicação de novas políticas escolares” (Good e Weinstein, in Nóvoa, 1992).
Na ligação entre eficácia escolar e resultados escolares, parece que os professores têm de guardar grande parte das suas energias para a sala de aula e uma pequena parte para a participação decretada em projectos pró-forma sem qualquer utilidade para os alunos. Teixeira (1995) também concluiu que os professores valorizam mais o trabalho feito na sala de aulas que os desenvolvidos fora desta. Dou um exemplo que poderá muito bem ser a realidade em grande parte das escolas: é necessário elaborar o PCT; então, precisamos (1) saber o que é o PCT, ou, se não quisermos estar com esse trabalho, (2) pegamos num já elaborado e adaptamo-lo à nossa turma numa lógica de robotizar as acções. Deste modo, ficamos com as nossas obrigações cumpridas e com uma estranha tranquilidade de consciência. Se quisermos seguir a primeira possibilidade, numa de profissionalismo, precisamos conhecer o PCE. Mas, e se ele não existir (que é o mais natural)? Então seguimos a segunda hipótese. Arranja-se depois um grande dossiê onde se juntam todos os PCT da escola. Eis que, desta maneira, elaborámos também o PCE. Isto é o que parece passar-se na generalidade das escolas. Ou seja um desgaste de energias que, provavelmente, seriam mais importantes, dentro da sala de aulas.
Gostaria de falar ainda do clima escolar (que, provavelmente, irá ter uma importância acrescida na avaliação de desempenho docente no item observação de aulas). Nóvoa (1990, cit. Teixeira, 1995, p. 165) diz que o “conceito de clima encerra dificuldades que ainda não foi possível ultrapassar”, no entanto penso que o poderemos reduzir à expressão seguinte, pois todas as definições encontradas na obra de Teixeira (idem) vão ao seu encontro: “o clima de uma organização é aquilo que os actores organizacionais “apercebem e sentem” dessa organização” (Gaziel, 1987, cit. idem, p. 165). Esta parece-me ser a definição implícita (consciente ou inconscientemente) que a maioria das pessoas tem e também como é apercebida pelos professores. Nesta relação professores/escola é importante o estudo do clima organizacional, dado que a motivação e o clima têm uma forte correlação positiva (tal como é realçado por Teixeira, 1995, citando Schneider e Reichers). Teixeira (idem) atribui uma importante fatia à eficácia organizacional, englobando as variáveis assinaladas em cima, para se conseguir uma eficácia educativa. De acrescentar o que refere Jesus (1996, p. 11): “(...) o adequado funcionamento do Sistema Educativo, a qualidade do ensino e a própria motivação do aluno passa pela motivação e realização profissional do professor”.

Referências bibliográficas
· CRATO, Nuno – O “Eduquês” em Discurso Directo – Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista. Lisboa: Gradiva, 2006
· JESUS, Saúl N. – Motivação e Formação de Professores. Coimbra: Quarteto Editora, 1996
· NÓVOA, António (org.) – As Organizações Escolares em Análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992
· NÓVOA, António (org.) – Vida de Professores. Porto: Porto Editora, 1992
· TEIXEIRA, Manuela – O Professor e a Escola – Perspectivas Organizacionais. Amadora: McGraw-Hill, 1995

Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)