(AO) As listas, os protestos, as coerências, as manifestações, as revoltas, as razões, as cedências, as adaptações, os ordenados, as carreiras, as

reformas, os medos, os poderes, as obrigações,… e os professores.
Uma critica à facilidade com que os professores esquecem as razões das suas lutas

Escolas com listas para o Conselho Geral tal com a ministra planeou. Talvez não tivesse previsto que existiriam tantas com mais do que uma.
Eram mais de 100.000 professores em Lisboa, ou seja, quase todos. Manifestavam-se contra quê? Quais seriam as suas motivações? Será que estavam a brincar às guerras? Será que gostam de se manifestar, de contestar, seja porque motivo for? A conclusão é notória: as listas estão cheias dos que andaram por lá com uma alegria inexplicável ao jeito de um carnaval, a protestar, a favor ou contra sei lá do quê. Vamos ver, ainda, se os avaliadores dos professores, os tais que andaram a abanar bandeirinhas, não se empolgarão e no deslumbramento desse estatuto não prejudicarão os seus colegas das lutas. Estes últimos, com toda a certeza, possuidores de cursos académicos vocacionados para a profissão com carradas de disciplinas pedagógicas que os primeiros não tiveram. Quem terá moral para dizer a um desses que não serve para a profissão atribuindo-lhe uma má classificação depois de ter sido acreditado por uma escola superior? Quem terá coragem para dizer a outro com 30 anos de serviço que andou todos estes anos a leccionar mal? Que coisa estranha colegas!
De notar que ninguém foi obrigado a apresentar listas. Sendo assim, será que só o fizeram por solidariedade? Será que gostam de poder? Será que não gostam de ficar abaixo dos outros? Será que se deixam arrastar por outros só para depois não terem represálias? Será que são pagos pelo “aparelho” para o fazer? Ou será que só apresentaram listas porque os outros são muito maus?
Respostas não tenho, mas tenho outras conclusões: os professores, sendo uma classe potencialmente forte com grande poder reivindicativo na sociedade, são divertidos prontos para uma boa brincadeira em jeito de “manif” ou através do reenvio de mails com “piadolas”, são naturais contestatários ou até rebeldes, mas, são também flexíveis, esquecidos, muito esquecidos, adaptáveis e medrosos. Baixamos as calcinhas na segunda ameaça e, se for preciso, preparamos o caldo para lixar os outros conforme as directrizes prepotentes dos que nitidamente estão de passagem e que aparentemente combatemos. Mas estamos sempre prontinhos para falar mal desses modelos impostos. Basta juntar-se um grupo fixe numa mesa recatada da sala dos professores.
Depois disto o melhor mesmo é fazer a minha vidinha: entregar os papeizinhos todos, assinar os abaixo-assinados, ir às sardinhadas, rir, rir muito, falar mal do governo, da ministra, dizer que ando cansado, que não sei para onde me virar, que isto cada vez está pior, apontar uma vírgula ou outra a um dos colegas contratados, andar de pasta, de pc, talvez usar óculos, murmurar, dizer que aquilo (uma coisa qualquer, não interessa) está mal feito, colar-me nos bancos em reuniões e se possível votar a favor para que elas se prolonguem mais do que 2 horas, fazer uma ou duas greves por ano,… Ah! E vou ver se não me esqueço de votar numa das duas listas da minha Escola, não vá alguém reparar que não apareci, ou que votei em branco ou mesmo nulo.

Luís Filipe Firmino Ricardo (Out-2008)

(AO) Ensinar e Aprender

Uma reflexão sobre os dois conceitos

Ensinar e aprender são duas actividades distintas. Pode-se ensinar sem que alguém aprenda o que quer que seja e pode-se aprender sem que haja alguém a ensinar.
Na sala de aula, temos o professor que, supostamente, deve ensinar os alunos e temos os alunos que, supostamente, devem aprender aquilo que o professor pretende ensinar. No entanto, a realidade tem mostrado que, em muitas turmas, mais de 50% dos alunos não aprendem os mínimos que supostamente deveriam aprender.
Evidentemente que as causas para este insucesso são diversificadas, como sabemos. O nosso objectivo, neste texto, não é o de dissecar as múltiplas causas do insucesso escolar do aluno, mas apenas o de pôr em confronto estes dois conceitos, estas duas actividades que são: ensinar e aprender.
Suponhamos então que os alunos da nossa turma são atentos, são disciplinados e gostam de aprender. Continuamos a dizer que, mesmo nestas circunstâncias, ensinar e aprender são duas realidades de tal maneira distintas que podem conduzir ao insucesso da turma.
Por que razão (ou razões), então, aquilo que se ensina não é aprendido?
Na verdade, há variadíssimas razões para o facto, as quais podem conduzir a um insucesso na turma, maior ou menor consoante a disparidade entre aquilo que se ensinou e aquilo que se aprendeu.
Assim, temos, entre outras, as seguintes razões:
1. O professor não sabe expressar convenientemente os seus pensamentos, as suas ideias.
2. O professor comete erros técnicos, com alguma frequência, que vêm a revelar-se nefastos (originando contradições, incoerências, etc.) para a correcta aprendizagem do aluno.
3. O professor parte do princípio que o aluno já sabe determinados conceitos (pré-requisitos), quando não é verdade.
4. O professor utiliza uma linguagem que os alunos têm dificuldade em compreender, ou compreendem-na erradamente.
5. O professor explica os assuntos com um ritmo demasiado elevado para a adequada assimilação por parte dos alunos em presença, ou ainda em função da complexidade da matéria.
6. O professor tem deficiências pedagógicas graves, não utilizando correctamente as regras da pedagogia e as técnicas da boa comunicação.
7. O professor encontra-se a um nível de conhecimentos demasiado elevado relativamente ao dos alunos e não consegue descer ao nível das suas dificuldades.
Estas são algumas das razões que podem explicar o abismo que muitas vezes existe entre aquilo que se ensina e o que se aprende!
Na verdade, todas as razões apontadas são válidas e cada professor, ao longo da sua carreira, já teve algumas delas em maior ou menor grau. Com a experiência entretanto adquirida, vai limando arestas e algumas das suas deficiências vão desaparecendo, ao longo do tempo. Não queremos dizer que o professor se torna um profissional perfeito, sem deficiências, mas apenas que se torna cada vez melhor. Há, no entanto, professores que evoluem mais do que outros – são professores mais competentes – tal como há alunos que evoluem mais do que outros – são melhores alunos.
O bom professor deve ser competente tecnicamente, competente pedagogicamente e competente emocionalmente. Nem sempre se encontram estes três requisitos no mesmo professor. Há professores que são bons tecnicamente e falham nas duas restantes competências. Assim como há bons professores no âmbito pedagógico e não o são tanto no campo técnico. Outros falham no campo emocional, não se auto-controlando convenientemente ou não sendo capazes de (ou não querem) assumir uma atitude de aproximação afectiva em relação aos alunos.
Sendo assim, não é para admirar que cada professor tenha as suas falhas e não consiga transmitir convenientemente ao aluno aquilo que pretende ensinar, isto é, a mensagem enviada não chega ao destinatário!
Assim, é importante que o professor:
1. Saiba utilizar uma linguagem adequada
2. Evite, o mais possível, cometer erros técnicos
3. Saiba utilizar as boas regras da pedagogia e técnicas da comunicação
4. Saiba descer ao nível dos conhecimentos do aluno
5. Faça a ligação adequada entre as matérias a leccionar e as matérias já leccionadas ou aos pré-requisitos
6. Tenha uma boa relação de proximidade e afectividade com os alunos
Estas são algumas das condições necessárias para que a diferença entre o que se ensina e o que se aprende seja reduzida ao mínimo possível. Reduzir totalmente essa diferença é impossível, pois que há outros factores em jogo, nomeadamente a atenção do aluno ou a motivação em relação a cada matéria.
Talvez que um dia seja possível a cada aluno ler o pensamento do professor, como se se tratasse de um computador a ler o conteúdo de um disco rígido, e talvez então seja possível que aquilo que se pretende ensinar seja totalmente aprendido, por transferência entre cérebros!

José Vagos Carreira Matias (Out-08)

NOTÍCIAS

Sempre que esbarrar com as mais curiosas, publico-as de imediato nesta separata. Procurarei condensá-las o mais possível e indicar a sua fonte. Assim, além dos textos publicados no início de cada mês, esta revista será actualizada mais frequentemente aqui neste espaço.
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“Demerval Saviani o mais conhecido pedagogo marxista brasileiro, defende em entrevista à Rubra, que o professor assuma como tarefa principal a de ensinar os alunos, deitando para o lixo as falsas teorias «da inclusão», que só servem para nivelar por baixo. Contra a pedagogia autoritária mas também contra as teorias dominantes na esquerda, que vêm dos anos 70, e que na verdade só servem para justificar a manutenção do statu quo. A escola não é um «lar», um prolongamento da família, mas sim um espaço onde os nossos filhos se preparam cientificamente, onde aprendem a conhecer o que de melhor no campo da ciência, da arte, da cultura a humanidade produziu. Há muito para aprender a sério. Ao professor deve ser devolvida a sua função: ensinar”.
Revista Rubra nº 3 (Outubro-2008)
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5000 docentes já pediram a reforma antecipada só este ano lectivo.
TSF (Notícias das 17h00m 13-Outubro-2008)
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“Um em cada três dos 500 inquiridos [professores] respondeu ter sido vítima de alguma agressão física ou verbal no ano lectivo de 2006/2007”. A notícia acrescenta que 23,9% consome psicofármacos, 27,2% procura ajuda psicológica e 42,4% apresenta sintomatologia depressiva.
Público (08-Outrubro-2008)
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“Uma sondagem sobre a evolução do ensino em Portugal, efectuado pelo jornal Correio da Manhã revela que 41,6 por cento dos portugueses considera que, actualmente, a educação está «pior» enquanto 43 por cento diz que está melhor”.
Correio da Educação nº332
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“Escolas querem notas dos alunos fora da avaliação”. No seguimento desta notícia, parece haver escolas que se preparam para suspender todo o processo de avaliação dos professores. O Conselho Científico para a Avaliação Docente (CCAP), órgão criado pela tutela do ministério, também aponta no sentido das classificações atribuídas aos alunos serem “usadas com muita cautela” e refere num relatório que a avaliação docente corre o risco de se tornar um acto irrelevante nos aspectos fundamentais, ou seja, não trará melhorias na aprendizagem do aluno nem no desenvolvimento da carreira docente.
JN (29-Setembro-2008)
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Ao que parece existe um rapaz que não sabe ler, não sabe escrever e não sabe “fazer contas” e está matriculado no 8ºano na Escola Silva Gaio em Coimbra. Os pais do aluno também estão estupefactos e referem que “o nosso filho precisa muito mais do que aquilo que lhe dão”. Concerteza que os objectivos de alguém estão a ser cumpridos.
Diário da Beiras (25-Setembro-2008)
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“As famílias portuguesas gastam em média 118 euros [por mês] em apoio extra-escolar para os filhos (…) A conclusão é de um estudo da Universidade de Aveiro”.
Metro (22-Setembro-2008)
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