(AO) A avaliação

Uma critica às contradições de uns e de outros
O processo de avaliação dos professores encontra-se numa grande confusão, em que todos os protagonistas - ministério, sindicatos e professores - tentam, de algum modo, salvar a face. A ministra, que até aqui parecia um muro de betão armado, começa a dar sinais de evidente recuo, ao aligeirar, desarranjadamente, aquilo que apresentou como um projecto final. Acontece que as alterações propostas implicam, neste momento, uma confusão acrescida, em que o que era obrigatório antes, se tornou agora alternável, assim como varia - e de que maneira - o grau de importância de certos procedimentos. Ora, tudo isto nos faz reflectir sobre a efectiva capacidade da gente que gravita nos corredores do ministério da educação. A mim, pessoalmente, nunca me enganaram, ao contrário do que se passou com a maioria dos comentadores políticos da nossa praça, que sempre vislumbraram em Maria Lurdes Rodrigues uma espécie de D. Sebastião de saias. Alguns ainda resistem no panegírico. Mas estou em crer que esse (apesar de tudo) parco clima laudatório que ainda subsiste tem mais a ver com o desconhecimento do processo educativo. O regozijo com que a Ministra e Secretários de Estado se manifestaram relativamente à subida da média nacional de algumas disciplinas é exemplo da maneira como a educação é encarada. É que ninguém pode acreditar que, de um ano para o outro, a "reforma" (naturalmente entre aspas) começa a dar resultados palpáveis. Em educação, qualquer processo transformador tem que aguardar alguns anos (um ciclo de estudos?) para que os somatórios se possam espelhar num quadro comparativo. O PISA 2009 está aí à porta e, ou muito me engano, ou vamos ter uma grande decepção.Por outro lado, os sindicatos não estão, neste momento, numa situação melhorada. Vieram agora com a exigência (normal e aconselhável) de suspender o processo de avaliação, ao mesmo tempo que propõem uma espécie de documento de auto-avaliação, o qual será acompanhado pelo conselho pedagógico. Dizem eles que é "uma solução simples, não administrativa e focada na vertente pedagógica que permita aos docentes serem avaliados este ano". Pois está visto que sim. Simples até demais. Na verdade, mais simples do que o que existia até então. A mensagem desta proposta não pode ter vindo na pior altura. Bastava aos sindicatos afirmarem desavergonhadamente, o seguinte: nós propomos reconstrução da avaliação que existia. Ponto final. Seria, portanto, a base de trabalho de um novo processo de avaliação. O que agora os sindicatos alvitraram é pior do que existia. A situação a que se chegou é, pois, caricata: de um lado, o ministério a remendar o que, concludentemente, sugeriu; do outro, o sindicato a inventar, aligeirando ainda mais o modelo que existia. Dito de outra maneira, ambos estão presos às suas próprias irredutibilidades.

José Ricardo (Nov-2008)