(AO) Alguns erros na avaliação de desempenho docente

Uma reflexão sobre os factos

Apesar de se vislumbrarem análises, aparentemente válidas e sábias, onde podemos prever que o modelo em discussão de avaliação de desempenho docente (Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10 de Janeiro) não contribui para o desenvolvimento da carreira ou que não traz vantagens para a aprendizagem dos alunos (dito desta maneira, não passam de palavras sem qualquer fundamento), nunca, mas nunca mesmo, o poderíamos provar uma vez que qualquer resultado se poderia atribuir a outro qualquer factor dos milhentos existentes.
Para complementar os textos que escrevi anteriormente (ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2008/03/ao-avaliao-de-desempenho-docente.html e http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2008/02/ao-aulas-assistidas-est-aberta-poca-do.html ) apresento a seguir alguns pontos factuais que em nada abonam este modelo (tenho a certeza que os seus mentores também concordarão). De acrescentar que sou um professor dentro deste turbilhão e que “isto” não se trata de nenhuma investigação onde a proximidade ao objecto de estudo poderia alterar a lucidez necessária (o que se poderá considerar, quando muito, é rotularem-me de agente). Já agora confesso uma coisa: não consigo ouvir seja quem for a falar dos problemas do professor se não estiver envolvido neles (“atrevem-se” até a indicar as razões desta ou daquela medida e apresentar soluções com uma firmeza surpreendente como se andassem pelas escolas todos os dias - ver: http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/12/ao-onde-esto-as-respostas.html ).
Passo a expor então alguns pontos que deitam abaixo qualquer tentativa de implementação desta avaliação:
. O actual modelo foi elaborado por pessoas que não são professores. Facilmente se constatará que ninguém conhecerá as funções e os problemas dos professores tão bem como os próprios. Começa por aqui todo este imbróglio.
.Todos os professores têm um certificado de habilitações superior. Se duvidam que algum professor não está apto para exercer a profissão, será de todo necessário começar por avaliar quem lhe deu essa acreditação académica. Entenda-se: professores do superior e as respectivas instituições.
. Neste modelo imposto poderia acontecer que professores com menor grau académico pudessem avaliar outros com mais habilitações. Eu não teria essa ousadia a não ser que se baseasse somente na observação de procedimentos (se entregou este ou aquele papel, se chegou atrasado e/ou coisinhas assim).
. Os professores avaliadores concorreriam às mesmas cotas de progressão que os professores avaliados. Sem comentários.
. Por força das relações sociais e humanas dentro da comunidade, constatar-se-ia que o avaliador seria muitas vezes “afilhado, padrinho, vizinho,… ” do avaliado.
. Sabe-se que não existem comunidades iguais, escolas iguais, turmas iguais e alunos iguais. Mesmo assim, pretendia-se que as classificações dos alunos tivessem influência no resultado da avaliação do professor. Só quem nunca deu aulas quatro anos seguidos ou alguém que nunca reflectiu sobre as mudanças dos paradigmas socioculturais, económicos e educacionais é que poderá valorizar um item destes na avaliação dos professores.
. Pelas mesmas razões do ponto anterior os motivos dos abandonos também não poderão resultar numa classificação a ser atribuída ao professor.
Parece-me então que o modelo de avaliação docente, se se pretender justo e sério, não poderá ser baseado em opiniões nem pareceres dos confrades e muito menos na observação de aulas encenadas. Parece-me ainda que uma tabela numa folha A4 seria o suficiente para avaliar as funções gerais do professor (sublinho gerais porque, forçosamente, ficaria de fora todo o investimento emotivo e financeiro – e aqui cada um de nós julga-se campeão) onde se poderiam destacar os seguintes itens:
· 1 actividade desenvolvida no PAA, 1 ponto; 2 actividades, 2 pontos (e por aí adiante);
· leccionação de 1 nível, 1 ponto; 2 níveis, 2 pontos (e por aí adiante);
· leccionação a 1 turma, 1 ponto; 2 turmas, 2 pontos (e por aí adiante);
· 1 cargo, 1 ponto; 2 cargos, 2 pontos (e por aí adiante);
· 1 acção de formação, 1 ponto; 2 acções, 2 pontos (e por aí adiante);
· …
O que se poderia discutir seria apontar quais os itens quantificáveis e o balizamento destes pontos na atribuição das classificações para progressão.

Luís Filipe Firmino Ricardo (Dez-2008)