(AO) Ensinar e Aprender

Uma reflexão sobre os dois conceitos

Ensinar e aprender são duas actividades distintas. Pode-se ensinar sem que alguém aprenda o que quer que seja e pode-se aprender sem que haja alguém a ensinar.
Na sala de aula, temos o professor que, supostamente, deve ensinar os alunos e temos os alunos que, supostamente, devem aprender aquilo que o professor pretende ensinar. No entanto, a realidade tem mostrado que, em muitas turmas, mais de 50% dos alunos não aprendem os mínimos que supostamente deveriam aprender.
Evidentemente que as causas para este insucesso são diversificadas, como sabemos. O nosso objectivo, neste texto, não é o de dissecar as múltiplas causas do insucesso escolar do aluno, mas apenas o de pôr em confronto estes dois conceitos, estas duas actividades que são: ensinar e aprender.
Suponhamos então que os alunos da nossa turma são atentos, são disciplinados e gostam de aprender. Continuamos a dizer que, mesmo nestas circunstâncias, ensinar e aprender são duas realidades de tal maneira distintas que podem conduzir ao insucesso da turma.
Por que razão (ou razões), então, aquilo que se ensina não é aprendido?
Na verdade, há variadíssimas razões para o facto, as quais podem conduzir a um insucesso na turma, maior ou menor consoante a disparidade entre aquilo que se ensinou e aquilo que se aprendeu.
Assim, temos, entre outras, as seguintes razões:
1. O professor não sabe expressar convenientemente os seus pensamentos, as suas ideias.
2. O professor comete erros técnicos, com alguma frequência, que vêm a revelar-se nefastos (originando contradições, incoerências, etc.) para a correcta aprendizagem do aluno.
3. O professor parte do princípio que o aluno já sabe determinados conceitos (pré-requisitos), quando não é verdade.
4. O professor utiliza uma linguagem que os alunos têm dificuldade em compreender, ou compreendem-na erradamente.
5. O professor explica os assuntos com um ritmo demasiado elevado para a adequada assimilação por parte dos alunos em presença, ou ainda em função da complexidade da matéria.
6. O professor tem deficiências pedagógicas graves, não utilizando correctamente as regras da pedagogia e as técnicas da boa comunicação.
7. O professor encontra-se a um nível de conhecimentos demasiado elevado relativamente ao dos alunos e não consegue descer ao nível das suas dificuldades.
Estas são algumas das razões que podem explicar o abismo que muitas vezes existe entre aquilo que se ensina e o que se aprende!
Na verdade, todas as razões apontadas são válidas e cada professor, ao longo da sua carreira, já teve algumas delas em maior ou menor grau. Com a experiência entretanto adquirida, vai limando arestas e algumas das suas deficiências vão desaparecendo, ao longo do tempo. Não queremos dizer que o professor se torna um profissional perfeito, sem deficiências, mas apenas que se torna cada vez melhor. Há, no entanto, professores que evoluem mais do que outros – são professores mais competentes – tal como há alunos que evoluem mais do que outros – são melhores alunos.
O bom professor deve ser competente tecnicamente, competente pedagogicamente e competente emocionalmente. Nem sempre se encontram estes três requisitos no mesmo professor. Há professores que são bons tecnicamente e falham nas duas restantes competências. Assim como há bons professores no âmbito pedagógico e não o são tanto no campo técnico. Outros falham no campo emocional, não se auto-controlando convenientemente ou não sendo capazes de (ou não querem) assumir uma atitude de aproximação afectiva em relação aos alunos.
Sendo assim, não é para admirar que cada professor tenha as suas falhas e não consiga transmitir convenientemente ao aluno aquilo que pretende ensinar, isto é, a mensagem enviada não chega ao destinatário!
Assim, é importante que o professor:
1. Saiba utilizar uma linguagem adequada
2. Evite, o mais possível, cometer erros técnicos
3. Saiba utilizar as boas regras da pedagogia e técnicas da comunicação
4. Saiba descer ao nível dos conhecimentos do aluno
5. Faça a ligação adequada entre as matérias a leccionar e as matérias já leccionadas ou aos pré-requisitos
6. Tenha uma boa relação de proximidade e afectividade com os alunos
Estas são algumas das condições necessárias para que a diferença entre o que se ensina e o que se aprende seja reduzida ao mínimo possível. Reduzir totalmente essa diferença é impossível, pois que há outros factores em jogo, nomeadamente a atenção do aluno ou a motivação em relação a cada matéria.
Talvez que um dia seja possível a cada aluno ler o pensamento do professor, como se se tratasse de um computador a ler o conteúdo de um disco rígido, e talvez então seja possível que aquilo que se pretende ensinar seja totalmente aprendido, por transferência entre cérebros!

José Vagos Carreira Matias (Out-08)