(AO) Onde estão as respostas?

Uma crítica ao não aproveitamento do potencial dos professores de um determinado nível para a resolução das crises desse mesmo nível

Maria Filomena Mónica teve a humildade de reconhecer que não tem muita autoridade para falar dos professores (entenda-se, professores do ensino não-superior) apesar de conhecer alguns e já ser avó. Mas sempre disse, e bem, que “Um professor precisa de uma sólida preparação de base, prestígio junto da comunidade e autonomia de acção” (Jornal Público, 1-11-2007). Ora bem, já Hermann Hesse dizia que “Ninguém pode ver nem compreender nos outros o que ele próprio não tiver vivido” (lá estou eu a repetir esta frase de novo). Assim, parece-me que algumas das soluções para a crise na escola estarão na voz dos que “vivem” lá dentro. Só algumas soluções, porque a história tem-nos dito que esta crise sempre existiu e por previsão nunca acabará. Ou seja, acredito que os professores do secundário têm muitas respostas para as perguntas relacionadas com a escola secundária, os professores do superior possuem a solução para muitos problemas da escola superior, assim como os educadores são donos da grande parte das respostas para a crise do ensino pré-escolar. São realidades e necessidades com objectivos (específicos) diferentes.
Não acredito que sejam os professores do secundário que erram sistematicamente todos os anos nos enunciados dos exames às suas disciplinas. Também não acredito que os professores do secundário sejam ouvidos pelo legislador. Mas, acredito que ouça os professores doutores que apesar de alguns deles terem feito investigações com um carácter etnográfico num curto espaço de tempo, contrariando de algum modo as normas deste método, não têm nem ficam com a sensibilidade e conhecimento do professor que faz parte desse sistema durante largos anos, embora também se saiba que o excesso de proximidade pode provocar alguns constrangimentos. Mas mais constrangimentos existirão se o observador andar por ali “disfarçado”, como se não estivesse a ser visto, assistindo a reuniões, assistindo a aulas, etc. Assim, tendo consciência de todos estes obstáculos, parece-me que as vantagens que o actor dispõe se sobrepõem de sobremaneira às vantagens do espectador.

Luís Filipe Firmino Ricardo (2007)

(AO) Faltas ou responsabilizar?

Uma reflexão sobre a vantagem de aulas livres, sem marcação de faltas

Sou a favor da não marcação de faltas aos alunos que frequentam o ensino não-obrigatório. Não é justo reter um aluno que prova saber só porque faltou, assim com não é justo passá-lo sem saber só porque esteve presente. A malha larga do sistema tem valorizado de sobremaneira este último.
No meu início da pré-carreira, sem qualquer estágio pedagógico, quando me sentia livre, sem vínculo, sem saber se este seria o meu futuro, dizia assumidamente aos meus alunos do secundário (duas turmas, sete níveis) que não lhes marcava faltas (felizmente não tive nenhuma consequência penal). Só deviria vir à aula quem quisesse aprender, quem precisasse, quem necessitasse, quem achasse útil. Cometi, provavelmente, um “crime” aos olhos de muitos, mas, como disse, estava descomprometido, tinha desculpas pois era somente um aspirante (ou candidato, mais dentro da óptica da ministra) a professor. A verdade que é essa minha posição resultou muito bem. Tive excelentes resultados, criei bons alunos e tinha muito boa assiduidade. Foram os três primeiros anos da minha profissão e foram os que ainda recordo com mais saudade. Foram os que trabalhei mais em termos lectivos, foram os que trabalhei menos em “projectos e cartazes”, mas também foram os que me impulsionaram a escolher a carreira, pois, sentia-me na verdade um professor, ao contrário de hoje que me sinto muito mais educador. Os encarregados de educação (EE) que me perdoem se continuo a dizer aos seus educandos que não gosto que me tratem por “você”, apesar deles replicarem, repetidamente, que são os seus pais que lhes dizem que deve ser assim.
Sabemos que não há dois alunos iguais. E para podermos dar mais atenção aos que mais necessitam (aos que mais necessitam), como nos pedem e como tem de ser, temos de poder dispensar os que estão uma fase, seja porque motivo for, mais adiantada. E se provarem, em exame, que adquiriram os conhecimentos necessários para a passagem de nível, qual o drama se os acreditarmos? Esta posição teria também a vantagem de controlar a indisciplina na sala de aulas, porque o que acontece agora é o professor dar mais atenção a quem tem dificuldades perdendo a atenção nos outros dando azo a uma “natural” bagunça. Há dias um colega dizia-me simplesmente isto: “preencher o livro de ponto na sala de aulas é um minuto que perco de atenção neles”. É que isto mudou! As aulas agora são diferentes das de há 20 anos. Assim, só estaria presente quem estivesse realmente interessado. Ninguém seria obrigado. Seria excelente se os alunos que faltassem apresentassem uma alternativa de estudo como, por exemplo, marcarem presença na biblioteca a estudar para outra disciplina. Obviamente que todas as não-presenças teriam de ser registadas e comunicadas, imediatamente, aos respectivos EE. Com toda a tecnologia que temos hoje (mail, sms, …) não seria difícil o director de turma fazer essa gestão diariamente (semanalmente, talvez). É que, como o nome indica, os EE são os que têm maior responsabilidade na educação dos alunos. Os professores deveriam ter mais tempo, mais energia, para instruir os que realmente precisam fazendo uso da sua principal função. Mas também se entende este aparente divórcio EE-Escola. Com este frenético aumento do ritmo de vida, o tempo não chega para tudo e, sobretudo por esta razão, os EE “entregam-nos” os seus educandos na maior das confianças.

Luís Filipe Firmino Ricardo (2007)