Uma critica à (sobre)valorização das aulas assistidas no que respeita à avaliação do desempenho docente
As aulas não são mais do que um compósito de momentos sequenciais, diferentes, de interacção entre professores e alunos onde as estratégias podem ter de ser alteradas em qualquer momento tendo em conta, a especificidade dos alunos, a reacção destes à matéria leccionada e, até, à disposição momentânea dos intervenientes, ou seja, alteradas de acordo com as diversas conjecturas inesperadas, impossíveis de as prever por mais esforço que façamos, pois a escola não passa de uma organização do tipo anárquico no que respeita à previsão das situações (Brandão, 1999) comparando-se até, como referem vários autores, o ensino a uma arte (por exemplo: Vieira, 2008). Mais: essas estratégias estandardizadas podem resultar num sucesso para uns e um autêntico fracasso para outros tendo em conta os traços de personalidade dos “actores”, todos diferentes. Sendo assim, parece-me que o avaliador de desempenho docente, que só vai às aulas dos outros para observar a “relação pedagógica com os alunos” (DR, 2/2008), não assista a mais do que uma peça ensaiada. O professor que siga à risca o plano de aulas, previamente definido, está a fazer um mau trabalho. Estará em contradição com a essência do seu serviço ou estará a teatralizar. Ninguém consegue prever qual o feedback que esses alunos irão ter e quais os casos, da mais variada ordem, que poderão obrigar a mudar o rumo dos acontecimentos. E o avaliador também não conseguirá estar ali, como se de um móvel se tratasse, sem provocar constrangimentos quer ao professor, quer aos alunos, e, quer a ele próprio. Mas atenção! Repito: ele só vai avaliar, nessa observação, a “relação pedagógica”, ou seja, de uma maneira geral, vai observar o clima, o ambiente, da aula, que, se não for agradável, poderá ser-lhe imputada essa responsabilidade. Espero, assim, que o avaliador (colega professor) não se deslumbre e assuma o seu papel de um mero funcionário nessa obrigação não se alinhando à retórica. Espero ainda que coloque as cruzinhas no local certo, sem aborrecer ninguém, pois dever-se-á lembrar que estamos a ser altamente prejudicados pelas nossas politicas educativas: há três anos que temos as carreiras “congeladas” e quando forem “derretidas” serão ligadas a uma absurda taxa predefinida de progressão e, ainda, apelidam-nos até de “professorzecos” conforme denunciou a FENPROF no dia 25-1-2008 em nota dirigida à imprensa. Não deverá basear-se no que lhe parece (por mais despido de preconceitos que esteja e por mais diferenças que possa vislumbrar tendo como referência ele próprio) e terá de ter em conta que poderá estar a avaliar colegas que estão mais habilitados do que ele, quer ao nível pedagógico quer ao nível científico. E ao nível pedagógico não será difícil isso acontecer, pois os mais novos (os avaliados) estão muito mais preparados do que os mais velhos (os avaliadores) nesta vertente. É bom reconhecer esta espantosa curiosidade. Existem, assim, vários paradoxos que deveriam ser descodificados. Querem fazer de nós verdadeiros actores como a maioria dos autores nas ciências da educação nos chamam provavelmente com outro sentido mas, se calhar, chamam-nos mesmo comparando-nos a autênticos artistas.
Referências bibliográficas
· BRANDÃO, Margarida – Modos de Ser Professor. Lisboa: Educa, 1999
· Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10-Janeiro-2008 (avaliação de desempenho de pessoal docente)
· VIEIRA, Ricardo - Processo Educativo e Contextos Culturais. www.revistaensinareaprender.blogspot.com. Janeiro, 2008
Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)
Referências bibliográficas
· BRANDÃO, Margarida – Modos de Ser Professor. Lisboa: Educa, 1999
· Decreto Regulamentar nº 2/2008, de 10-Janeiro-2008 (avaliação de desempenho de pessoal docente)
· VIEIRA, Ricardo - Processo Educativo e Contextos Culturais. www.revistaensinareaprender.blogspot.com. Janeiro, 2008
Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)