Reflexão sobre a problemática de fazer estudos na escola.
Os autores “divertem-se” a definir (e contrariar) conceitos e nós a delimitá-los. Neste sentido, é de todo importante, clarificar os termos de modo a torná-los mais perceptíveis para cada caso particular. Não podemos (estudantes) ter a pretensão de os definir, simplesmente delimitá-los. Estudar a Escola é reflectir sobre um constante jogo de conceitos ambíguos. A tentativa, também ela constante, de escolher as melhores palavras relacionadas, que se adaptem do melhor modo à realidade do estudo, numa lógica de delimitação dos termos, é onde se pode encontrar grande parte da dificuldade e motivação para o realizar. Os temas são tão vastos e instáveis que o discurso se pode tornar inesgotável. Assim, nada pode ser dado como definitivo ou concluído, pois os objectos e sujeitos de estudo estão permanentemente em mudança pelas mais diversas e inesperadas razões. O trabalho que realizei (dissertação de mestrado) habituou-me a reflexões quase que obsessivas durante todo o tempo. Numa primeira e breve conclusão, retirei que o professor que pretenda envolver-se intimamente com a Escola, tem necessidade deste exercício mental. Mas atenção, parece-me que reflexões em demasia com o necessário isolamento que carecem, pode levar-nos a cair na tentação do “profeta da desgraça”, contrariando o optimismo que os professores necessitam de demonstrar.
Para realizar estudos na Escola, ao nível do mestrado, o uso de uma só abordagem metodológica será, provavelmente, insuficiente. A extensiva (quantitativa) permite-nos obter correlações e tendências, mas não as causas/motivações. Exemplificando: posso determinar que quanto maior for a idade dos inquiridos, menor será a o grau de participação. Se este resultado for ao encontro do objectivo do trabalho, fica-se por aqui (mas com a sensação que um estudo a este nível académico mereceria mais). No entanto, não se extraem as razões dessa correlação. Aparece aqui, a importância da abordagem intensiva (qualitativa), entendendo-se que o melhor conjunto de técnicas para “desocultar essa caixa negra”, se situam na variante etnográfica, que por si só também não chegarão por razões que se prendem com as dúvidas levantadas sobre a cientificidade do método. Para colmatar esta situação, a triangulação (combinação) dos métodos torna-se fundamental, assegurando deste modo, também, a validade do estudo (Carmo e Ferreira, 1998).
Bogdan e Biklen (1994), aconselham que não se deve fazer investigação na Escola onde se trabalha, apontando algumas razões baseadas no conhecimento prévio que naturalmente se tem do objecto de estudo, podendo existir algum obstáculo epistemológico no que se refere ao distanciamento e conhecimento das situações. Provavelmente, ter-se-ão essas dificuldades se os sujeitos do estudo tivessem tido ou prevejam ter, relações com o investigador. Aí sim, existirão constrangimentos em conseguir que esses “confrades” se entreguem de uma forma liberta e descomprometida, sabendo que nos próximos anos terão de conviver. Sendo assim, em melhor posição para estudar a Escola será certamente alguém que a conheça por dentro, devendo-se ter o devido cuidado em escolher o objecto/sujeito de estudo e os instrumentos adequados, para não se cair nessa armadilha epistemológica. O conhecimento prévio que o investigador tem do tema de estudo, poderá ainda, ser visto como uma vantagem no que respeita à elaboração dos inquéritos. Não se poderiam elaborar com eficácia, sob pena dos resultados não terem qualquer articulação com a parte teórica, caso não se tenha lido primeiro a bibliografia e redigido a fundamentação teórica. O trabalho então, arrastar-se-ia por alguns anos. O investigador neste caso já possui, naturalmente, muitas sugestões de perguntas. É que “(...) falando de mim mesmo, eu digo a verdade dos outros por procuração” Bourdieu (1992, cit. Vieira, 1998, p. 88). Assim, numa primeira fase (extensiva) encontraremos uma ajuda para nos direccionar para uma segunda fase (intensiva), podendo aqui, colmatarem-se eventuais faltas de questões, detectadas no decorrer da leitura bibliográfica e outras reflexões.
Bibliografia referenciada:
· BOGDAN, Robert; BIRKEN, Sari – Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora, 1994
· CARMO, Hermano; FERREIRA, Manuela M. - Metodologia da Investigação - Guia para Auto-aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta, 1998
· VIEIRA, Ricardo – Histórias de Vida e Etnografia na Análise das Representações e Práticas dos Professores – Separata dos Trabalhos de Antropologia e Etnologia Volume XXXVIII (1-2). Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, 1998
Luís Filipe Firmino Ricardo (2006)
Para realizar estudos na Escola, ao nível do mestrado, o uso de uma só abordagem metodológica será, provavelmente, insuficiente. A extensiva (quantitativa) permite-nos obter correlações e tendências, mas não as causas/motivações. Exemplificando: posso determinar que quanto maior for a idade dos inquiridos, menor será a o grau de participação. Se este resultado for ao encontro do objectivo do trabalho, fica-se por aqui (mas com a sensação que um estudo a este nível académico mereceria mais). No entanto, não se extraem as razões dessa correlação. Aparece aqui, a importância da abordagem intensiva (qualitativa), entendendo-se que o melhor conjunto de técnicas para “desocultar essa caixa negra”, se situam na variante etnográfica, que por si só também não chegarão por razões que se prendem com as dúvidas levantadas sobre a cientificidade do método. Para colmatar esta situação, a triangulação (combinação) dos métodos torna-se fundamental, assegurando deste modo, também, a validade do estudo (Carmo e Ferreira, 1998).
Bogdan e Biklen (1994), aconselham que não se deve fazer investigação na Escola onde se trabalha, apontando algumas razões baseadas no conhecimento prévio que naturalmente se tem do objecto de estudo, podendo existir algum obstáculo epistemológico no que se refere ao distanciamento e conhecimento das situações. Provavelmente, ter-se-ão essas dificuldades se os sujeitos do estudo tivessem tido ou prevejam ter, relações com o investigador. Aí sim, existirão constrangimentos em conseguir que esses “confrades” se entreguem de uma forma liberta e descomprometida, sabendo que nos próximos anos terão de conviver. Sendo assim, em melhor posição para estudar a Escola será certamente alguém que a conheça por dentro, devendo-se ter o devido cuidado em escolher o objecto/sujeito de estudo e os instrumentos adequados, para não se cair nessa armadilha epistemológica. O conhecimento prévio que o investigador tem do tema de estudo, poderá ainda, ser visto como uma vantagem no que respeita à elaboração dos inquéritos. Não se poderiam elaborar com eficácia, sob pena dos resultados não terem qualquer articulação com a parte teórica, caso não se tenha lido primeiro a bibliografia e redigido a fundamentação teórica. O trabalho então, arrastar-se-ia por alguns anos. O investigador neste caso já possui, naturalmente, muitas sugestões de perguntas. É que “(...) falando de mim mesmo, eu digo a verdade dos outros por procuração” Bourdieu (1992, cit. Vieira, 1998, p. 88). Assim, numa primeira fase (extensiva) encontraremos uma ajuda para nos direccionar para uma segunda fase (intensiva), podendo aqui, colmatarem-se eventuais faltas de questões, detectadas no decorrer da leitura bibliográfica e outras reflexões.
Bibliografia referenciada:
· BOGDAN, Robert; BIRKEN, Sari – Investigação Qualitativa em Educação. Porto: Porto Editora, 1994
· CARMO, Hermano; FERREIRA, Manuela M. - Metodologia da Investigação - Guia para Auto-aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta, 1998
· VIEIRA, Ricardo – Histórias de Vida e Etnografia na Análise das Representações e Práticas dos Professores – Separata dos Trabalhos de Antropologia e Etnologia Volume XXXVIII (1-2). Porto: Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, 1998
Luís Filipe Firmino Ricardo (2006)