Uma reflexão sobre uma profissão paradigmática no que respeita ao entendimento da I-A
Durante a elaboração de um cozinhado e depois da refeição reparei que o prato que costumo elaborar nunca é feito da mesma maneira pois procuro sempre acrescentar/retirar, sempre que o faço, um ou outro ingrediente no sentido de o melhorar depois de fazer a respetiva prova e ouvir a opinião dos destinatários.
Lembrei-me de um amigo meu cozinheiro, que trabalha numa cantina, que nunca deixou de passar nas mesas perguntando aos comensais se gostaram da comida. Como é meu amigo não lhe dizia somente que tinha, ou não, gostado mas sugeria-lhe algumas mudanças no sentido de me satisfazer melhor na próxima refeição. Ora o chef mudava sempre a receita acrescentando ou retirando, enfim, afinando a receita e lá estava ele de novo, percorrendo algumas mesas, a fazer a sua avaliação aos resultados. O certo é que essa cantina era um dos meus “restaurantes” preferidos e provavelmente o cozinheiro nunca ouviu falar de I-A. Esta postura do profissional, à semelhança do professor, enquadra-se, na minha opinião, do que se espera da I-A mesmo que se faça de uma forma inconsciente. A inconsciência do ato, ou seja a sua não intencionalidade, só não permitiria que se considerassem os resultados obtidos como uma inovação. Ora, da I-A não se espera inovação (embora também nada o impeça), mas sim mudança numa perspetiva de melhoria. Inovação implica mudança mas mudança não implica inovação. A ajudar esta pretensão de colocar o trabalho do meu amigo como integrado num processo de I-A, Tripp (2005:445) refere que “ é pouco provável que algum dia venhamos a saber quando ou onde teve origem esse método, simplesmente porque as pessoas sempre investigaram a própria prática com a finalidade de melhorá-la”.
Assim, considerando a I-A como um conjunto de procedimentos para dar resposta a um problema social, real e específico vivido/sentido pelo investigador/profissional, colocando-se em ação os resultados duma investigação no sentido de melhorar a sua prática num processo cíclico, refletivo e crítico onde o grupo alvo tem de assumir a aceitação das mudanças e envolver-se ativamente em todo o processo (esta é a minha definição preferida até ao momento), parece-me que a profissão de cozinheiro emerge como uma das paradigmáticas no que respeita ao entendimento da I-A.
Referência bibliográfica
· Tripp, D. (2005). Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. São Paulo: Revista Educação e Pesquisa, v. 31, n. 3, set./dez. p. 443-466Luís Ricardo (2011)