(AC) O que nos move? (2)

Uma reflexão sobre o factor mais determinante: responsabilidade vs dinheiro

Este texto ficaria desconforme se não se incluíssem referências à “Teoria da Motivação Intrínseca de Deci”. Também aqui aparecem as normais contestações por parte de outros autores chegando mesmo a propor-se o abandono desta teoria (Cameron e Pierce em 1996, e Locke e Henne em 1986, referidos em Seco, 2002). Considera que existem dois tipos de motivação: a (1) “extrínseca” onde o salário, valores e as recompensas (não incluídas na seguinte) são as suas fontes orientadores e a (2) “intrínseca” guiando-se pelo reconhecimento, louvores, autonomia e realização pessoal e profissional (também estas consideradas como uma forma de recompensa). Esta teoria permitiu que se constatasse que as motivações extrínsecas têm efeitos a curto prazo levando o trabalhador a desvalorizar as intrínsecas. Jesus (idem), com base em investigações feitas neste âmbito, refere que os trabalhadores preferem as segundas. E prossegue acentuando que o salário não é o factor mais determinante na motivação dos trabalhadores, pois será sempre necessário o correspondente aumento. Dá, assim, mais importância a factores intrínsecos como autonomia, reconhecimento, participação nas tomadas de decisão, relações de trabalho, etc., e alerta para o mal-estar que podem criar os pagamentos por mérito. Este autor defende que para incentivar os “melhores” a escolherem uma determinada profissão, os salários têm de ser aumentados no início da carreira. A Eurydice (www.eurydice.org) revelou, num estudo comparativo realizado em 2003/2004, os salários dos professores na União Europeia onde se nota que os portugueses são os que ganham menos no início da carreira. No final só a Dinamarca, França e Itália é que apresentam menores valores. Sobressai ainda a amplitude de valores entre o salário no início e no final da carreira, onde os portugueses são os que apresentam um maior leque salarial. Esteve (in Nóvoa, 1991, p. 105) atribui uma importância repartida pelos dois tipos de motivação, embora não o refira com essa intenção, quando diz que: “se não se promoverem, em termos de salários (...) e se não se melhorar a sua imagem social, a batalha das reformas (...) será perdida por um exército desmoralizado”. Reforçando a tese da motivação extrínseca, Robbins (1996, cit. Seco, 2002, p. 56), diz que “o dinheiro é o (..) incentivo crucial para a motivação no trabalho”. Mas não nos podemos esquecer que o dinheiro não é percepcionado por todos da mesma forma, pois para uns pode significar segurança, para outros status social, etc. Lévy-Leboyer (cit. Jesus, 1996), dando uma imagem de cautelas quanto a generalizações, indica que a motivação é muito dependente do contexto socioeconómico. Um estudo comparativo entre professores japoneses e americanos (idem) revelou visões diferentes sobre a profissão: “viver para trabalhar” e “trabalhar para viver”, respectivamente. E continuando acrescenta que o desempenho nas actividades profissionais deixou de ter o valor que se lhe atribuía. Por outro lado, as actividades de lazer são crescentes. Deste modo, valoriza-se de sobremaneira este aspecto e tende-se a considerar a profissão como um meio de subsistência e de suporte para esse conforto. Warr (1982, cit. idem), num estudo que fez em Inglaterra, verificou que 67% dos professores deixariam de trabalhar se tivessem dinheiro que lhes assegurasse o resto da vida.
Antes de concluir, gostaria de salientar que “(...) um potencial professor mais motivado para a profissão docente é aquele que, já antes de ingressar no ensino superior, manifestava o desejo de ser professor” (idem, p. 360), acrescentando que “a falta de motivação (...) é um problema complexo, não existindo apenas uma solução genérica” (idem, p. 451).

Bibliografia referenciada
· JESUS, Saúl N. – Motivação e Formação de Professores. Coimbra: Quarteto Editora, 1996
· NÓVOA, António (org.) – Profissão Professores. Porto: Porto Editora, 1991
· SECO, Graça M. S. Batista – A Satisfação dos Professores – Teorias, Modelos e Evidências. Porto: Edições Asa, 2002

Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)