(AO) A tradição já não é o que era…

Com o intuito de reflectir sobre o processo ensino-aprendizagem foi escrito este pequeno texto, que de palavras feito é, e pretende ser o reflexo sobre feitos de quem vive os preceitos de que a vida não vale quando não se vive pelos ideais


Até há bem pouco tempo se dizia que os avós eram a seguir aos pais, as figuras mais importantes na educação das crianças. Nos dias de hoje, em que a célula familiar está em profundas mudanças, visto que os avós não estão presentes na vida das crianças, os professores são sem sombra de dúvida, a seguir aos pais, os elementos mais importantes na educação das crianças.
Mas os professores surgem no panorama do contexto actual, envoltos num paradoxo complexo e problemático, isto porque se por um lado, um professor é uma espécie de mágico que tem o poder de transformar os pequenos acontecimentos e experiências das crianças em alicerces de felicidade, por outro o seu estatuto está em constante declínio, atendendo a que o professor de hoje já não é aquela figura de referência de há 50 anos atrás.
Estes são os professores das nossas escolas… agentes de mudança, e a quem se pede muito e a quem, muitas vezes e em determinados domínios, se oferece tão pouco!
A escola é apontada como um importante complemento da educação parental, os professores são transformados em “pais substitutos” mas não lhe são dados nem formação específica nem materiais para o fazerem, no que respeita essencialmente à auto-estima, auto-controlo, gestão das emoções e desenvolvimento das competências sociais.
Muitos professores salvam muitas vezes vidas sem terem capa de super-herois; vão lidando com as questões do ajustamento psicológico como podem. Mas nem assim escapam às críticas… isto porque ou é porque são maus, ou porque são insensíveis, ou porque são preguiçosos. A verdade é que às vezes é difícil fazer mais.
Uma turma é um mundo de diversidade e em constante mutação, cada aluno exige uma atenção diferenciada, isto porque temos alunos com problemas de comportamento, outros com problemas emocionais e ainda crianças de meios familiares problemáticos. No seio de tudo isto é pedido a este mesmo professor que saiba como lidar com cada um deles e que trace para cada um em particular estratégias que promovam o seu ajustamento psicossocial.
Uma questão parece inevitável: é legítimo e justo que se espere tanto de um professor quando o que se lhe dá para o atingir é tão pouco? Não será hipócrita esta atitude por parte da sociedade que insiste em valorizar os professores no ajustamento das crianças ao mesmo tempo que insiste em nada fazer para os ajudar a levarem a cabo esta tarefa?
O papel do professor é o de proporcionar sempre, aos alunos oportunidades e incentivos para a construção do seu próprio conhecimento, isto porque a aprendizagem deve ser uma actividade construtivista que os próprios alunos têm de realizar, atendendo a que o aluno é sempre o centro/motor da sua própria aprendizagem.
Quando um aluno chega à escola, a mensagem que os livros lhes transmitem vai ser vista com diferentes olhares (de acordo com a bagagem cultural e cognitiva que cada um transporta). Não podemos exigir que cada aluno memorize os conceitos institucionalizados, mas encorajar os alunos a desenvolver as técnicas da pesquisa, isso só se consegue alimentando a curiosidade do aluno; estimulando o diálogo entre alunos e professores; desenvolvendo as capacidades do aluno num mundo real de modo a considerar as crenças e as atitudes do mesmo.
Que perfil adoptar dentro desta perspectiva construtivista de ensino?
O professor deve ser essencialmente reflexivo no que respeita à sua postura e à sua formação; contribuir para a reelaboração e estruturação do pensamento do aluno, tendo em conta os conhecimentos do mesmo; não se deixar cair no fundamentalismo; aplicar o conceito de aula-oficina. O professor deve fazer sempre o uso das suas múltiplas competências.
Como em tudo não existem “receitas infalíveis”, mas procedimentos.
Não temos peixe para oferecer, mas vamos tentar procurar dentro de cada um deles as ferramentas que os ensinem a pescar.

Sandra Freitas 10-04-2008