Dos muitos mail´s que recebo impregnados de senso comum onde se diz tudo de todos, muitas vezes nitidamente sem conhecimento de causa, surgiu-me um onde podia ler-se que o Albino Almeida, presidente da CONFAP, tem um ordenado de 150.000€/ano, que não é pai, e por aí adiante. Feito mais palerma do que aquele que mo enviou decidi naquele instante e impulsivamente provocar o Albino Almeida através de um mail nada delicado. Aliás como já tinha feito com o Manuel Correia, Fernando Madrinha, Emídio Rangel, Miguel Tavares e com outros que não sabem, não conhecem e, provavelmente, não estão envolvidos nem têm qualquer ligação com a escola, parecendo-me que só falam mal porque é essa a função dos seus trabalhos: provocar para assegurarem os seus empregos (perderia a graça e o interesse para os leitores se não o fizessem). É bom ter uns “malucos” a escrever umas coisas para poderem vender. O Albino Almeida, não sendo um desses, respondeu-me de imediato resultando num convite para me deslocar a Gaia ao qual lhe repliquei para vir ele à Marinha Grande. Surpreendentemente e espontaneamente aceitou fazer um debate com pais e EE na minha Escola (ESEACD). Muito bem! Começou nesse momento, com a sua disponibilidade, a mudança do meu pensamento sobre ele.
O que ele nos disse!? Este ex-professor demonstrou ter um profundo conhecimento dos sistemas educativos, e das políticas educativas, apresentando propostas concretas para a resolução de alguns problemas nas nossas escolas. Falou, entre outras coisas, da necessidade de existir uma avaliação da anterior reforma antes de se implantar a nova; salientou a necessidade de se criar um observatório de políticas educativas; citou David Justino ao dizer que “a obrigatoriedade, só por si, reduz o abandono escolar” falando mal do Artº 22 do estatuto do aluno (aliás como, tendencialmente, a maioria dos professores, ao contrário de mim que o acho pertinente(1), mas também falou bem de outros nomeadamente o 17); falou da necessidade/proposta que apresentou no sentido de formar os pais no que respeita ao acompanhamento dos seus educandos (notícia em primeira mão); defendeu o modelo educativo sueco; falou do “amor que tenho pela classe dos professores” e propôs que as aulas de substituição fossem dirigidas aos interesses dos alunos em termos curriculares. Disse-nos que não recebe um cêntimo da CONFAP e paga os almoços à sua conta quando se desloca em serviço da instituição. Quanto a dinheiros, admitiu que a CONFAP recebe 150.000€/ano mas também nos informou que as contas são públicas e existem dois funcionários permanentes na instituição. Exaltou ainda a necessidade da participação de todos a fim de existir uma maior responsabilização de cada um.
Importa realçar que este apartidário, pai e EE, é a favor da avaliação dos professores, como de resto a maioria dos professores (o que não é o meu caso, pois, eu não acredito nessa “necessidade”) mas, à semelhança de muitos, não concorda com o actual modelo proposto pela ministra. Disse-o claramente: “o meu modelo é o alemão” que se baseia na entrega de um relatório, de 5 em 5 anos, onde o professor deve relatar o que fez de bom e expor os seus constrangimentos. Comparou o ensino a uma arte. Poucos o fariam. A pergunta que se impõe é esta: como se avalia um artista, Sr.ª Ministra, Albino Almeida, colegas e todos os que concordam com a avaliação docente? A obra será sempre linda para uns e péssima para outros. Esta é uma das principais razões porque (eu) não acredito na avaliação dos professores(2). Penso que está na hora de começarmos a falar na primeira pessoa e deixarmo-nos de modéstias excessivas e/ou de abranger outros com as nossas afirmações.
É um homem reflexivo que fala com paixão. À medida que as poucas pessoas presentes iam saindo no final das 2,5 horas, continuava a falar com o mesmo entusiasmo até nos apercebermos que estávamos só quatro (eu, ele, a acompanhante e o presidente da associação de pais da ESEACD). Insistia como se estivesse a falar para uma plateia imensa. Não acredito no que dizem dele mas acreditei no que ele nos disse e gostei da forma como o fez. Demonstrou que tem veia política. Aliás, demonstrou-o muito bem. Quando uma colega da plateia falou em “partilhar” em vez de “ensinar”, ele, não largou o termo e repetiu-o várias vezes durante o seu discurso (fala, também, pelos cotovelos).
Poderá perguntar-se: o cargo dele é representativo de todos os Pais e EE em Portugal? Na minha opinião não. Mas, por exemplo, e o cargo do PR é-o? A maioria dos portugueses também nem sequer foi às urnas quando da sua eleição e os que foram nem todos votaram nele. Então, o PR representa-me enquanto português? Não havendo sistema melhor podemos afirmar que estes resultados são baseados na irracionalidade que a democracia incontornavelmente apresenta.
Um agradecimento especial a dois alunos CEF que estiveram presentes da forma ordeira e aparentemente interessada com que ouviram o Albino Almeida. Quando se retiraram agradeceram as palavras e cumprimentaram-no. Fiquei surpreendidíssimo e só me fortaleceu a ideia de que, na verdade, todos, sem excepção, podem ser ensinados e os professores têm de se “esforçar” para acreditar nesta premissa (eu sou professor de CEF daí as aspas no esforçar).
Saber ouvir não é fácil principalmente quando se trata de alguém com o qual não concordamos. Os que estiveram presentes demonstraram que ainda têm "energias" para isso. Uma coisa ficou mais clara para mim: devo ouvir sempre as pessoas e tentar perceber as suas motivações. Mas ouvi-las nos "camarins" não somente nos "palcos". Tive a sorte de ouvir as respostas de uma pessoa influente ligada à educação em Portugal. Proferiu declarações que só surgiram graças “ao ambiente familiar” que se verificava alertando-nos para a razão de algumas decisões políticas. Fiquei mais rico. Obrigado.
(1) ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2007/12/ao-faltas-ou-responsabilizar.html
(2) ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2008/03/ao-avaliao-de-desempenho-docente.html
Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)
(AO) Albino Almeida
Um relato da minha visão sobre o debate que o presidente da CONFAP teve com os pais/encarregados de educação e professores em plena crise da avaliação docente