(AC) Escolas eficazes (1)

Uma reflexão sobre o conceito


“Um dos aspectos mais importantes do esforço de criação de escolas eficazes é a co-responsabilização dos diferentes actores educativos” (Nóvoa, 1992, p. 24).
Brandão (1999, p. 31) numa aparente aproximação a um modelo de gestão mais autoritário acrescenta que “A estruturação horizontal em departamentos especializados e vertical por níveis de autoridade, vantajosa nas organizações estáveis em que as decisões podem percorrer toda a cadeia de comando, é totalmente inapropriada nas organizações de decisões curtas e rápidas (short-run decisions). Os professores precisam de ser altamente adaptativos porque encontram e enfrentam constantemente situações de mudança. A administração colegial também não é a mais adequada (...)”. Esta autora pretende salientar que a escola poder-se-á incluir num tipo de organização anárquica dado as imprevisibilidades de acontecimentos do dia-a-dia, sendo a procura de consensos (ou de maiorias), na administração colegial, um arrastar contínuo de processos que só prejudica quem está envolvido neles. E continuando, baseada em Lima (1987), diz que a escola tem um modo de “funcionamento díptico”, pois está simultaneamente a caracterizar-se como organização anárquica quando não acolhe alguns normativos e regras (por impossibilidade, incompreensão ou mesmo desconhecimento), e como organização burocrática. Assim, tudo leva a crer que a ministra Maria de Lurdes está bem apoiada nas polémicas decisões que tem tomado sobre a nova gestão escolar.
Mas, o que será então uma escola eficaz? Será aquela que consegue manter um bom nível de resultados escolares, comparativamente a outras, durante a sua existência atendendo a iguais condições de operacionalização? Só por aqui se vê a ambiguidade que alimenta este título. Todas, provavelmente, “responderiam” que promovem o sucesso dos alunos, que asseguram o melhor desempenho e que orientam o seu trabalho para manter níveis elevados. Mas se não obtiverem os resultados esperados, poderão sempre encontrar facilmente argumentos que se prendem com factores externos fora do controlo dessa escola. Também é comum ouvir-se que para uma escola ser eficaz necessita de uma liderança forte, atribuindo-se este factor como o principal. Concerteza que se interrogássemos o PCE de uma escola diria (salvo uma eventual delicadeza de falsa modéstia) que é forte ou próximo. Se interrogássemos a comunidade escolar, provavelmente 1/3 dos inquiridos dir-nos-ia que têm um líder escolar forte, 1/3 dir-nos-ia o contrário e o outro 1/3 não saberia responder. Poder-se-á ainda dizer que uma escola eficaz foi aquela que conseguiu obter melhores resultados do que o esperado. Mas será que o esperado foi pouco ambicioso? Teriam previsto objectivos exagerados? Como se medem estes factores? Escolas com maus resultados escolares, poderão até ter um funcionamento mais ajustado, mais organizado, possuírem professores mais empenhados e terem resultados escolares piores, não fossem as conjecturas do ano, incluindo todas as variantes da chamada comunidade educativa. Com este tipo de raciocínio, uma escola que tenha bons resultados escolares num determinado ano pode não significar que tenha sido eficaz e o contrário também pode ser verdadeiro. Como nos podemos, então, direccionar para obtermos este galardão enquanto professores, pese embora nunca o consigamos efectivamente obter pois ficará sempre a dúvida se estaríamos em melhores condições à partida? Numa nítida concordância à nossa incapacidade para podermos aplicar esse termo, ressalta aqui a expressão de Benavente (1993, cit. Vieira, 1998, p. 92): “sabemos hoje provavelmente muito mais sobre os conteúdos das inovações desejáveis do que sobre a maneira de as concretizar”.
Parece-me, assim, que para se aplicar o termo de “escola eficaz” terá de se delimitar objectivamente o conceito procurando-se no entanto, face aos recursos e conjecturas do momento, encontrar as posições que uma escola deve tomar para que se consiga obter os melhores resultados possíveis tendo em vista a prestação de um serviço público que agrade a um maior número de utentes.

Referências bibliográficas
· BRANDÃO, Margarida – Modos de Ser Professor. Lisboa: Educa, 1999
· NÓVOA, António (org.) – As Organizações Escolares em Análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992
· VIEIRA, Ricardo – Ser Igual, Ser Diferente – Encruzilhadas da Identidade. Porto: Profedições, 1998


Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)