(AC) Os projectos disto e projectos daquilo

Uma crítica à quantidade de “projectos” que os professores são obrigados a implementar.

Segundo o Ministério da Educação (Boletim dos Professores, nº 107), os Projectos Curriculares de Turma (PCT) devem começar a ser preparados na constituição das turmas analisando-se o percurso escolar de cada aluno devendo resultar num diagnóstico com as dificuldades encontradas. Posteriormente os Conselhos de Turma (CT) elaborarão os respectivos PCT onde deverão incluir, além da caracterização da turma (esta é fácil), as estratégias de remediação dessas dificuldades. Ressalta logo aqui a retórica do discurso perante a impossibilidade da equipa fazedora de turmas (no ano anterior ao que se deverá referir o PCT) apresentar tais diagnósticos assentes em critérios sólidos. Surge depois outro constrangimento: é que os Conselhos de Turma (CT) não reúnem mais do que quatro ou cinco vezes por ano, sendo três desses encontros reservados para as avaliações. Perguntar-se-á então: como se cria e implementa o PCT? Se se conseguir criar, não serão necessárias mais horas lectivas para se poder desenvolver, ou seja, levar a efeito as medidas de “salvação”? E o “projecto curricular nacional” (entenda-se como contendo os conteúdos programáticos necessários para aquisição de conhecimentos tendo em vista os exames nacionais) onde fica (Teodoro, 2006)? Resumindo: primeiro elabora-se o Projecto Curricular de Escola (PCE) adaptando-se o currículo nacional à região (ou seja, primeiro esquecimento que os alunos têm exames nacionais), depois cria-se o PCT adaptando-se o PCE à turma (ou seja, segunda distracção dos exames nacionais). Surgem assim as discrepâncias entre as classificações de frequência e exames acrescentando-se ainda o peso que a componente sócio-afetiva tem durante as aulas e que não é contemplada nas provas finais.
Falta ainda (para já, pois estão a preparar-se para outros nomes sonantes de Projectos) o Projecto Educativo de Escola (PEE) que não serve comprovadamente para (quase) nada. Reflecte-se na quantidade de professores e, provavelmente, “todos” os encarregados de educação que nunca o leram (Ricardo, 2006), no número de Escolas que não o possuem adequadamente segundo as regras de elaboração, implementação e avaliação (principalmente as privadas onde, paradoxalmente ou não, conseguem obter mais sucesso) e, ainda, no facto de ser elaborado sobre um conceito que actualmente não existe, ou então, se existe, os seus pretensos integrantes não se revêem como seus elementos que é o da “comunidade educativa”.

Bibliografia referenciada
· Revista O Boletim dos Professores (Nº 107) - Estabilidade Do Corpo Docente Permite Constituição de Equipas Pedagógicas (p. 2-3). Lisboa: Ministério da Educação, Setembro-2007
· RICARDO, Luís - A Participação Obrigatória na Escola – Perspectiva do Professor Não-efectivo. Porto: Universidade Portucalense (diss. mestrado policopiada), 2006
· TEODORO, António – Professores, para quê? Mudanças e Desafios na Profissão Docente. Porto: Profedições, 2006

Luís Filipe Firmino Ricardo (2007)

(AC) As teorias organizacionais clássicas aplicadas à escola

Reflexão sobre a viabilidade nessa aplicação


Dentro das teorias existentes sobre organização e administração de empresas (Sousa, 1990; Teixeira, 1995; Ferreira et al, 1996) surgem as chamadas “clássicas” que se movem objectivamente pela eficiência produtiva, onde a participação de todos está simplesmente excluída. São conhecidas as de Taylor em que os funcionários eram especializados por tarefas fortemente hierarquizados, de Fayol no domínio da administração com a sua conhecida sigla POC3- prever, organizar, comandar, coordenar e controlar e de Weber com o pressuposto que todas as situações são previstas dando inicio à burocratização dos sistemas. Surgiu depois a “teoria das relações humanas” através de Mayo, com a sua experiência de Hawthorne, onde se valorizaram os conceitos de ambiente de grupo, satisfação, motivação intrínseca e lideranças democráticas. Este autor definiu dois tipos de motivação: a (1) “extrínseca” onde o salário, valores e as recompensas materiais são as suas fontes orientadores e a (2) “intrínseca” que se guia pelo reconhecimento, louvores, autonomia e realização pessoal e profissional. Lawrence e Lorsch, através da “teoria da contingência”, valorizavam de sobremaneira uma tecnologia capaz afirmando que não existe modelo ideal. A eficiência produtiva, segundo esta teoria, depende da resolução dos problemas e da adaptação ao meio exterior. São conhecidas ainda a “teoria X” de McGregor onde se retira que o ser humano precisa de ser coagido para trabalhar não existindo qualquer motivação intrínseca, a “teoria Y” também de McGregor que dá uma relevância às motivações intrínsecas através do reconhecimento e da atribuição de responsabilidades onde a participação de todos e lideranças não autoritárias se destacam, e a “teoria Z” de Ouchi onde sobressai a participação de todos nas tomadas de decisão associada à imprescindível formação para o fazerem.
Embora existam autores, como Planchard (1974) e Bottery (1993) ambos citados por Costa (1996), que defendem uma solução Taylorista nas escolas, parece-me que, tendo em atenção a estrutura cada vez mais homogénea da classe docente, cada vez mais consciente do seu papel e cada vez mais bem formada, a escola terá, ou poderá, dar mais importância ao que dizia Mayo, Lawrence e Lorsch, McGregor (Y) e Ouchi.

Bibliografia referenciada
· COSTA, Jorge A. - Imagens Organizacionais da Escola. Porto: Edições Asa, 1996
· FERREIRA, J. M. Carvalho [et al.] – Psicossociologia da Organizações. Alfragide: McGraw-Hill, 1996
· SOUSA, António de – Introdução à Gestão – Uma Abordagem Sistémica. Lisboa – São Paulo: Editorial Verbo, 1990
· TEIXEIRA, Manuela – O Professor e a Escola – Perspectivas Organizacionais. Amadora: McGraw-Hill, 1995

Luís Filipe Firmino Ricardo (2007)

(AO) Quem quer ser engenheiro?

Crítica ao prefixo usado nos nomes com os títulos académicos quando não se exerce a correspondente profissão.


Licenciado ou licenciadinho? Naturalmente que para alguém ser chamado engenheiro terá de fazer actos de engenharia e, cumulativamente, ter estudado numa escola de engenharia. O Primeiro-ministro estudou no INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE COIMBRA (ISEC) – o nome confere. Então, porque só satisfaz uma condição é, “apenas”, Primeiro-ministro. Não é engenheiro nem é engenheiro técnico. Parece-me que não será um grupo de “amigos”, ou de “rapazes bem dispostos”, dissimulados de associação ou ordem, que possuirão as razões e competência para escolher quem são os verdadeiros profissionais e quem pode usar o tal prefixo socialmente cobiçado nos países subdesenvolvidos. Não se podem sobrepor ao Ministério da Educação que será a instituição mais indicada para acreditar os cursos.
O Primeiro-ministro Sócrates começou (e concluiu) os seus estudos numa instituição pública de ensino superior universitário (Diário da República de 31-Dez-74 Decreto-Lei nº 830/74 artigo 2º-1) durante quatro anos (depois de fazer o propedêutico - 12º ano). Quatro anos efectivamente lectivos (com disciplinas de manhã e de tarde sem inclusão de qualquer estágio ou seminário) com uma candidatura em toda igual a qualquer outra candidatura para o ensino superior. Comparem, por favor, aos 4 anos da maioria das licenciaturas que andam por aí e onde, os que as obtiveram, são tratados por doutores com toda a pompa e também não estão inscritos em qualquer associação profissional – nem existem na maioria dos casos. Mais: basta ele ir ao ISEC e pedir que lhe passem o diploma de licenciado para obter o canudo, pois tem mais disciplinas e carga horária que as actuais licenciaturas administradas nessa instituição. Logo, quanto a competências técnicas não precisa de demonstrar mais nada. É pena que não precise muito delas para as suas actuais funções.
Então, a minha sugestão passa pelo seguinte: tratem as pessoas por aquilo que elas fazem na realidade como, por exemplo, Professora Maria, Formador Felisberto, Ministra Augusta, Educadora Carla, Pedreiro Joaquim, Contabilista António, Enfermeiro Manuel, Advogado João, Economista Francisco, Médica Filomena, Colunista (ou Cómico) Manuel Correia, e por aí adiante.

Luís Filipe Firmino Ricardo (2007)