A minha candidatura (PERDEDORA) ao cargo de Director.
(E os outros planos de intervenção?)
Introdução
A principal razão do título desta candidatura deve-se ao facto de considerar que os professores são o motor de todas as acções escolares. No entanto, e não desprezando o trabalho de outros profissionais, proponho ser um ouvinte atencioso e procurarei dar voz a todos os agentes da Escola. Estarei atento e sempre disponível. Pedirei, com humildade, e aproveitarei todas as ideias/sugestões dos colegas no sentido de criar um bom clima escolar.
Dentro das funções dos professores a que considero mais meritória é aquela cujo papel se situa na sala de aulas. Assim, os professores que têm vários níveis, várias turmas e que vivem a dezenas de quilómetros da Escola terão uma atenção especialíssima no sentido de melhorar a sua ligação profissional aos seus suportes emocionais, familiares e particulares. Tentarei valorizar também o papel social do professor em geral atribuindo-lhe a importância que merece dentro da comunidade. Saliento o que refere Jesus (1993, cit. Seco, 2002, p. 102): “a motivação dos professores parece-nos ser o cerne não só da problemática da qualidade do ensino (...) como também da sua satisfação profissional”.
Considerando-me um democrata convicto, creio, no entanto, que a Escola poder-se-á incluir num tipo de organização anárquica dado as imprevisibilidades de acontecimentos do dia-a-dia, sendo a procura de consensos (ou de maiorias), na administração colegial, um arrastar contínuo de processos que só prejudica quem está envolvido neles – não tenho dúvidas que este é o sentimento generalizado da grande maioria dos professores. Ruivo (2009) diz mesmo que na escola se exige “(…) o cumprimento de currículos obsoletos e onde a máquina da administração escolar obriga a incontornáveis horas de reuniões em órgãos, departamentos, comissões, sessões de atendimentos…” . Dando aval a este professor doutor, que de resto está em concordância com outros investigadores, no sentido de menorizar estes constrangimentos tendo também em conta o crescente aumento do ritmo de vida a que não nos podemos alhear, as reuniões serão marcadas somente quando consideradas absolutamente necessárias. Procurarei deste modo incentivar a autonomia e responsabilidade de todos os professores no sentido de tomarem as suas próprias decisões. Recordo-me de uma reunião obrigatória do Departamento de Educação e Formação Profissional (Março-2009) que se destinava a pedir opiniões aos seus membros sobre uma determinada matéria. Resultado: dos inúmeros membros do Departamento poucos emitiram opiniões. Os restantes colaram-se às opiniões mais fervorosas. Parece-me que se pedissem essas opiniões via mail, por exemplo, os membros teriam a oportunidade de reflectir calmamente em suas casas, nos seus “ninhos” sem serem sujeitos a pressões e, certamente, apresentariam as suas propostas sem qualquer precipitação. Este é um dos exemplos que reflecte o que actualmente se passa na nossa Escola e que não me parece ser o caminho adequado.
Sou da opinião que a indisciplina dos alunos é um dos grandes problemas da escola em geral. Procurarei assim manter firmeza no cumprimento de regras, com processos rápidos, informando devidamente todos os EE das consequências de comportamentos inadequados.
Duma maneira geral a minha acção terá como objectivo melhorar os serviços da Escola, desburocratizando as tarefas ao máximo, tentando motivar todos os profissionais através da satisfação no trabalho e do bem estar, ouvindo-os e dando-lhes a devida e merecida importância. A linha de actuação que proponho implementar se fosse reduzida a uma expressão diria que: “acredito nos professores”.
1- Projecto Educativo de Escola (PEE)
Pretende-se que o PEE seja a identidade de uma escola representada em forma de um contrato documental, vinculador e responsabilizador de toda a comunidade educativa, que retrate a escola e defina as suas linhas orientadoras, assumindo-se nele a autonomia e a democracia participativa em todos os seus momentos (concepção/elaboração, concretização/implementação e avaliação). Deveria reflectir, implícita ou explicitamente, um determinado paradigma educacional dominante associado a um paradigma sociocultural, por um período temporal que deveria depender da estabilidade e formação dos professores (seus obreiros principais) e da estabilidade dos paradigmas referidos. Tem como principais documentos de operacionalização, complemento e organizacional, o Plano Anual de Actividades (PAA), o Projecto Curricular de Escola (PCE), o Regulamento Interno (RI) e o Orçamento. Crato (2006) chamaria, provavelmente, a este discurso de “pedagogia romântica”, ou qualquer coisa como “o eduquês no seu melhor”, ou “PEE, um treino em inutilidade”.
O PEE, nos moldes actuais, só seria movido verdadeiramente se os professores lhe atribuíssem importância. Caso contrário não existe a motivação necessária para deixar de ser um mero documento. A sua edificação desgasta os professores obrigando-os a robotizar as suas atitudes numa lógica burocrática irracional sendo depois “escondido” parecendo que ninguém acredita na sua real importância, mas, continuando imponente e venerado como se da Bíblia ou do Alcorão se tratasse. Esbarra também noutro obstáculo: a verdadeira comunidade educativa, como a idealizam, não existe de facto. Por exemplo, vivo na freguesia do Nadadouro, dou aulas na Marinha Grande e a minha educanda frequenta uma Escola na freguesia de Santo Onofre. Qual será a minha comunidade educativa? Parece-me que o termo surge somente num sentido vago e necessário à preparação de documentos onde o termo “participação” se encontra associado ao politicamente correcto e/ou enriquecimento dos conceitos. O contexto urbano também não ajuda à implementação dessa comunidade com o crescente aumento do ritmo de vida obrigando compreensivelmente ao alheamento dos encarregados de educação e somando, ainda, a mobilidade a que os professores estão sujeitos.
O actual aumento do ritmo de vida é um factor que estará sempre presente no que respeita às acções que considero burocráticas irracionais sem qualquer utilidade futura procurando, deste modo, libertar os professores para a sua função principal que é ensinar e compreendendo que todos nós precisamos dos nossos suportes que se encontram para lá da Escola.
2- Liderança
O meu conceito de liderança passa pelas mensagens destas três citações: (1) “Sem seguidores não há líderes” (Rego, 1998, p. 423), (2) “é necessário ter seguidores para ser líder” (Vargas, 2005, p. 39), e (3) “uma faísca só pode provocar explosão se houver matéria inflamável e oxigénio” (Klein e House, 1995, cit. Rego, 1998, p. 46). Estes últimos autores referem-se à faísca como o líder, à matéria inflamável como os seguidores, e ao oxigénio como a situação favorável. Nesta lógica, só se poderá entender o termo liderança se existirem seguidores e será de consenso geral admitir-se que não existe nada que se pareça com seguidismos cegos numa Escola. Outra coisa não seria de esperar dada a sua estrutura democrática e a existência de uma classe pretensamente homogénea. Ou seja, a situação também não é favorável. Neste seguimento, e se nos demarcarmos da imagem mais imediata que temos do líder muito próxima de “grande homem”, poderemos ainda interrogar-nos sobre a razão de o sermos algumas vezes. Rotatividade dos cargos? Preenchimento de horários? Disponibilidade? Será, então, mais indicado falar-se em “(...) lideranças do que liderança, mais nos lideres do que no líder” (Costa, in Costa, Mendes e Ventura, 2000, p. 26).
Quando Vargas (2005, p. 80) afirma que “A responsabilidade de um gestor pertence ao domínio da Lei, a de um líder pertence ao domínio da Ética” e Bennis (1989, cit. idem, p. 28) acentua que “(...) as competências de gestão podem ser ensinadas/aprendidas ao contrário das competências da liderança”, ressaltam de sobremaneira as qualidades humanas que o chamado líder deve possuir. E aqui sim, nesta vertente, podemos de facto sê-lo.
Assim, parece-me que só se poderá aplicar o termo quando se delimitar o conceito e condicionar o estilo como, por exemplo, afirmar-se que ser líder é (somente) estar à frente dum órgão numa postura de partilha de ideias e decisões (empowerment) - esta é a minha visão de liderança.
3- Escolas Eficazes
Existem várias teorias contraditórias, cheias de subjectividades, tentando definir o conceito. No entanto, parece-me que o caminho será, cada vez mais, ouvir os agentes do nível de ensino onde se pretendem fazer as melhorias. Para se aplicar o termo de “escola eficaz” terá de se delimitar objectivamente o conceito procurando-se, face aos recursos e conjecturas do momento, encontrar as posições que uma escola deve tomar para que se consiga obter os melhores resultados possíveis tendo em vista a prestação de um serviço público que agrade a um maior número de utentes.
Dentro das obras que consultei, quando da frequência do meu mestrado, no domínio da eficácia escolar (nomeadamente em Nóvoa, 1992, com referencias a mais de uma dezena de estudos) e mesmo no relatório da OCDE (2006), não vislumbrei qualquer referência de destaque à necessidade das escolas seguirem ou orientarem-se por um PEE nem relacionam esse conceito com a animação de actividades extracurriculares. Enumeram-se uma série de características essenciais não existindo qualquer ênfase nas eventuais correlações positivas entre eficácia escolar e o PAA (o principal instrumento de operacionalização do PEE). Este facto pode levar-nos a concluir, numa primeira e breve análise, que para uma escola ser eficaz, no conceito geral depreendido dos autores estudados muito próximo de escola de qualidade, não necessita das orientações dum PEE, pelo menos do modo formal tal como é exigido às escolas. No entanto, deduz-se que as linhas orientadoras têm de estar presentes facilitando deste modo a escolha aos alunos. Em Crato (2006) a ideia transmitida parece ser também no sentido contrário dos “P”, ou seja, deve dar-se mais importância aos conteúdos programáticos em detrimento de excessivas actividades, pois, segundo o autor, o aluno não chega lá sozinho com demasiadas actividades.
Sabe-se, através dos rankings anuais disponibilizados pelo ME, que as escolas não são estáveis no que se refere aos resultados escolares dos alunos, pondo em causa todas as variáveis que servem de base a esses estudos, ou seja, as “boas escolas” deste ano não são forçosamente as melhores do próximo. Sendo assim, não são as médias das classificações que devem servir de base para rotular uma escola de eficaz. Na ligação entre eficácia escolar e resultados escolares, parece que os professores têm de guardar grande parte das suas energias para a sala de aula. Teixeira (1995) também concluiu que os professores valorizam mais o trabalho feito na sala de aulas que os desenvolvidos fora desta.
Gostaria de destacar ainda o conceito de clima. Nóvoa (1990, cit. Teixeira, 1995, p. 165) diz que o “conceito de clima encerra dificuldades que ainda não foi possível ultrapassar”, no entanto penso que o poderemos reduzir à expressão seguinte, pois todas as definições encontradas na obra de Teixeira (idem) vão ao seu encontro: “o clima de uma organização é aquilo que os actores organizacionais “apercebem e sentem” dessa organização” (Gaziel, 1987, cit. idem, p. 165). Esta parece-me ser a definição implícita (consciente ou inconscientemente) que a maioria das pessoas tem e também como é apercebida pelos professores. Deste modo, nesta relação professores/escola é importante dar atenção ao clima organizacional, dado que a motivação e o clima têm uma forte correlação positiva (tal como é realçado por Teixeira, 1995, citando Schneider e Reichers). De acrescentar o que refere Jesus (1996, p. 11): “(...) o adequado funcionamento do Sistema Educativo, a qualidade do ensino e a própria motivação do aluno passa pela motivação e realização profissional do professor”.
Assim, assume-se a incapacidade de se poder rotular uma escola de eficaz. Começaria no entanto, com toda a certeza e na minha perspectiva, para se poder fazer uma aproximação, por propor um fim para os projectos tradicionais nos moldes em que têm sido elaborados. Numa breve e rápida conclusão deste item, parece-me que uma Escola onde os professores tenham um papel social relevante e de destaque poderá levar a uma maior motivação e satisfação no trabalho e consequentemente a uma maior eficácia. E maior eficácia tem a ver, sobretudo, com melhores posturas escolares dos alunos.
4- Gestão vs Administração
Separo os conceitos “administração” e “gestão”. No meu entendimento administração tem como único objectivo servir o público sem qualquer interesse pessoal ou financeiro. A gestão tem como principal objectivo o lucro legítimo de uma qualquer organização não devendo ser aproximado, sequer, à administração de uma escola. Assim, poder-se-á dizer que a administração está directamente ligada à ética e a gestão ao lucro desenfreado. Este é o meu entendimento.
Duma maneira geral sinto-me muito próximo das teorias de Mayo, da teoria “Y” de McGregor, e da teoria “Z” de Ouchi. Como já referi, a liderança democrática e participativa será o meu fito. Serei receptivo a todas as opiniões e sugestões e os restantes membros da direcção terão um papel interventivo tão importante quanto o meu. Não se notarão as diferenças no que respeita às decisões e às direcções a tomar.
5- Acções propostas
5.1- Projectos
O PCT será um documento simples onde se destacará a caracterização da turma e os objectivos a atingir tendo como referência os definidos num Ideário da Escola (ou PEE mas simplificado).
Este Ideário será distribuído por todos na altura das matrículas a fim dos interessados o poderem ler e fazer a escolha da Escola o mais acertada possível. Será anual, tendo em conta a actual velocidade da mudança dos paradigmas socioculturais e a consequente necessidade da adaptação aos paradigmas educacionais (e não o inverso, dado o peso que as economias têm nas sociedades), não terá mais do que 6 páginas A4 (mais capa, índice e introdução) e onde se destacará:
1- Cursos existentes (oferta da Escola).
2- Características dos recursos materiais e serviços.
3- Características dos recursos humanos, sobretudo da classe docente.
4- Um excerto do RI com os aspectos mais importantes como por exemplo o horário de funcionamento da escola, como se resolvem os casos de indisciplina, um organigrama dos órgãos com as respectivas funções, e pouco mais. Os direitos e deveres dos alunos, professores e funcionários (bem como referências ao laicismo, por exemplo) são sobejamente conhecidos por todos, pois são baseados em leis gerais, em regras sociais básicas e em comportamentos e atitudes de civismo (informações do género: “é proibido deitar lixo para o chão”, são despropositadas). Não precisam de fazer parte nem encher qualquer documento interno.
5- Objectivos específicos (não os gerais da educação) expostos de uma forma clara, precisa e realista a que a Escola se propõem para o ano lectivo que se aproxima (por exemplo: taxas de sucesso esperadas em cada curso). Assim terão de ser, quantificados, exequíveis sem grandes fundamentações teóricas, conhecidos e percebidos por todos. Qual o EE que leu o PEE da escola do seu educando? Mais estranho ainda: quantos professores leram o PEE da sua própria Escola?
6- Indicação dos objectivos a que se propôs atingir no ano anterior, quais as metas que foram atingidas e ainda as necessárias explicações dos êxitos/inêxitos (prestação de contas).
5.2- Vídeo vigilância
Vídeo vigilância em todos os locais de circulação na Escola libertando, assim e também, a “estátua” do funcionário sentado no fundo do corredor podendo-se rentabilizar este recurso humano com outras actividades mais prementes. Ninguém que seja cumpridor (alunos e professores) terá qualquer receio desta medida. Suspeitas de consumo de droga na Escola, pequenos furtos no bar e algum vandalismo seriam reduzidos, ou mesmo eliminados, com esta medida.
5.3- Modelos de registo
Criar, melhorar, actualizar modelos de registos, pedidos, requisições, propostas, actividades, relatórios,… de forma a que seja mais fácil a sua avaliação e a eventual resposta. Aqui sim, a criatividade do professor deverá ser limitada.
5.4- Meritocracia
A meritocracia pode provocar competições desmedidas ao contrário de fomentar a entreajuda e o trabalho em grupo.
Estando nós inseridos numa sociedade considerada inclusiva e democrática e que depois, paradoxalmente, exalta as individualidades que se destacam com as melhores classificações, contraria a filosofia da escola moderna e democrática onde se deveria promover o esforço individual de cada um (Cosme e Trindade, 2008) mesmo sem se conseguir a melhor classificação. Sabe-se também que estes prémios poderão provocar uma disputa entre membros do mesmo grupo ao invés de se criar um espírito de entreajuda (Jesus, 1996), como seria desejável. Assim, a grande maioria dos alunos (diria 95%) sabe, logo à partida e com toda a certeza, que nunca chegará a esse prémio e, deste modo, não fará qualquer esforço suplementar para o conseguir, relegando esta institucionalização para mais uma inutilidade em termos pedagógicos onde só se destaca o efeito elitista.
Será legítimo premiar alguém que cumpra a sua obrigação ainda que o faça bem (Tormenta, 2008)? Será justo premiar alguém que faça algo de surpreendente se esse feito for realizado graças a competências adquiridas fora da comunidade que o homenageia? Acabar com os prémios de mérito parece-me uma medida sensata.
5.5- Professores
O professor é um transmissor de conhecimentos, é um criador de conhecimentos (devia ser), é um acreditador de conhecimentos (certifica), é um criativo e artista (engendra e improvisa), é um crente (acredita que todos podem aprender), é um apaixonado pelos alunos (sem excepção), é um justiceiro, é um avaliador/classificador, é um socializador e educador (aqui, idealmente, em estreita colaboração com os encarregados de educação) e, ainda, é um funcionário (embora esta vertente devesse ser reduzida a perto de zero). Estou seguro ao afirmar que ninguém faz tanta falta a um país como o professor. Deve então ser apoiado e dotado.
Proponho-me, deste modo e como já referi, ouvir mais os professores, principalmente os mais novos, aqueles que têm de facto formação específica para exercer a profissão, aqueles que trabalham mais horas, aqueles que conhecem as outras escolas, aqueles que têm mais ideias,… Nós, os mais rotinados na Escola, estamos tão viciados que muitas vezes nem as “rachadelas na parede” conseguimos ver (valha-nos a experiência). Obviamente que também procurarei ouvir os mais experientes pedindo-lhes ajuda e aconselhamento sem qualquer tipo de melindre. Incentivarei então todos os professores a apresentarem as suas propostas, em qualquer área, sem qualquer censura, mesmo que sejam anónimas.
Aproveitarei melhor a especialidade académica de cada um. Por exemplo, se tem de existir um responsável pela segurança na Escola porquê não entregar esse cargo a um professor com pós graduação nessa área?
Sensibilizarei os professores da importância exagerada atribuída aos trabalhos manuais elaborados nas disciplinas que nada têm a ver com essa vertente. Temos alunos com cartazes lindos que resultam numa boa classificação mas, que da matéria propriamente dita, ficamos sem saber a quanto correspondem.
As horas dos cargos deverão ser assumidas pelos próprios no horário que entenderem sem qualquer marcação e/ou necessidade de rubrica/presença numa atitude ética, de confiança e responsabilidade. Será apenas pedido o respectivo relatório anual através de uma ficha tipo.
Tentarei alertar, ou mesmo negociar, com os representantes dos alunos das melhorias que podem advir com o facto dos professores não terem a obrigação de se sujeitarem às filas no refeitório, bar e reprografia.
Serão enviados via mail, para todas as caixas de correio, os compromissos extra-lectivos (reuniões, serviços de exame,…). Esta informação não terá carácter oficial mas certamente que ajudará na organização pessoal de cada um.
5.6- Indisciplina
Dentro das limitações legais tentarei que a tolerância para a indisciplina seja perto de zero, sem as medidas correctivas/sancionatórias chamadas cívicas como por exemplo limpeza de bares dando azo a uma alegria geral de quem os observa e dos próprios. Penso que essas medidas, esse tipo de castigos, são da área de intervenção dos EE, onde os professores não se deverão meter (excepto se negociadas com os respectivos EE – entenda-se: responsáveis/encarregados da educação do aluno).
Sou da opinião que a indisciplina é o cerne da grande maioria dos males na escola. Os processos disciplinares deverão ser resolvidos por um órgão próprio (três membros no máximo) criado exclusivamente para esse efeito, baseados nos relatórios dos DT’s e dos envolvidos, e onde se analisariam todos os precedentes de comportamento, de aproveitamento e de assiduidade. O resultado da decisão deverá ser conhecido no mesmo dia (ou no máximo no dia seguinte) e a medida correctiva/sancionatória ser aplicada de imediato.
5.7- Encarregados de Educação (EE)
Providenciarei um atendimento condigno aos EE em qualquer hora do dia. Se o DT não estiver dever-se-á prever que qualquer outro membro do CT possa também fornecer as informações baseadas num dossiê devidamente organizado e actualizado. Todos os meses os professores colocarão no respectivo dossiê as informações que respeitam aos itens aproveitamento, comportamento e assiduidade, num modelo próprio, para que qualquer um dos membros do CT possa dar essas informações ao EE. A ridícula hora de atendimento, nas actuais condições das escolas, não tem qualquer sentido. Parece-me ainda que as novas tecnologias (telemóvel, internet, …) deverão também ser uma possibilidade de interacção entre a Escola e os EE.
5.9- Reuniões
As imprescindíveis reuniões na escola têm sido um martírio para muitos sobretudo devido à dúvida generalizada da sua utilidade, eficácia e proporcionalidade dessas variáveis com o tempo utilizado. Referindo-se aos seus convocadores, Rego (idem, p. 30) acrescenta que o devem fazer “(…) apenas quando são absolutamente necessárias”. Podem, então, ter várias imagens sendo a convencional aquela que as considera como o local privilegiado das tomadas de decisão, “estímulo de ideias, juntar o espírito de equipa, gerar planos de acção, proporcionar orientações valiosas” (Miller e Pincus, 1997, cit. Rego, 2001, p. 17). Jesus (1996, p. 339-340), apoiando-se em outros autores, acrescenta o seguinte: “o trabalho dos professores em equipa, no sentido da resolução de problemas comuns e do fornecimento e apoio mútuo, é a estratégia mais relevante na prevenção e na superação do mal-estar docente” pois entende-se que “o bem-estar, em todas as esferas é o objectivo primeiro da vida” (Seco, 2002, p. 11). É também indispensável que o participante reconheça a importância da sua presença e da sua influência nos resultados, proporcionando, deste modo, mais motivação e empenhamento no desenvolvimento das próximas acções. Apesar de se vislumbrarem várias vantagens às reuniões, destacam-se também algumas desvantagens: tempo gasto, possibilidade do político se poder evidenciar, desmotivação em que podemos cair se não virmos as nossas ideias aprovadas, etc. A dimensão do grupo é um factor a ter em conta, uma vez que se este for grande (maior que vinte membros, segundo Ferreira et al., 1996) tem a vantagem de recolher maior número de ideias (caso fosse possível ouvir todos os membros), mas a desvantagem de dificultar a comunicação. Assim, limitarei a dimensão dos órgãos subdividindo-os em órgãos mais pequenos e mais sectoriais. Reuniões com todos os membros do Departamento de Matemática e Ciências Experimentais (mais de 50) não têm qualquer sentido. Proporei que se realizem reuniões de grupos curriculares e reuniões dos coordenadores desses grupos com o respectivo coordenador de departamento.
Nas inúmeras reuniões (cada vez mais) que existem na Escola e cada vez com maior número de membros há sempre alguém que tem necessidade de falar por razões que se prendem com os seus traços de personalidade. Mas, muitos exageram parecendo-me sintomático de falhas na avaliação dos traços de personalidade dos outros. Assim, proporei que nas reuniões, os tempos de intervenção sejam limitados.
Dentro das limitações legais, tentarei implementar um fim às reuniões com carácter obrigatório. Porquê castigar um professor com marcação de falta a uma qualquer reunião, por exemplo, às 18h30 numa qualquer segunda-feira se esse professor vive a 50 km da sua Escola e se, depois, esse mesmo professor, dá seguimento às acções para as quais a reunião estava destinada? Lembremo-nos, também, que são os professores mais mal pagos que vivem mais longe da Escola; lembremo-nos que são os que estão em início de carreira que trabalham mais horas lectivas na Escola; lembremo-nos que são esses os que têm filhos mais pequenos; lembremo-nos que já “não existem aldeias” onde os pais, tios, vizinhos,… poderiam dar uma ajuda. Então, também por estas, as reuniões só têm sentido se forem estritamente necessárias. Muitas vezes as informações podem ser passadas através de um simples mail. Mas, quando realizadas, o seu animador/presidente deve seguir a ordem de trabalhos e não ultrapassar o tempo previsto bem como promover a pontualidade. Parece-me que a pontualidade é muito mais importante do que a saída precoce e a operacionalização e o cumprimento das acções são mais importantes do que a simples presença nas reuniões. Preferirei, deste modo, que os professores “participem” nas actividades decorrentes em vez de “estarem presentes” em pesadas reuniões.
A clarificação das competências dos órgãos colegiais também me parece que necessita de ser trabalhada. Nenhum coordenador, director de curso, director de turma,… pode decidir seja o que for se não for tratado na respectiva assembleia. Com alguma prepotência pode criar-se um mal-estar desnecessário em colegas que pela sua natureza não se envolvem em “guerras” e acabam por aceitar as “ordens” dos outros.
5.10- Burocracia
Procurarei eliminar a burocracia na sua vertente irracional com o suporte na boa-fé das pessoas, que terá forçosamente de ser reconhecida, e baseados no único lema: “esta minha acção/atitude não descriminará ninguém”. Parece-me que temos de a usar com objectividade e reconhecer até que ponto a nossa atitude burocrática terá sentido e utilidade para utilização futura tendo em vista o benefício do público em geral.
Dando-lhe a importância que merece, considero a burocracia como a parte racional da democracia. A parte irracional sobressai nos exageros às regras quando, por exemplo: uma acta volta para trás porque o secretário escreveu DT em vez de Director de Turma; quando se obriga o examinando a preencher de novo o cabeçalho da prova porque colocou o número do BI encostado ao lado esquerdo dos espaços; quando se tem de trabalhar, exageradamente, um PCT ou um PCE e os exames são feitos baseados num projecto curricular nacional (Teodoro, 2006); quando nos obrigam a elaborar um documento pesadíssimo dirigido à comunidade (PEE) e depois os seus destinatários não lhe acedem pelas mais variadas razões; quando temos de justificar as faltas às vigilâncias dos exames somente com atestados médicos promovendo-se, muitas vezes e também, a mentira; …
5.11- Máquinas de “fast food”
Sabemos que os jovens portugueses são dos mais obesos da Europa. A Escola não pode continuar a alimentar estas estatísticas negativas. Neste sentido acabarei de imediato com todas as máquinas que vendam comidas consideradas prejudiciais para a saúde e promoverei o hábito do consumo de alimentação saudável, nomeadamente através de venda directa de fruta. O bar estará aberto sem interrupções na hora do almoço e também será alvo de uma melhor selecção da sua oferta.
Referências bibliográficas
. COSME, Ariana; TRINDADE, Rui - Premiar o mérito: Porquê e para quê? Jornal a Página da Educação", ano 17, nº 182, Outubro 2008, p. 16.
· COSTA, Jorge A.; MENDES António N.; VENTURA, Alexandre (orgs.) – Liderança e Estratégia nas Organizações Escolares. Aveiro: Universidade Aveiro, 2000
· CRATO, Nuno – O “Eduquês” em Discurso Directo – Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista. Lisboa: Gradiva, 2006
· FERREIRA, J. M. Carvalho [et al.] – Psicossociologia da Organizações. Alfragide: McGraw-Hill, 1996
· JESUS, Saúl N. – Motivação e Formação de Professores. Coimbra: Quarteto Editora, 1996
· NÓVOA, António (org.) – As Organizações Escolares em Análise. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1992
· NÓVOA, António (org.) – Vida de Professores. Porto: Porto Editora, 1992
· REGO, Arménio – Liderança de Reuniões – Na Senda de Soluções Mais Criativas. Lisboa: Edições Sílabo, 2001
· REGO, Arménio – Liderança nas Organizações – Teoria e Prática. Aveiro: Universidade de Aveiro, 1998
RUIVO, João – Não se nasce professor - Jornal “Ensino Magazine”, Março 2009, p. 23.
· SECO, Graça M. S. Batista – A Satisfação dos Professores – Teorias, Modelos e Evidências. Porto: Edições Asa, 2002
· TEIXEIRA, Manuela – O Professor e a Escola – Perspectivas Organizacionais. Amadora: McGraw-Hill, 1995
TORMENTA, Rafael - Mérito, louvor e honra. Jornal a Página da Educação" , ano 17, nº 182, Outubro 2008, p. 10.
· VARGAS, Ricardo – A Arte de Tornar-se Inútil – Desenvolvendo Líderes para Vencer Desafios. Lisboa: Gradiva, 2005
Luís Filipe Firmino Ricardo (Maio-2009)