Uma critica à impossibilidade de isenção no que respeita à avaliação de desempenho entre membros da mesma comunidade e às consequências negativas que podem surgir com a atribuição institucionalizada de louvores
Já no tempo dos reis os juízes eram obrigados a rodar pelas comarcas impossibilitando a sua integração na comunidade a fim dos seus trabalhos serem o mais imparcial possível, ou seja, já se previam as naturais pressões por parte dos confrades. Na evolução de mentalidades durante alguns séculos chegámos às actuais comunidades escolares com posturas antagónicas a esse sensato facto histórico (surpreendentemente e com a ajuda duma politica educativa romântica). Assim, além de serem os próprios colegas de trabalho a se avaliar uns aos outros são também muitas vezes, por força dessa comunidade (neste caso educativa e exaltada frequentemente – fica bem em qualquer discurso) vizinhos, amigos e com relações muito próximas na vida privada. Está-se mesmo a ver, pelo menos ninguém conseguirá abstrair-se dessas desconfianças, que os mais comunitários (leia-se: mais amigos, naturalmente e sem qualquer censura) serão os que acompanharão o “juiz” nesse percurso glorioso.
Depois surgem os prémios de mérito aos alunos (e aos professores) numa sociedade democrática onde paradoxalmente se exaltam as individualidades que se destacam com as melhores classificações. Contraria-se deste modo a filosofia da escola moderna e democrática onde se deveria promover o esforço individual de cada um (Cosme e Trindade, 2008) mesmo sem se conseguir a melhor classificação (não pretendo dizer com isto que só o esforço deva ser suficiente para se atribuir a acreditação académica). Sabe-se também que estes prémios poderão provocar uma disputa entre membros do mesmo grupo ao invés de se criar um espírito de entreajuda (Jesus, 1996), como seria desejável. Assim, a grande maioria dos alunos sabe, logo à partida e com toda a certeza, que nunca chegará a esse prémio e, deste modo, não fará qualquer esforço suplementar para o conseguir, relegando esta institucionalização para mais uma inutilidade em termos pedagógicos onde só se destaca o efeito elitista. Parece-me então que esta “pirosice americanada” (faz-me lembrar o empregado do mês no McDonalds) não tem qualquer influência no desenvolvimento escolar de 99,9% dos alunos nem ajuda 99,9% dos professores a desenvolver a sua carreira.
Será legítimo premiar alguém que cumpra a sua obrigação ainda que o faça bem (Tormenta, 2008)? Será justo premiar alguém que faça algo de surpreendente se esse feito for realizado graças a competências adquiridas fora da comunidade que o homenageia?
Referências bibliográficas
. COSME, Ariana; TRINDADE, Rui - Premiar o mérito: Porquê e para quê? Jornal a Página da Educação", ano 17, nº 182, Outubro 2008, p. 16.
. JESUS, Saúl N. – Motivação e Formação de Professores. Coimbra: Quarteto Editora, 1996
. TORMENTA, Rafael - Mérito, louvor e honra. Jornal a Página da Educação" , ano 17, nº 182, Outubro 2008, p. 10.
Luís Filipe Firmino Ricardo (2008)