“Quivy” revisitado
Não iremos
aprofundar o procedimento nem as etapas da investigação sociológica, longe
disso. Também não exaltaremos a importância da rutura epistemológica que o(s)
investigador(es) deve(m) ter ao longo de todo o trabalho investigativo. Este
texto pretende somente apresentar uma crítica construtiva ao clássico “Manual
de Investigação em Ciências Sociais” dos autores Raymond Quivy e Luc Van
Campenhoudt, cuja primeira edição é de 1995, sem, no entanto, assumir a
importância que este livro teve e ainda tem para todos os estudantes da área.
(Depois, no terreno, orientadores e investigadores parece que se esquecem das
indicações que tanto enalteceram enquanto estudantes.)
Assim, a nossa proposta de alteração para as etapas de uma investigação sociológica, mais coerente com os trabalhos, é a seguinte:
1ª Etapa
– Problemática
Esta, para
nós, deve ser inequivocamente a 1ª Etapa. Como será possível alguém iniciar uma
investigação se não vislumbrar um problema?Nesta etapa o investigador deve delimitar o tema da investigação. Dentro da temática deve indicar o problema com potencial para ser melhorado, dito de outro modo, deve fazer uma abordagem ao problema que se observa e que o incomoda.
2ª Etapa –
Exploração
Não
conseguimos perceber como aparecem estudos que se iniciam sem primeiro passarem
por esta etapa. Ao deixarem esta etapa para o fim, sugere-nos a existência de
uma certa adulteração às regras de investigação sociológica (exceto se se
pretender fazer uma replicação de outro estudo). Aqui o investigador deve explorar a literatura sobre a matéria, balizada na Problemática, iniciando e aprofundando a fundamentação teórica do trabalho. Deve procurar saber o que já foi dito sobre o estudo que se propõe fazer. Deve também, se achar conveniente, fazer entrevistas exploratórias aos sujeitos de estudo definidos provisoriamente no sentido de verificar se existe, na realidade, o problema que se vislumbrou. Esta exploração, por exemplo, vai permitir elaborar com mais segurança as perguntas definitivas a colocar no inquérito por questionário e/ou no inquérito por entrevista na etapa da Observação. Igualmente vai ajudar a definir a Pergunta de Partida e as hipóteses no Modelo de Investigação.
3ª Etapa –
Pergunta de Partida
Não nos
parece ser possível poder elaborar-se uma Pergunta de Partida que direcione
todo o trabalho investigativo se não se vislumbrar antes um problema, e sem que
antes se tenha feito uma exploração sobre o que já foi dito/investigado sobre
esse mesmo assunto. Daí parecer-nos totalmente incorreto a Pergunta de Partida
ser considerada a 1ª Etapa.Assim, a Pergunta de Partida deve direcionar todo o trabalho investigativo. Deve ser Clara (precisa, inequívoca e concisa), Exequível (que possa ser respondida através da investigação) e Pertinente (que seja interessante sob o ponto de vista sociológico e que não nos remeta para um “sim” ou para um “não”).
(Exemplo de
uma pergunta de partida: Quais as razões da maioria dos estudantes masculinos do
9º ano de escolaridade da Escola Joaquim Oliveira, no ano letivo de 2018/2019, terem
ultrapassado o limite de faltas a todas as disciplinas durante o 1º Período?
Não existe qualquer equívoco sobre a existência de um problema, da motivação do
estudo, do que se pretende obter, da delimitação dos sujeitos de estudo, do
local e do que espaço temporal. Parece-nos também que a pertinência é evidente
e não vemos que possa existir qualquer entrave à concretização do estudo.)
4ª Etapa
– Modelo de Investigação
Nesta etapa
devem definir-se, além de realçar os objetivos expressos na Pergunta de Partida,
as hipóteses da investigação, ou seja, apresentarem-se os vários resultados
esperados suportados na Problemática e na Exploração. Dito de outro modo, as
hipóteses são vistas como respostas provisórias à Pergunta de Partida.É também a altura correta para se definir a forma como se vai abordar a investigação, ou seja, que métodos e técnicas se vão usar.
5ª Etapa
– Observação
Depois de se
escolherem os métodos e as técnicas na etapa anterior, aqui devem definir-se,
em concreto: o que se vai observar (reforçar, esclarecer e limitar o que foi
dito na Problemática e na Pergunta de Partida); em quem (definir as
características dos sujeitos de estudo e definir o universo conceptual, ou seja,
explicar, reforçar e indicar se se vai estudar a partir de uma amostra ou se se
estuda o universo todo); e como (preparar e/ou elaborar as técnicas de recolha
de informação que foram referidas na etapa anterior, por exemplo, definir as
perguntas a colocar nos inquéritos).
6ª Etapa
– Análise das Observações
Analisam-se
as informações obtidas na Observação, seja por análise estatística, e/ou por
análise de conteúdo,… consoante as técnicas definidas na etapa Modelo da
Investigação e preparadas na etapa Observação.
7ª Etapa
– Conclusões
Verificam-se
se as informações recolhidas correspondem às hipóteses avançadas anteriormente.
Apresentam-se aqui os contributos que o estudo gerou para o conhecimento.
Igualmente devem ser apresentadas as limitações e as sugestões para novos
estudos dentro da temática.Luís Ricardo (abrl-2019)