(AC) Validade da investigação ação

Uma reflexão sobre a delimitação dos conceitos relacionados


A validade de uma investigação costuma ser normalmente dividida em duas: a interna e a externa. A primeira, também chamada credibilidade (Coutinho, 2008), tem a ver com a correspondente coerência entre as conclusões do estudo e a realidade. Pode verificar-se através da replicação, ou seja, através da triangulação de investigadores e/ou triangulação de métodos e/ou técnicas. A segunda está diretamente ligada à generalização, ou à transferibilidade (idem), dos resultados, ou seja, à possibilidade de a partir das conclusões de um estudo se poderem aplicar em outro grupo alvo. Alguns autores, nomeadamente Elliot & Adelman (1976, cit. Lopes, 2003), procuram aligeirar estas desconfianças e dizem que as validades externas e internas asseguram-se através da triangulação de dados ou de estratégias múltiplas de pesquisas no terreno. A fiabilidade do estudo garante-se conseguindo-se obter os mesmos resultados através da replicação onde a sua grande ameaça é a maturação, ou seja, a mudança de comportamentos dos sujeitos em estudo. Parece-me então que uma forma satisfatória de assegurar a validade interna é através da verificação da fiabilidade. Surge ainda a fidelidade, ou precisão, que me parece poder significar o mesmo que fiabilidade e, ainda, a consistência que terá a ver com a possibilidade de outros investigadores poderem acompanhar o estudo, portanto muito próximo da fidelidade (Coutinho, 2008). Gostaria de realçar que muitos destes termos são usados pelos outros autores da bibliografia deste texto mas sem estarem tão carregados do significado que aqui apresento.

Bell (1997) faz somente uma diferenciação entre validade e fiabilidade ao afirmar que um método de investigação pode ter fiabilidade e não ter validade mas o contrário não se verifica. Para esta autora, à semelhança de outros, fiabilidade tem a ver com a replicação do estudo e validade, sem referir que é a interna, com a correspondência entre as respostas e o procurado. Procura-se que as conclusões sejam coerentes com a investigação, ou seja, verifica-se se o estudo “mede ou descreve o que supostamente deve medir ou descrever” (idem:88). De salientar que esta autora, à semelhança de Máximo-Esteves (2008), não faz qualquer referência às diferenças entre validade interna e validade externa. Carmo e Ferreira (1998), acrescentam que a validade interna pode ser assegurada utilizando o recurso da triangulação e que “a fiabilidade pode ser garantida sobretudo através de uma descrição pormenorizada e rigorosa da forma como o estudo foi realizado” (idem: 218).

Perante estes critérios de validade parece-me que, na sua generalidade, não existe validade externa na I-A e muito dificilmente se conseguirá provar a sua validade interna. Neste último caso, no que diz respeito à credibilidade, para se poderem colmatar as eventuais desconfianças terá de passar, na minha opinião, pela acreditação do investigador/profissional por parte da comunidade académica/científica (ver http://revistaensinareaprender.blogspot.com/2011/06/ac-investigacao-acao-natureza-e.html ).


Referências bibliográficas
·         Bell, J. (1997), em Como Realizar um Projecto de Investigação. Lisboa: Gradiva
·         Carmo, H., & Ferreira, M., (1998) Metodologia da Investigação - Guia para Auto-aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta
·         Coutinho, C. P. (2008). A qualidade da investigação educativa de natureza qualitativa: questões relativas à fidelidade e validade. Educação Unisinos 12 (1): pp. 5-15, janeiro/abril.
·         Lopes, A. (2003). Estudo Acompanhado: Espaço de Inovação e Reconstrução – Utopia ou Realidade. Porto: Universidade do Porto, (dissert. de mestrado policop).
·         Máximo-Esteves, L. (2008). Visão Panorâmica da Investigação-Acção. Porto: Porto Editora


Luís Ricardo (2011)