(AO) O que gostaria de saber (II)

O que pensarão os professores da avaliação docente?

O profissional professor tem de ser avaliado no seu desempenho. Parece ser a opinião generalizada do público. A recente mudança na forma de o tentar fazer denuncia uma vontade dos políticos em melhorar esse processo com o intuito aclamado de se obterem resultados mais justos, melhorar a qualidade na educação e provavelmente impedir a progressão de todos, naturalmente, sob uma visão economicista.
Na perspectiva de Mintzberg (1999) a organização Escola (unidade) pode incluir-se num modelo organizacional tipo “burocracia profissional” onde os elementos do centro operacional, ou seja, os professores, controlam o seu próprio trabalho. Retira-se também que é muito difícil avaliar os profissionais nesse tipo de organização, excepto no que respeita aos procedimentos administrativos e à actualização de conhecimentos. De facto, se fossem só estes dois itens a avaliar tornaria a avaliação docente muito fácil, pois tratam-se de critérios claramente objectivos. Também já se escreveu que a sala de aulas é vista como uma “caixa negra” do sistema (o professor Ricardo Vieira costuma(va) até dizer que é toda a Escola). Neste sentido, reconhece-se que não se consegue fazer uma justa e eficaz avaliação na observação de uma, duas, ou mesmo mais aulas, pois as aulas “não-observadas” são diferentes das “observadas”. Estas são mais teatrais e o observador não consegue disfarçar-se de armário a fim de não provocar constrangimentos e enviesamentos aos resultados dessa observação. Sabemos também que não temos profissionais formados para supervisionar os professores que se encontram no decurso da sua carreira (de notar que este tipo de supervisão a que me refiro, nada tem a ver com o significado que o termo sugere - ver, Alarcão e Tavares, 1987). Sabemos ainda que os professores mais experientes, os que normalmente são avaliadores, nem sempre (quase nunca) têm mais habilitações académicas ao nível científico e/ou pedagógico e/ou administrativo do avaliado. Que imbróglio!
Sabendo-se tudo isto, só não sabemos o que pensam os professores sobre a forma como querem ser avaliados. Qual será a melhor forma de avaliar os professores do 2º, 3º ciclo e secundário que se encontram no decurso da sua carreira na perspectiva dos próprios? Será que para eles a observação de aulas é eficaz/importante nessa avaliação? Será que querem ser avaliados na componente científica? E na pedagógica? E na administrativa/organizacional? E numa componente sócio-afectiva/participativa? E como querem ser avaliados em cada uma dessas componentes? Quais os itens? Quais os pesos em cada item? Ou preferem ser avaliados com base nos resultados escolares dos seus alunos? E com que referências? Os do ano anterior à mesma disciplina? E será que os professores concordam que o avaliador tenha habilitações inferiores a eles nas dimensões cientificas, pedagógicas, administrativas/organizativa e social/humana? Quem na opinião dos professores deve vestir a pele de avaliador (ou relator, ou supervisor,… o nome pouco interessa)? Quem deve progredir na sequência dessa avaliação? Como se deve progredir? E quando?
Sou professor e só conheço a minha opinião. Estas perguntas têm certamente respostas e, essas respostas, deveriam servir de base para se escolher o modelo concertado para a tão polémica e pouco eficaz avaliação docente.

Referências bibliográficas
· ALARCÃO, Isabel; TAVARES, José – Supervisão da Prática Pedagógica – Uma perspectiva de desenvolvimento e aprendizagem. Coimbra: Livraria Almedina, 1987
· MINTZBERG, Henry – Estrutura e Dinâmica das Organizações. Alfragide: Publicações D. Quixote, 1999

Luís F. F. Ricardo (2010)