Uma reflexão sobre a importância dos projectos na Escola
Existem alguns problemas na escola que me incomodam e que gostaria de contribuir para a sua resolução. Por exemplo, relativamente a um projecto que quase nunca está presente no vocabulário dos professores, que assumidamente pouquíssimos o analisam (ou mesmo lêem), mas que surge sempre quando, de alguma forma, pretendemos redigir um qualquer documento oficial. Refiro-me ao Projecto Educativo de Escola (PEE). Parece-me que ninguém acredita na sua importância, parece que ninguém tem tempo para a sua elaboração do modo que se exige, parece que os Encarregados de Educação (EE) não sabem que existe, parece que os seus conceitos se atropelam e misturam com os conceitos de outros projectos obrigatórios da escola. Esbarra também noutro obstáculo: a verdadeira comunidade educativa (a base da sua edificação), como a idealizam, não existe de facto uma vez que as “aldeias deixaram de existir” (não somente agora com o fecho destas centenas de escolas por todo o País). Por exemplo (não sou certamente um caso raro, pelo contrário), resido no Nadadouro, lecciono na Marinha Grande e a minha educanda frequenta uma Escola em Santo Onofre. Estas três freguesias ligadas por um segmento de recta fazem um perímetro de mais de 100 km. Qual será a minha comunidade educativa? A qual me devo dedicar no sentido da participação (outro conceito base, e folclórico, para a elaboração do PEE)? Além do contexto urbano não ajudar à implementação da chamada comunidade educativa, temos também de ter em conta o crescente aumento do ritmo de vida com o consequente e natural alheamento dos EE e, ainda, com a obrigatória soma relativa à mobilidade a que os professores estão sujeitos. Dá ideia que os termos surgem somente num sentido vago e florido necessário ao embelezamento de documentos.
Gostaria de saber, se fosse de algum modo possível, a real percepção e o real grau de importância que os professores e restante comunidade educativa (tal como é vista) têm da utilidade dos inúmeros projectos e documentos “orientadores” que uma escola é obrigada a possuir como por exemplo e sobretudo: Projecto Educativo de Escola, Projecto Curricular de Escola e Projecto Curricular de Turma. Gostaria de saber se, de facto, estes projectos são na realidade importantes e contribuem significativamente para a progressão e desenvolvimento escolar do aluno ajudando-o na sua formação, se ajudam os professores a desenvolver a sua carreira (uma vez que são eles os seus principais, provavelmente até os únicos, idealizadores e concretizadores), se promovem a participação da comunidade educativa nas actividades da escola, ou se, pelo contrário, não passam de trabalhos burocráticos sem (ou com pouca) utilidade não justificando o tempo e energia despendido. A percepção que tenho, como agente observador participante (nunca me excluí, naturalmente, deste estatuto), e atendendo à existência de um currículo nacional obrigatório com inúmeras orientações a que nenhuma escola pública se pode alhear, levar-me-ia a validar a última hipótese. Mas, dado a limitação que tenho no que respeita à observação de outras escolas e sobretudo tendo em atenção à insistência por parte dos responsáveis educativos na obrigatoriedade da elaboração desses documentos também me leva a ter algum cuidado nessa validação.
O interesse e curiosidade em procurar obter estas respostas são um dos combustíveis da minha motivação para a minha prática docente.
Luís Ricardo (2010)