(AC) Quem avalia quem?

As asserções de um investigador e as respectivas ilações

Muito me agradaria que fosse o professor João Ruivo (Director da Escola Superior de Gestão do Instituto Politécnico de Castelo Branco, Professor Coordenador da Escola Superior de Educação do IPCB e do Departamento de Ciências Sociais e da Educação, Presidente do Conselho Científico da Escola Superior de Gestão do IPCB, Presidente do Conselho Pedagógico da ESSE,…) a escrever directamente aqui. Só engrandeceria este espaço. No entanto, vou tentar transcrever as ideias principais dos seus alertas (Ruivo, 2008) estando certo que é um expert no que respeita à matéria que tem a ver com a relação entre avaliador e avaliado. Se de facto o que ele nos transmitiu não tem qualquer fundamento e que não deve ser levado a sério, então, acho que lhe devem ser retirados os títulos académicos e os cargos pelas barbaridades que escreveu. Se pelo contrário tem razão, se pelo contrário se deve dar atenção a uma pessoa com este currículo, então, parece-me que o actual modelo de avaliação docente deveria parar imediatamente ou, se isto que ele escreveu não vale nada, acabem com esta “coisa” chamada ciências da educação (sublinho “ciências”). Ninguém com as responsabilidades do professor escreveria “aquilo” se não tivesse a certeza. É que ele não “diz” o que lhe parece, “fala” categoricamente repetindo até as suas asserções várias vezes ao longo do texto.
Retiram-se assim as seguintes frases que deveriam provocar uma reflexão mais profunda naqueles que querem obrigar uns a avaliar outros que por acaso são os seus colegas de trabalho:
- “ Para avaliar professores requerem-se características pessoais e profissionais especiais, para além de uma formação especializada e de centenas de horas de treino (…).” – Será que os avaliadores neste modelo estão neste estado? Resposta: não.
- “Quem foi preparado para avaliar alunos não está, apenas pelo exercício dessa função, automaticamente preparado para avaliar os seus colegas (…)” – Pois, como é óbvio. Até pelas diferenças nos graus académicos dos intervenientes e pelas grandes diferenças das suas funções.
- “O avaliador (…) deve assumir todo o risco das consequências da sua acção”. – Esta é muito forte. Então vou “lixar” (existem cotas de progressão) os meus confrades que conheço há 20 anos cuja relação social ultrapassa em muitos casos a amizade funcionando até como suporte do meu equilíbrio emocional?
- “É necessário que (…) conheça as metodologias de treino de competências, os procedimentos de planeamento curricular (…)”. - Esta também é complicada uma vez que os actuais avaliadores, os mais velhos, são precisamente aqueles que têm menos formação no que respeita às pedagogias. Os cursos não estavam vocacionados para o ensino e poucos (ou nenhuns) avaliadores propostos têm um curso direccionado para a profissão de professor.
- “Para que uma avaliação tenha consequências, o avaliado não pode ter quaisquer dúvidas sobre o mérito do avaliador”. – Será que não têm? Resposta: provavelmente têm muitas. É que, também, quando votámos para coordenarem o nosso departamento ou grupo, não votámos para nos avaliarem. Se soubéssemos que isso iria acontecer, se calhar, a escolha seria outra.
- “O avaliador avalia o professor em vertentes tão diferenciadas quanto são o seu ser (…) enquanto pessoa”. – Só por esta acabaria imediatamente a avaliação dos professores dada a impossibilidade de se concretizar com rigor qualquer avaliação de carácter a resultar numa classificação.
- “Avaliar um professor é (…) uma tarefa muito, mesmo muito complexa”. – Eu sou daqueles que não me importo de ser avaliado neste modelo. Tenho tido a fortuna, ao longo da vida, de estar sempre no lado dos sortudos, faço por isso. E provavelmente penso que seria até um modelo que me beneficiaria em termos pessoais. Mas também penso que qualquer modelo que não se baseie simplesmente em acções concretas, nunca será um modelo eficaz, pois, só aqui nesta vertente objectiva é que se conseguirá uma verdadeira avaliação numa profissão em que não é possível separar o “eu pessoal” do “eu profissional”.

Referência Bibliográfica
RUIVO, João – Avaliar professores é fácil? - Jornal “Ensino Magazine”, Dezembro 2008, p. 23.


Luís Filipe Firmino Ricardo (Fev-2009)

(AO) Educação Sexual: mais uma proposta do eduquês

Uma crítica à introdução da disciplina na escola
Não se deve encontrar ninguém de bom senso que esteja contra a educação sexual nas escolas. Da mesma forma, serão nulos os que se insurgem contra a educação cívica no espaço escolar. O problema reside em parâmetros de organização curricular. Os defensores da chamada disciplina Educação Sexual não podiam encontrar melhor parceiro que este Ministério da Educação, o qual, como já abundantemente demonstrou, pouco entende de educação. E falo de educação no sentido puro do termo, isto é, na relação pedagógico-didáctica na sala de aula, nas redefinições curriculares ajustadas, no número de alunos por turma, nos programas disciplinares, na incoerência de aspectos tão simples como os níveis de um a cinco no terceiro e segundos ciclos do ensino básico, na excessiva carga horária dos alunos, no disparate das áreas curriculares não disciplinares, etc. Ora, é precisamente neste último ponto - a invenção de novos parâmetros disciplinares - que se enquadra esta nova disciplina de Educação Sexual, a qual já se encontra vertida em letra de lei. Daniel Sampaio, o grande orientador desta vertente escolar, salientou que a introdução da disciplina no currículo escolar se encontra dois anos atrasada (!). Infelizmente, para além do habitual cliché dos países civilizados, os quais supostamente já aderiram a estas novas orientações programáticas, o psicólogo não justificou a essência da sua afirmação.
Vejamos o meu desacordo. Na base curricular do Ensino Básico em Portugal, existe uma disciplina que tem o seu início no segundo ciclo do Ensino Básico e que se chama Ciências da Natureza. Neste sentido, basta reflectir um pouco nos objectivos que o programa considera para facilmente reconhecermos que a educação sexual é uma temática transversal à disciplina. Anoto dois: "reconhecer que a sexualidade humana envolve sentimentos de respeito por si próprio e pelos outros; identificar transformações que ocorrem no organismo durante a puberdade". Para além disso, os alunos do segundo ciclo do ensino básico têm que reconhecer termos/conceitos como "caracteres sexuais primários e secundários; órgãos sexuais masculinos; órgãos sexuais femininos; óvulo; espermatozóide, fecundação". Ora, como tenho a certeza que estes termos não são transmitidos, pelos professores da disciplina, de forma unidireccional (sei de alguns professores que levam - e bem - preservativos para as salas de aula), deduzo sem grande esforço que, neste ciclo de ensino, se inicia uma verdadeira iniciação sexual (o pleonasmo é propositado).
Passemos para o terceiro ciclo do ensino básico. Aqui o âmbito da educação sexual, ao nível da mesma disciplina (Ciências da Natureza), é mais alargado e responsabilizado. Com efeito, termos como "conhecer as bases morfológicas e fisiológicas da reprodução humana", convivem saudavelmente com os ciclos ovários e uterinos, com as condições necessárias à ocorrência da gravidez, e também com os vários métodos de contracepção e da prevenção de infecções de transmissão sexual (sida, herpes, hepatite b).
Assim, as questões que necessariamente se colocam são várias: para quê a criação de (mais) uma disciplina? Não será a sexualidade uma matéria transversal a todas as disciplinas do currículo? Por que razão não pode o professor de História ou de Língua Portuguesa abordar, numa perspectiva ética, a educação sexual? Não seria mais coerente alterar a carga horária da disciplina de Ciências da Natureza para que os professores possam desenvolver (ainda mais) este tema?
Repito o que disse inicialmente: os defensores de mais esta aberração curricular não podiam ter melhor perfil de acolhimento do que o actual e desnorteado Ministério da Educação. Acontece que andamos há já muitos anos em experimentações absurdas, incoerentes, demagógicas. Então quando a nebulização de eleições começa a ganhar contornos de uma visibilidade crescente, não há, de facto, terreno mais propício e fecundo para mais um ensaio emproadamente pedagógico. Tudo em nome do eduquês, é claro. E da nação.

José Ricardo (Fev-08)

NOTÍCIAS

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“Duas escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico de Espinho passaram a ter, desde ontem, aquelas que são as mais modernas salas de aulas do país e mesmo do mundo, no que às novas tecnologias diz respeito. Tudo porque a empresa Microfil transformou, a custo zero, quatro salas de ambas as escolas, a EB1/JI Espinho n.º 2 e a Escola da Seara, na freguesia de Silvalde, em espaços verdadeiramente interactivos e digitais com a aplicação do chamado Projecto Camões”.
JN (03-Mar-2009)
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“Escolas estão a dispensar professores dos objectivos. Os presidentes dos conselhos executivos das mais de 200 escolas que se opõem ao actual modelo de avaliação estão a dispensar da entrega de objectivos individuais os professores que ainda não o fizeram. Isto apesar de os fundamentos da decisão estarem ainda longe de ser consensuais”.
DN (02-Março-2009)
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“Sucessivos casos de violência levaram a Escola Básica dos 2º e 3º ciclos Ruy Belo, em Monte Abraão, Sintra, a adoptar medidas radicais. Numa reunião geral de professores, realizada dia 18, decidiu-se que os docentes passam a patrulhar a escola, em regime de voluntariado”.
Correio da Manhã (26-Fev-2009)
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"Os 138 processos que o MP tem entre mãos incluem agressões violentas contra professores e alunos no espaço dos estabelecimentos de ensino. E reflectem uma média de quase um caso por dia - dividindo este número pelos 180 dias de aulas do ano lectivo".
DN – 23-Fevereiro-2009
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“Presidentes de Conselhos Executivos denunciam “pressão” do Ministério da Educação (…) Barbosa Ribeiro, a docente que este mês foi escolhida para porta-voz dos 212 presidentes dos conselhos executivos que contestam a avaliação dos professores, Isabel Le Gué, interpretou hoje como “uma forma de pressão” e “uma manobra intimidatória” a mensagem de correio electrónico enviada pela Direcção Regional de Educação do Centro (DREC) para escolas daquela área do país, em que se pergunta qual “a posição da Comissão Executiva relativamente aos docentes que não entregaram os Objectivos Individuais”.Público 18-Fevereiro-2009
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“Os professores do Agrupamento de Escolas Território Educativo de Coura decidiram cancelar a quase totalidade das actividades previstas para este ano lectivo que envolvam a comunidade ou que impliquem qualquer deslocação”.
Confap on-line (17-Fev-2009)
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